terça-feira, 28 de agosto de 2012

António José Seguro pode restaurar a RTP?

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Sobre o que António Borges disse da concessão da RTP não vale a pena gastar teclas. Desde logo foi claro que estava a fazer de lebre do governo, novamente a deitar barro à parede com uma proposta estapafúrdia. Contos do vigário à frente de todos e em câmara lenta levam os actores a fazer figuras tristes.

Lateralmente produziram-se coisas interessantes; a principal, que mais à esquerda ninguém ousa usar (não vão chamar-lhe sócretino) é a declaração de Seguro, disse ele: “Eu quero ser muito claro, quando o PS for governo voltará a existir um serviço público que seja prestado por uma televisão pública com uma gestão rigorosa e que sirva os interesses nacionais”.

Seguro matou o formato divulgado. Sabe que há uma geração mais nova dentro do PS, que não está para carregar a culpa de Sócrates e que quer ser oposição de facto. Quando há apelos públicos de gente de esquerda ao “patriotismo” do CDS, não reconhecer o acto político de Seguro é duplo complexo.

Ao governo resta tentar blindar a negociata, o que não é fácil sem ser acusado no acto, ou mais tarde, de gestão danosa de bens públicos. 

Se à esquerda ouve um silêncio complexado, a direita mandou a tropa para as caixas de comentários; caixas de facturação virtual e imaginadas sondagens da opinião pública. Os comentadores de serviço fizeram o resto.

Por exemplo, o director da TSF, Paulo Baldaia, disse num dos canais de TV, algum semelhante a isto “ lá está o PS a dizer que vai desfazer o que este governo está a realizar, é sempre a mesma coisa, cada governo destrói o que o anterior fez e isso não pode continuar”.

Quando as coisas estão como desejamos não há como parar a história, pois é, a democracia é uma chatice. Se Baldaia, e outros, olhassem para a América Latina viam que o neo-liberalismo não é o fim da história, nem qualquer outro sistema.

Que raio de conceito têm da democracia; um partido privatiza porque está no seu programa e foi o mais votado e a partir daí nenhum partido pode apresentar-se ao eleitorado propondo o contrário? Para que se fazem então eleições? Como a democracia portuguesa não vai estar suspensa pela troika eternamente, o melhor é tentarem adaptar-se à vida democrática.

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2 comentários:

Paulo Rato disse...

Se o “projecto Borges” se concretizar (e é contra ISSO que importa lutar, AGORA), a experiência diz-me que o PS, que já teve várias "renovações", novas gerações e bastas oportunidades não aproveitadas de confrontar o neo-liberalismo do PSD, não me dá grandes garantias. O PS permitiu que o Armando Vara inventasse a Portugal Global, que abriu caminho ao ataque do Governo Durão Barros. O PS não combateu o que restou desse ataque, bem pelo contrário, prosseguiu com a unificação da RDP e RTP, com a primeira a ser arrastada para o mesmo barco que o PSD quer afundar, através da manobra da alteração de nome das "taxas" e seu aumento, pela calada. O PS substituiu uma administração competente (embora eu discordasse dos seus objectivos gerais, em cumprimento das ordens do "accionista barrosal", tenho de concluir que, dentro desses condicionalismos, dificilmente poderia fazer melhor e terá conseguido, mesmo, limitar os danos) por um CA incompetente, abertamente respeitador do estilo do governo actual (agora é que parece ter acordado, mas deve ser por causa de algum sobrinho): tal como este ultrapassa as recomendações da tróica, também o CA leva mais longe as "medidas governamentais" (das quais escapam uns tantos familiares e amigos, recompensados das "perdas" por promoções, etc.). O Arquivo, que eu dirigi, tem actualmente uma verba anual para aquisição de CDs de... €0! Se ainda estivesse lá, não só duvido que tal acontecesse (aliás, a verba nem passava de uns 600€/ano!), como suspeito de que o vidro da secretária do Sôr presidente ou do administrador do pelouro, se fosse o caso, permanecesse inteiro. Trata-se de uma bagatela, cuja indisponibilidade só serve para - “en épatant le bourgeois”… - agravar um crime cultural. Pelo que, anunciarem que a RTP tem “resultados positivos” de milhões, perante isto e outros disparates (como negligenciar a conservação e recuperação do património - para continuar a falar só da minha área -, outro crime, por omissão, que se está a cometer, para “poupar”), não me comove minimamente.

Paulo Rato disse...

(cont)
Entretanto, o PS cozinhou, com o PSD, uma ERC só para eles - e, se a primeira “composição” ainda era aceitável e com alguma qualidade intelectual, nesta segunda, dominada pelo PSD, só se safa o Arons, o resto sendo pura mediocridade clientelizada -, bem como uma composição do Conselho de Opinião da RTP que, em nome de reduzir o “peso político” entre os seus membros, só o aumentou e fortemente!
Quando o PS chegar ao Governo, no caso de deixarmos esta vigarice consumar-se, já a “entidade privada” despediu trabalhadores, alterou conceitos de programação, alienou património material e destruiu património histórico, reduziu o SP (em nome do próprio SP, pois!) à quase inexistência e a uma audiência residual. Ora, para cumprir a sua missão de defesa da Democracia e da liberdade de expressão, o SP de rádio e televisão tem de ter, hoje (não há 50 anos atrás!), canais generalistas, com programas de entretenimento, por vezes com algumas concessões ao “gosto popular” (sem esquecer que tal “gosto” só se altera significativamente com a intervenção decisiva que o ensino está muito longe de conseguir fornecer) e, até, alguns anúncios!, pois só assim conservará uma audiência que permita que essa missão - nomeadamente, no que toca a dar voz a minorias de diversos tipos e a perspectivas de abordagem de acontecimentos e ideias que, para os privados, “não correspondem aos SEUS critérios jornalísticos” - atinja uma eficácia aceitável (o SP “não trabalha” para as audiências, mas nestas coisas não há dogmas, há que analisar as questões com experiência, conhecimento, inteligência e capacidade de resposta para as grandes questões que a sociedade coloca e saber o que é, de facto, SP (precisamente o contrário da “definição” do assessor Borges…): se se pretende apenas uma programação para “elites” - culturais, não coincidentes com as económicas -, cagando para a ignorância da plebe (como parece ser o ideal do militante V. G. Moura, um génio que estupidifica quando se trata de política), o que mui interessa aos poderosos, então basta a anunciada “ressurreição” da RTP2 e mais uns indefinidos pózinhos; se se quiser, de facto, servir o povo e o País, esse “grande feito a realizar” não passará de fogo-de-artifício para, mais uma vez, ofuscar a compreensão dos cidadãos.
Enfim, mas pode ser que, um dia, uma versão do PS (e este Seguro deixa-me assaz inseguro…) me surpreenda.
Para já há que tentar, por todos os meios, impedir que o crime de lesa-pátria de entregar mais um sector fundamental do Estado a privados, muito provavelmente estrangeiros (angolanos, chineses, brasileiros?). A começar por garantir a esses senhores que, sem SP nas mãos do Estado Português, a “contribuição para o audiovisual” acabou: não se pagam impostos a privados! Continuando com o debate e apoio a visões não restritivas e elitistas do que é o SP, como já tropecei com algumas. Denunciando a propaganda governamental para diabolizar o que é público e endeusar o privado; com contrapropaganda, igualmente insistente, sem descanso, não permitindo (como já aconteceu) que a mentira se entranhe na mente das “audiências”.