quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Anunciada taxa solidária. Cortes na despesa ficam para mais tarde.

Ajustamentos por via dos impostos Ago2011


O governo deu hoje mais uma conferência de imprensa para anunciar os “cortes históricos na despesa”, e nada. A montanha pariu mais um rato. O soporífero ministro Vítor Gaspar afinal não especificou os já famigerados cortes; lá para o Orçamento de Estado se saberá. Se sabiam isso antes da prelecção à nação porque deixaram toda a gente convencida que era hoje? Não foi, e já se percebeu que o governo está desorientado.

A história dos cortes na despesa já começa a ser uma história anedótica, aliás pré-história; é conversa que vem do tempo em que PSD/CDS estavam na oposição. Já se sabia que os argumentos de oposição não são válidos quando se governa, mas o que não se esperava (mesmo os seus apoiantes) era tanta impreparação para governar. Proliferam os grupos de estudos (grandes negócios) para tudo e por nada, (seria bom e transparente saber-se quanto custam ao Orçamento de Estado esses “grupos de trabalho”) mas resultados visíveis nada e surpreendentes ainda menos.

O grosso da despesa, como todos sabiam, são vencimentos e prestações sociais, cortes aí é nas pessoas e não no Estado. A redução de funcionários públicos por aposentação não pode ser calculada como o governo faz, muitos dos que saírem terão de ser substituídos; é uma impossibilidade matemática a aposentação (que é voluntária) ser só daqueles que não fazem falta nos serviços.

A anunciada taxa de solidariedade sobre os dois mais altos escalões de IRS dará perto de 100 milhões euros, dinheiro que o governo diz que é para os necessitados. Não é rigoroso, é para o bolo das receitas donde, por exemplo, João Jardim vai buscar cinco fatias de 100 milhões de euros para tapar o buraco da Madeira. Vítor Gaspar também disse que está tudo bem com as autoridades da Madeira e vão fazer um plano como o do Estado português com a troika. As televisões têm de ter o cuidado de não pôr o Dr. Alberto João no mesmo alinhamento do ministro das finanças, não dizem nada parecido.

Para além da fé repetida na estabilidade financeira, na consolidação orçamental e nas modificações estruturais o que Vítor Gaspar disse não é novidade. Deixou uma mensagem para os portugueses que abominavam os PECs por causa dos aumentos de impostos, e cito, “ em 2012 vai ser preciso um esforço adicional e ir além do Memorando de Entendimento”.
Para bom entendedor…!

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Canal russo demonstra que vídeo da tomada de Tripoli é montagem.



O canal russo RT demonstra, que a tomada da Praça Verde de Tripoli por manifestantes afectos às forças de Benghazi é uma montagem. As imagens, que correram mundo, terão sido realizadas no Qatar com a participação de actores profissionais. As cadeias de televisão árabes Al Jazeera e Al Arabiya encarregaram-se de as distribuir. A operação de maquilhagem das notícias, que terá dado vantagem aos rebeldes, porque foi nessa ocasião que “informaram” da prisão do filho de Kadhafi, Saif, levou este a aparecer junto ao hotel onde estava a imprensa internacional.

Para quem não sabia, é o dia a dia das coberturas “jornalísticas” dos conflitos bélicos.
O melhor é primeiro duvidar depois duvidar e por fim continuar a duvidar. Já li que na Síria navios estão a bombardear civis, e no início do conflito na Líbia havia ataques de Kadhafi contra manifestantes civis, com armas pesadas dentro de Tripoli; os trabalhadores portugueses que vieram de Tripoli na altura disseram na chegada à Portela que não deram por nada. Eram com certeza armas pesadas com silenciador.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

António José Seguro desafia a mosca do sono?

tsé-tsé-rosa

O secretário-geral do PS tem ar de não fazer mal a uma mosca, talvez por isso tenha atraído alguma, do tipo tsé-tsé; não parece ser caso único pois os partidos da oposição para além de sonolentos foram dormir longe. Estão a ser tomadas medidas lesivas para quase todos os portugueses (não chegam aos mais ricos) e a oposição partiu para parte incerta.

Ontem, na Madeira, António José Seguro resolveu pedir esclarecimentos a Passos Coelho sobre “quem paga a irresponsabilidade” da dívida da Madeira. Disse, “O PSD – Madeira pôs a Madeira na bancarrota, tem um buraco colossal, gaba-se disso e pede que sejam todos a pagar a factura da sua irresponsabilidade.” O tom do discurso surpreendeu e deve ter acordado o próprio António José Seguro.

O problema é que na Madeira estes discursos são fáceis, até Paulo Portas foi lá arranjar uns pontinhos para negociar a “diplomacia económica” que está a fugir do seu ministério.

A Madeira é a ilha da ameaça, do agarrem-me senão faço isto ou aquilo, é o PS a ameaçar fazer oposição, Portas a ameaçar desestabilizar a coligação governamental, e João Jardim a ameaçar com a independência da Madeira, fanfarronices.

A ausência, inexistência de facto, de partidos de oposição, embora os contribuintes paguem para que eles exerçam oposição (é a verdade), está a deixar o governo de mãos livres para fazer o que lhe apetece sem critica ou denúncia. Quando os cidadãos resolverem contestar as medidas que os afectam, não faltarão partidos solidários a colarem-se aos protestos.

O sistema partidário e a democracia representativa tal como ela é praticada no nosso país não são sequer satisfatórios, há que inventar novas formas de participação cívica e fortalecer organizações sociais e de defesa dos direitos dos cidadãos, não só os sindicatos, (que precisam ser mais independentes dos interesses partidárias) que os problemas não são apenas no trabalho, mas outros interesses comuns.

Um desses interesses comuns é por exemplo a privatização das águas já agendada pelo governo. Urge uma grande organização unitária e sem controlo partidário, que junte população de todas as origens contra a intenção do governo. É necessário reunir os embriões numa frente comum pelo bem público. Não é de esquerda nem de direita, há portugueses de todo o lado dispostos a defender a água pública. O mais difícil é começar a agregar essas vontades, falta o pontapé de saída – matar a mosca do sono!

domingo, 28 de agosto de 2011

Camila Vallejo. Dirigente estudantil ameaçada de morte.


Funcionária do governo chileno pede no twitter o assassinato da líder dos estudantes chilenos, Camila Vallejo. Tatiana Acuña, secretária executiva do Fundo do Livro, que pertence ao Ministério da Cultura, usou na rede social a frase; “ Se mata a la perra y se acaba la leva…” o que traduzido para um dos nossos provérbios seria “mata-se a cadela e acaba-se com a raça”. Já antes ameaças de morte andavam pelas redes sociais, e dados pessoais eram replicados pelo twitter, numa tentativa de amedrontar os jovens, que há meses reivindicam nas ruas a reforma do sistema de ensino.

Camila Vallejo, de 23 anos, tratada como “musa” na comunicação social, devido à sua beleza, é uma estudante de geografia da Universidade do Chile, e actual presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (FECh). É a porta-voz dos estudantes nos protestos que estão a abalar o Chile. Em Junho manifestaram-se 400 mil. Estudantes e Universidade exigem do Estado um sistema educativo público e de qualidade.

A última 5ª feira foi o pior dia de repressão policial desde que há 20 aos se derrubou a ditadura de Pinochet. O governo tinha proibido a manifestação no centro de Santiago do Chile, mas os estudantes encheram a cidade com os seus protestos. Um jovem veio a falecer após ter sido atingido com um tiro no peito disparado pela polícia, outro estava em risco de vida, também atingido num olho com um tiro.

Terão participado nas manifestações que se alargaram a outros lugares cerca de 600 mil pessoas. Tiveram a adesão da Central Única dos Trabalhadores (CUT), a maior organização sindical do país.

Sebastián Piñera, o presidente eleito pelo partido Renovación Nacional de centro-direita, está a sofrer grande contestação; tendo “o pior índice de avaliação desde o retorno à democracia em 1990”, (de 1973 a 1990 o Chile viveu sob o regime ditatorial de Pinochet).

Sobre as reivindicações estudantis (uma sondagem deu 80% dos inqueridos como apoiantes das pretensões dos estudantes) o melhor é ouvir Camila Vallejo, no vídeo onde passam algumas das suas entrevistas. Para além de ser muito bela, é portadora de ideias bem definidas e arrumadas sobre o que quer a sua geração, uma geração que luta com coragem num ambiente repressivo e ameaçador.

PS. Já em Janeiro, manifestações do povo chileno contra o aumento do gás (em 17%, como em Portugal) tinham bloqueado estradas e aeroportos. Foi no Chile…!

sábado, 27 de agosto de 2011

Camila Moreno - MILLONES.

Porque hoje é Sábado, um vídeo - a canção “Millones”, de Camila Moreno, censurado pela Chilevision (porquê?).
Um sinal do estado da actual “democracia chilena”.

O próximo post será sobre outra CAMILA, a líder dos estudantes do Chile; – Jovens, mulheres jovens, na primeira linha da luta por outro tipo de democracia no Chile. Censurar este vídeo porquê? Teríamos de recuar à nossa censura de antes do 25 de Abril para entender. Os mais velhos lembram-se. A nossa solidariedade ao povo chileno e à sua juventude que luta por um futuro mais digno.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Síria. A situação é mais complexa do que parece.

SíriaAgo2011


A situação interna na Síria não é clara; manifestações populares reprimidas tendo causado muitos mortos, ou operações militares contra grupos armados que querem provocar um clima de tensão e violência? Provavelmente aconteceram as duas coisas, a aceitar os relatos facciosos a que temos direito.

Para melhor entender a envolvência deste novo conflito que já tem 5 meses, teríamos de ir à história da Síria e a sua relação com a Turquia, o pan-arabismo do partido Bass, o conflito palestiniano e a guerra com Israel, o Hamas, o Hezebollah, o Líbano, os Estados do Golfo e a Arábia Saudita com os acordos com a NATO, e a “primavera árabe” de flores de campa, semeadas pelos Estados Unidos e a Europa para colher frutos imperiais. Mas como seria longo, só um alerta.

Não falta gente a propagar que a situação na Síria está madura para uma intervenção externa. Seria uma aventura que poderia levar a uma guerra que ultrapassaria o âmbito regional. Ao contrário da Líbia, isolada do mundo árabe e das potências mundiais, com relações privilegiadas com a África sem capacidade militar, ou acordos de defesa mutua; a Síria tem desde 2010 um tratado com o Irão de colaboração militar e defesa, e a Rússia tem uma base naval no noroeste do país. Além disso faz fronteira com Israel (ainda em guerra devido aos Montes Golan), Líbano, Jordânia, Turquia e Iraque, lenha seca à espera de fósforo.

Ao contrário da Líbia, entalada entre os países do Magreb e o Egipto, e em cunha por África, a Síria está no centro do vulcão do médio oriente. Estabilidade política regional ou instabilidade passa pela Síria, como passa também o fundamental vale do Eufrates e os trajectos principais dos gasodutos e oleodutos. A Rússia dispõe de mísseis hipersónicos cuja disponibilidade torna impraticável os voos da NATO. A recente noticia posta a circular sobre o fornecimento russo dos mísseis S-300 à Venezuela para posterior entrega ao Irão, faz lembrar a crise dos mísseis de Cuba/1962. Andam a brincar com o fogo.

É necessário denunciar a escalada bélica que os papagaios da comunicação social difundem, preparando o clima emocional para a intervenção militar arrogante, em países soberanos, sob a pretexto da defesa dos direitos civis e da democracia.

As imagens que vejo na televisão, de cadáveres de líbios com as mãos atadas atrás das costas, não são a expressão dos direitos humanos.

O intervencionismo, à revelia ou não da ONU, está a somar casos de barbárie perpetrados por países ditos civilizados. O belicismo como solução de problemas políticos não pode continuar.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Boaventura de Sousa Santos. Carta às esquerdas.

Século XX

Carta às esquerdas - de Boaventura de Sousa Santos


Não ponho em causa que haja um futuro para as esquerdas, mas o seu futuro não vai ser uma continuação linear do seu passado. Definir o que têm em comum equivale a responder à pergunta: o que é a esquerda? A esquerda é um conjunto de posições políticas que partilham o ideal de que os humanos têm todos o mesmo valor, e são o valor mais alto. Esse ideal é posto em causa sempre que há relações sociais de poder desigual, isto é, de dominação.
Neste caso, alguns indivíduos ou grupos satisfazem algumas das suas necessidades, transformando outros indivíduos ou grupos em meios para os seus fins. O capitalismo não é a única fonte de dominação, mas é uma fonte importante.

Os diferentes entendimentos deste ideal levaram a diferentes clivagens. As principais resultaram de respostas opostas às seguintes perguntas. Poderá o capitalismo ser reformado de modo a melhorar a sorte dos dominados, ou tal só é possível para além do capitalismo? A luta social deve ser conduzida por uma classe (a classe operária) ou por diferentes classes ou grupos sociais? Deve ser conduzida dentro das instituições democráticas ou fora delas’ o estado é, ele próprio, uma relação de dominação, ou pode ser mobilizado para combater as relações de dominação?

As respostas opostas a estas perguntas estiveram na origem de violentas clivagens. Em nome da esquerda cometeram-se atrocidades contra a esquerda, mas, no seu conjunto, as esquerdas dominaram o século XX (apesar do nazismo, do fascismo e do colonialismo) e o mundo tornou-se mais livre e mais igual graças a elas. Este curto século de todas as esquerdas terminou com a queda do Muro de Berlim. Os últimos 30 anos foram, por um lado, uma gestão de ruínas e de inércias e, por outro lado, a emergência de novas lutas contra a dominação, com outros actores e linguagens que as esquerdas não puderam entender. Entretanto, livre das esquerdas, o capitalismo voltou a mostrar a sua vocação antissocial. Voltou a ser urgente reconstruir as esquerdas para evitar a barbárie. Como recomeçar? Pela aceitação das seguintes ideias:

1) O mundo diversificou-se e a diversidade instalou-se no interior de cada país. A compreensão do mundo é muito mais ampla que a compreensão ocidental do mundo, não há internacionalismo sem interculturalismo;

2) O capitalismo concebe a democracia como um instrumento de acumulação, se for preciso, redu-la à irrelevância e, se encontrar outro instrumento mais eficiente, dispensa-a (o caso da China). A defesa da democracia de alta intensidade é a grande bandeira das esquerdas;

3) O capitalismo é amoral e não entende a conceito de dignidade humana; a defesa desta é uma luta contra o capitalismo e nunca com o capitalismo (no capitalismo mesmo as esmolas só existem como relações públicas);

4) A experiência do mundo mostra que há imensas realidades não capitalistas, guiadas pela reciprocidade e pelo cooperativismo, à espera de serem valorizadas como futuro dentro do presente:

5) O século passado revelou que a relação dos humanos com a natureza é uma relação de dominação contra a qual há que lutar; o crescimento económico não é infinito;

6) A propriedade privada só é um bem social se for uma entre as várias formas de propriedade e se todas forem protegidas, há bens comuns da humanidade (como a água e o ar);

7) O curto século das esquerdas foi suficiente para criar um espírito igualitário entre os humanos que sobressai em todos os inquéritos, este é um património das esquerdas que estas têm vindo a dilapidar;

8) O capitalismo precisa de outras formas de dominação para florescer, do racismo ao sexismo e à guerra e todas devem ser combatidas;

9) O Estado é um animal estranho, meio anjo meio monstro, mas, sem ele, muitos outros andariam á solta, insaciáveis à cata de anjos indefesos. Melhor estado, sempre; menos Estado, nunca.

Com estas ideias, vão continuar a ser várias as esquerdas, mas já não é provável que se matem umas às outras e é possível que se unam para travar a barbárie que se aproxima.
In Visão 2011-08-25

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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Líbia. Que futuro?

 

A Líbia, como a conhecíamos antes do conflito em curso, já não existe nem existirá jamais. O futuro será outra civilização. O facto de aqueles que estão a tomar o poder (por agora), o Conselho Nacional de Transição (CNT), ter nos mais altos cargos ex-companheiros de Kadhafi – a saber: Mustafa Mohamed Abdul Jalil (ex-ministro da justiça), Omar Al Hariri (companheiro desde sempre, participou na revolução de 1969), Mahmoud Jebril (ex-ministro dos assuntos externos), Ali Issawi (ex-ministro da economia) quer dizer que responsáveis pela política do governo de Kadhafi vão “ajudar” a definir a política de transição conjuntamente com os radicais islâmicos, berberes e as potências ocidentais “ocupantes dos bens materiais da Líbia”. As tribos, base da organização política líbia dificilmente terão razões para se unificarem.
Que daqui resulte qualquer tipo de democracia é algo que os observadores independentes têm sérias e justificadas dúvidas.

Para se compreender o que espera a Líbia é preciso conhecer um pouco da sua história e organização política. Como fiz um artigo sobre a matéria na data em que estava a ser constituído o CNT (Fevereiro) para o blogue Estrolábio, publico-o hoje aqui.
Terá continuação…

Segunda-feira, 28 de Fevereiro de 2011

Líbia. O risco de desmembramento. Guerra civil.

Não há actualmente informação independente sobre o que se passa na Libia mas sobram noticias. É difícil distinguir a contra informação, tendente a conquistar a opinião pública para os interesses em jogo, da realidade.

Desde o início da conflitualidade na Líbia, notícias veiculadas por fontes e rumores transformados em notícias, são desmentidas em seguida pelos factos; como o caso do ministro britânico William Hague, que há uma semana viu “informações de que Kadhafi ia a caminho da Venezuela”, ou bombardeamentos aéreos de manifestantes em Tripoli e fogo de armas pesadas, que os portugueses que de lá vieram desmentiram.

Juntando o que se tem dito e comparando com o que vai sendo confirmado, conclui-se que o mundo está sujeito a mais uma campanha de intoxicação, a lembrar as armas de destruição maciça, que Colin Powel, Durão Barroso, e companhia, “viram”.

A maneira de filtrar algumas das aldrabices, é conhecer um mínimo da história da Líbia e seus povos, da organização política e militar, e de Kadhafi.

Em breves notas, deixando a história anterior de outras ocupações; em 1914 a Líbia estava ocupada pelos italianos, durante a Primeira Guerra os líbios reconquistaram a maior parte do território, vindo novamente a perdê-lo para a Itália após a guerra, sendo integrada no reino de Vittorio Emanuel III de Itália em 1939. Vittorio tinha conduzido Mussolini ao governo, que entra na Segunda Guerra em1940. A Líbia é palco dos confrontos entre o Afrika korps do marechal alemão Rommel e os ingleses. Após a derrota das forças do Eixo, a Líbia passou a ser governada pelos ingleses na Tripolitânia (oeste) e na Cirenaica (leste) ficando a parte sudoeste de Fezzan na posse dos franceses. Aos governos militares dos aliados, e após aprovação da independência pelas Nações Unidas em 1 de Janeiro de 1952, sucedeu o líder religioso Idris al-Sanusi, emir da Cirenaica, coroado rei da Líbia

A monarquia despótica de Idris concedeu bases militares aos americanos que com os ingleses dominavam económica e militarmente o país. A líbia vivia do aluguer das bases militares, era pobre e antiquada. Com a descoberta de petróleo em 1961 abriram-se conflitos que haveriam de dar origem ao golpe que derrubou a monarquia.

Em 1969 os “oficiais livres” fazem um golpe de Estado, sem derramamento de sangue, contra o rei Idris. Kadhafi, “Guia da Revolução” e presidente do Conselho da Revolução lidera o novo regime.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Para Carlos Moedas as Eurobonds são um tema querido dos media. Mais nada?

CarlosMoedasAgo2011


Carlos Moedas, secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, disse hoje no Parlamento, que Portugal não tem uma posição oficial sobre as “Eurobonds”. Respondia a uma pergunta do deputado Fernando Medina sobre a posição do governo português em relação à emissão conjunta de divida europeia – as Eurobonds. Antes tinha classificado o tema (das eurobonds) como muito querido aos media…; assim como uma coisa que anda pelos jornais e televisões a tapar buracos.

As Eurobonds são uma questão central na discussão da crise das dívidas soberanas; na Europa e no mundo da “ciência” económica, mas para o governo “não se pode tomar, de todo, uma posição prematura”, disse Carlos Moedas.

O que se exigia do governo era uma atitude sobre um assunto que diz directamente respeito à situação portuguesa. Pois não toma, não quer tomar, ou não sabe tomar. Incompetência? Imaturidade? Ou não faz parte das funções do governo dizer qualquer coisinha que se ouça na Europa sobre o “tema querido dos media”. Fazer, fazia, mas é o governo que temos.

Carlos Moedas é o retrato duma certa competência, passa o tempo a autopromover-se como trabalhador esforçado, e isso deve ter funcionado nas empresas onde andou. No governo não basta isso, é preciso dar contas do que se anda a fazer, era o que a Comissão Eventual de Acompanhamento (do memorando da troika) no Parlamento queria saber. Soube que para promover o crescimento (!) acabaram as golden shares, e que apesar da contracção no primeiro semestre ter sido menor que o esperado, o governo mantém o cenário macroeconómico de recessão (2,2 % em 2011). “Não sabemos o que será o segundo semestre”, diz Carlos Moedas. Acredito que não façam ideia.

Carlos Moedas é um produto da Harvard Business School, com passagens pela Suez-Lyonnaise des Eaux, que ficou com as privatizações das águas públicas em vários continentes, esteve na Goldman Sachs, a do lixo tóxico da especulação imobiliária, numa empresa do grupo Deustshe Bank, e na Aguirre Newman até criar a Crimsom Investment Management que essencialmente procura e gere activos para o Grupo Carlyle. A fina-flor. Agora cansa-se no governo, penso eu porque telefona todos os dias ao FMI, como ele revela com orgulho. No fundo é um secretário permanente do FMI.

Será que Carlos Moedas, que não é alto, estará à altura da sua missão?
Eu acho que sim, desde que ponham o seu telefone numa mesa baixa.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Guerra da Líbia, a batalha de Tripoli e a prisão de Saif el-Islam.

Saif el-Islam ao El-Khabar

Líbios apoiantes do regime ainda resistem à ofensiva militar da NATO e das forças rebeldes. Os países da coligação já fazem a partilha dos bens naturais da Líbia. A progressão dos rebeldes até ao interior de Tripoli foi possível devido à intervenção directa de militares e serviços de espionagem dos países ocidentais, apoiados pelo bombardeamento aéreo da NATO.

Já em Março a Reuters noticiava que Barack Obama tinha assinado a ordem que autorizava a CIA a dar apoio directo aos rebeldes. Também, segundo a Reuters, foram mobilizados “dezenas de membros das forças especiais britânicas e agentes do MI 6”. O coronel francês Thierry Burkhard, confirmou que desde o início de Junho estavam a enviar armas para os rebeldes que actuam nas Montanhas Ocidentais da Líbia (reportagem do “Le Fígaro”).

Portanto já há muito que a resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU que autorizou a “zona de exclusão aérea”, e proibia o fornecimento de armas aos contendores, era letra morta. A suposta medida para proteger os civis líbios dos ataques do governo de Kadhafi, transformou-se em ataque indiscriminado contra o povo e os bens dos líbios que habitam as zonas sob administração do governo.

O que agora se passa não é completa surpresa como o demonstra a entrevista (abaixo) que o filho de Kadhafi, Saif, deu ao jornal El-Khabar da Argélia em 11 de Julho. Foi enganado pelos franceses, foi ingénuo ao pensar ser possível um Estado Moderno após o inicio da intervenção da NATO, mas já devia calcular que a ofensiva viria das Montanhas (com os franceses), enquanto a CIA operava no interior de Tripoli, guiando os bombardeamentos da NATO.

Numa coisa acertou, a TOTAL já assinou com o governo de transição a partilha do petróleo líbio, cabendo-lhe 35%. Os líbios vão pagar as bombas que lhes destruíram o país e mataram milhares de civis, com petróleo do melhor do mundo.

Sobre Saif el-Islam falaremos mais tarde até porque o Tribunal Penal Internacional quer a sua entrega para julgamento. Não é a figura que a propaganda dos vencedores diz, e alguma coisa disso mesmo é visível na entrevista.

A entrevista é transcrita do word-revolution.com (o português foi revisto em algumas partes pelo ClariNet)

El-Khabar: Começamos a nossa entrevista com aquilo que mais interessa à opinião pública

domingo, 21 de agosto de 2011

"Mona Lisa" roubada há cem anos.

Mona LisaAgo2011

Em 21 de Agosto de 1911 o quadro mais famoso de Leonardo da Vinci foi roubado do Museu do Louvre, tinha sido pintado cerca de 400 anos antes, retratando (muito provavelmente) a mulher de Francesco del Giocondo, figura política importante e rico comerciante de Florença.
A facilidade do roubo, a chacota pública sobre a segurança do museu e a publicidade da procura do ladrão, tornaram “A Gioconda” uma celebridade popular. Deve tanto ao roubo de há cem anos ter-se tornado num ícone, como ao sorriso dito enigmático.

A polícia procurou incessantemente sobre pressão do mundo da arte, detendo inclusivamente Apollinaire e Picasso como suspeitos de receptadores da obra. Eles tinham estado envolvidos num outro caso, umas estatuetas ibéricas que “vieram” do Louvre e serviram de modelo a “Les Demoiselles d´Avignon”. No fim de 1912 deram por terminadas as buscas, a “Mona Lisa” tinha-se esfumado.

O quadro haveria de aparecer em Novembro de1913 quando o ladrão pretendeu vendê-lo. O antiquário Alfredo Geri e o galerista Giovanni Poggi encontraram-se com um indivíduo e a “Mona Lisa”, num hotel, a policia deteve o ladrão à saída que confessou o roubo. Era um pintor da construção civil e vidraceiro, italiano de 32 anos, de nome Vincenzo Peruggia.

Vincenzo tinha trabalhado algum tempo no Louvre, fez inclusivamente o vidro para a moldura da “Mona Lisa”. Foi julgado em Itália e condenado a uma pena leve de um ano, depois reduzida para sete meses. De certa maneira terá pesado o patriotismo, Vincenzo convenceu o tribunal que pretendia a obra italiana em Itália e teve apoio popular no julgamento. A Grande Guerra estava a começar, Vincenzo integrou o exército italiano, e depois voltou a França onde abriu uma loja de tintas, um epílogo singular.

A “Gioconda” transformou-se num sucesso de bilheteira até aos dias de hoje; deve-o muito ao roubo de há cem anos e à popularidade aí conseguida. Nunca antes tinha tido a importância (turística) que passou a ter. Hoje temos livros de ficção e de estudo baseados no quadro, filmes e canções em vários idiomas, reproduções baratas e especulações para todas as crenças.

Mas há um fenómeno que só existiu há cem anos. O Museu do Louvre (que até aí não era muito frequentado) durante o tempo em que o quadro esteve desaparecido, teve filas para visitar a parede e o prego onde a “Mona Lisa” esteve pendurada. Uma forma curiosa de olhar.

Brasil é campeão do mundo de futebol Sub 20.

Vice Campeões do Mundo Sub 20 Ago2011

Brasil ganhou a Portugal (3-2). É Campeão do Mundo de Futebol Sub 20.

A selecção portuguesa de Sub-20 deu tudo o que tinha e mais um bocadinho; ficou perto da glória do título num jogo dramático pelo esgotamento dos jogadores.
É o momento de homenagear o comportamento de grande nível da nossa selecção jovem. Chegar à final ultrapassou todas as expectativas. Parabéns à equipa brasileira por mais este troféu ganho contra uma grande equipa. Assistimos a um bom momento de futebol que deixa muitas certezas para o futuro das nossas selecções

sábado, 20 de agosto de 2011

Martin Fröst. Que o ClariNet está em estágio.


Nem o Alberto João que quer aumentar (mais) o buraco colossal me tira do estágio.

A jogatina é às duas da matina, é fundamental dosear o descanso com a espertina.

Portugal 1 Brasil 0 - ou 4 a 3 - Tanto faz..!

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Merkel - Sarkozy, o dueto sem corda, a cada reunião mais perto da recessão.

EmpatasAgo2011


Os “Blues Brothers” (o Dueto da Corda) criaram uma banda para conseguir fundos para o seu antigo orfanato, ameaçado de despejo. O dueto Merkel/Sarkosy, a cada concerto que dão, os europeus sentem-se mais órfãos de líderes e mais perto de serem despejados para pior nível de vida.

Não sai nada de jeito das cimeiras bilaterais franco-alemãs, é o resumo de todas elas incluindo a desta semana, mais uma para discutir a “crise das dívidas soberanas europeias”. Medidas impraticáveis e reforma das instituições de consensos impossíveis; nada que traga calmaria aos mercados. Merkel e Sarkozy com eleições à porta, vão continuar a empatar, o tempo não está de feição para esse comportamento.

Os efeitos da ausência de liderança europeia sentem-se globalmente, as perspectivas económicas são de degradação mundial com o receio de recessão na Europa e nos Estados Unidos; pânico nas bolsas, perdas nos mercados das matérias-primas e recorde do preço do ouro – são os sintomas de doença da economia de mercado. O capitalismo vai mal.

Até na Alemanha e na França o crescimento é raquítico, perto da estagnação. A crise na Europa (com estes políticos) não vai ficar pelos países da periferia, ameaça atingir os países ricos e os próprios especuladores, como já se começa a notar. Não serve de grande consolo mas os “PIGS” vão ter companhia, mesmo que os novos aflitos entrem de galochas na pocilga vão lá viver uns tempos.

A lista de países ou a ordem como irão sofrer os ataques dos especuladores é secundária, a questão é saber se vai parar em algum lado algum dia, ou se é o desígnio deste tipo de ordem económica que privatizou as democracias.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Mundial Sub-20. Portugal na final.

Sub 20 Ago2011
                                                            www.fifa.com

Carlos Godinho, Director Desportivo da Selecção Nacional “AA” de futebol, enquadrava o Departamento Técnico da FPF para as Selecções Nacionais de Juniores, no ano (1989) em que Portugal foi Campeão do Mundo em Riade. O cabeçalho do seu blogue “Todos Somos Portugal” lembra as selecções de juniores.
Hoje publicou um post no “Todos Somos Portugal” que assino por baixo; melhor...! Fui lá roubar uma cópia para partilhar aqui.


“Esta equipa não tem os talentos de 89 e 91!”

Palavras do comentador da RTP a rematar a sua intervenção após o jogo. Tristemente à portuguesa. Quem conhecia os talentos da equipa de 89 no momento que se ganhou em Riade? Analisar à distância de 23 anos e perante as extraordinárias carreiras posteriores de alguns desses jogadores, será um método razoável de análise para comparar estas selecções? Não me parece. E será que alguns destes jovens não poderão vir a ter uma carreira com o mesmo ou eventual maior sucesso? Acho que podem. Destacar alguns seria extremamente injusto porque há muita qualidade em muitos deles. Em 1989 chegámos à final com 4 golos marcados mas três sofridos. Nessa altura só haviam 16 equipas em jogo, hoje são 24. Portanto chegámos às duas finais realizando menos um jogo de que actualmente. Se não querem elogiar pelo menos não amesquinhem. Os nossos miúdos foram gigantes e mostraram ao País que depois do Uruguai, Camarões, Nova Zelândia, Guatemala, Argentina e França, estão aí para a final e para lutar pelo título. 20 anos depois. Que belo momento para o nosso futebol, clubes e associações, e para a FPF. Parabéns a todos que lá estiveram e para todos os que trabalharam para isto e que foram muitos ao longo destes últimos anos.

In “Todos Somos Portugal”
- Para visitar o blogue ir à ligação na barra lateral (sidebar).

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Viagem do Papa a Espanha. Católico planeia atentado contra manifestação.

OrdoPauperum(Spiritus)Ago2011

Cerca de 140 organizações diversas, a maioria laicas, mas algumas também de sectores católicos, manifestam-se agora em Madrid contra o financiamento público da visita do Papa Bento XVI. A despesa ultrapassará 60 milhões de euros (25 milhões directos do governo) quando se acaba de anunciar um corte de 40 milhões na Educação. Também os transportes são gratuitos durante a visita do Papa, quando aumentaram este mês para os madrilenos, (o metro subiu 50%).

A manifestação expressamente anunciada como não sendo contra a religião católica ou a viagem do Papa, pretende protestar contra o financiamento público por parte do Estado não confessional espanhol. A principal palavra de ordem é: “ Dos meus impostos, zero para o Papa”.

Entretanto foi anunciado que foi preso na terça-feira, um jovem (por ser quem é nenhuma notícia o trata por suspeito de terrorismo) natural do México e investigador num Instituto de Química de Madrid. Alegadamente pretendia atentar contra os manifestantes de hoje, usando gases letais (o jornal El País fala em gás Sarin) e outros químicos.

O detido era um dos voluntários das JMJ – Jornadas Mundiais da Juventude (juventude católica, acrescento eu) que recebem a visita do Papa amanhã.

A confirmarem-se as intenções do suspeito, temos mais um exemplo do extremismo religioso católico na Europa. Neste caso, e segundo disseram os investigadores, trata-se de um pateta que andou pelas redes sociais a recrutar apoios para o atentado, mas os patetas não deixam de ser perigosos, como demonstrou o pateta do terrorista norueguês.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Passos Coelho, Moedas & Miguel Relvas - corte na despesa S.A.

MóAgo2011


Passos Coelho acusava o anterior primeiro-ministro de “fingir cortar na despesa” (do Estado). Passos Coelho disse no “pontal” que “este governo corta na despesa todos os dias” – é dito a sério… ou a fingir? A troika esteve cá e não deu por nada, queixou-se até de não ter visto os famosos cortes na despesa.

O secretário – permanente do FMI no governo, Carlos Moedas, multiplica-se em entrevistas na televisão e nos jornais, a anunciar que os cortes são os maiores dos últimos cinquenta anos.

Miguel Relvas, o político do governo, (é o melhor que o PSD arranjou) para comentar a “novidade” da diminuição do PIB nacional, disse hoje que há necessidade de “nos próximos meses e anos reduzir a despesa do Estado”, e disse mais “é esse o caminho que o governo seguiu”.

Quem está a seguir o caminho que o governo seguiu, não vê cortes na despesa do Estado, as nomeações feitas pelo governo são a amostra. O que se vê são cortes nas despesas das famílias por causa do aumento de impostos, da subida do preço dos transportes e de bens como a electricidade e o gás, das despesas com a saúde etc.

Quererá o governo convencer toda a gente só com a propaganda, não me parece. Alguma despesa vão cortar um dia destes, mas para haver tanta preparação do terreno não estão certos da reacção dos portugueses.

É que o exemplo do ministério da Saúde em tirar direitos e serviços aos utentes, não é o corte na despesa que se espera. Serviços de saúde não são “gorduras”.

Em vez de fazerem mais anúncios, e andarem com conversa da treta, exponham o produto para vermos se é comestível ou intragável, ou como se diz no Alentejo – digam lá quais são os cortes na despesa, porra!
E não se esqueçam que a promessa é equilibrar as contas com dois terços através da redução da despesa e um terço com a receita.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A guerra da Somália - o caos.

SomáliaAgo2011
Foto e texto do jornalista Rodrigo Hernández, publicado a 14 agosto 2011 no diário mexicano La Jornada com o título – A guerra, “um negócio” na Somália.


Mogadisco, 13 de Agosto.“Não quero viver agarrado a uma arma, nem que os meus filhos o façam, mas neste momento a vida não me dá outra alternativa”. Hassan Modsal tem trabalhado como mercenário nos últimos 20 anos. Viu como a sua vida laboral se deteriorava ao mesmo tempo que a das ruas desta cidade.

A Somália transformou-se no país há mais anos sem um governo central, mas a situação de crise arrasta-se há várias décadas. O fim da colonização inglesa e italiana trouxe consigo a criação de fronteiras artificiais e a imposição de um modelo de Estado que rapidamente mudou. Em 1969, Siad Barre tomou o poder através de um golpe de Estado. Centrou a sua governação nas lutas contra a Etiópia, sem conseguir uma verdadeira evolução económica no seu território.

Durante esses anos, pessoas como Hassan tentavam fazer a sua vida trabalhando no comércio informal. “ Não pude terminar a escola e pronto, comecei a trabalhar como motorista de camiões e carregando caixas no porto”. Como muitos dos seus compatriotas, aproveitava as férteis costas que banham as terras somalis para tirar proveito da pesca.

Mas, com o início da guerra civil nos princípios dos anos 90, tudo mudou para a maior parte destas pessoas. “O trabalho acabou e não tinha outra possibilidade além de procurar emprego numa milícia de segurança privada”. Nunca tinha tocado numa pistola, mas eles ensinaram-me”. A parte mais dura da batalha desenrolou-se na capital. Mogadisco ficou dividida, os seus edifícios destroçados e a maior parte do asfalto desapareceu.

Inclusivamente as principais organizações internacionais saíram do território somali, perante a dureza dos confrontos. “Eu nunca quis lutar ao lado das tropas do exército. Para mim estar com eles era participar numa guerra com a qual não estava de acordo”, comenta Hassan, que acompanhado por outra dezena de homens armados, escolta personalidades de outros países, em vez de fazer parte de algum dos exércitos no terreno.

Os Estados Unidos realizaram incursões infrutíferas no território somali. Em 2000 estabeleceu-se um governo de transição sem o apoio da maioria dos clãs, embora apoiado por soldados do Uganda e do Burundi, que compunham a Missão da União Africana na Somália (Amison).
A grande quantidade de frentes de combate abertas, as dificuldades com o idioma e a incapacidade de delinear estratégias comuns com o exército nacional, levou a que em nenhum momento o país tenha estado sob controlo.

domingo, 14 de agosto de 2011

Exército - ilegalidades ou não nas contratações.

ExércitoAgo2011


O exército português contratou mil praças, quando estavam obrigados pelo orçamento de Estado aprovado para 2011 pelo PSD e pelo PS, a reduzir o contingente em 3.000 contratados. Igualmente conforme o memorando acordado com a troika está previsto diminuir os efectivos das forças armadas até 2014 em 10% (4.000 elementos).

Segundo o jornal “Diário de Notícias” a incorporação das mil praças foi feita sem o conhecimento do governo. Um porta-voz do exército diz que foi do conhecimento da tutela, e o ministro da Defesa Pedro Aguiar Branco, afirmou que não confirma nem desmente; o que traduzido para português corrente quer dizer que está conivente com a irregularidade.

O que diz a voz popular é que nas forças armadas portuguesas são mais os chefes que os índios, a incorporação de mais praças poderia equilibrar a relação entre as altas patentes, oficiais, e praças, mas a contenção nos gastos do Estado, impõe e estava definido pelo anterior ministro da Defesa, a redução obrigatória “até Setembro deste ano”.

Manda a transparência (que o governo Passos Coelho/Portas tanto apregoa) que os portugueses saibam se o actual governo revogou (em segredo) a medida do anterior, indo contra o Orçamento aprovado para este ano e contra o acordado com a troika, ou se o Exército não cumpriu as ordens recebidas do poder político – da trapalhada já ninguém se livra.

O que é inconcebível é esta situação de cada instituição fazer o que lhe apetece dos dinheiros públicos. O exemplo da Madeira está a fazer escola; é a GNR a usar as verbas devidas ao fisco e à Segurança Social para gastos correntes, agora isto.

sábado, 13 de agosto de 2011

Viagem a Ítaca - Lluis Llach canta Konstantinos Kaváfis.


Lluis Llach, cantautor catalão (autor de L´Estaca) baseou-se no poema Ítaca do poeta grego Konstantinos Kaváfis (Alexandria 29/04/1863 – 29/04/1933), para compor a “Viagem a Ítaca”.   Em baixo uma tradução (de Jorge de Sena) do poema, com alguns cortes, que não são cantados por Lluis Llach.

Ítaca


Quando começares a tua viagem para Ítaca,
reza para que o caminho seja longo,
cheio de aventura e de conhecimento.
(…)
Deseja que o caminho seja bem longo
para que haja muitas manhãs de verão em que,
com grande prazer, com tanta alegria,
entres em portos que vês pela primeira vez
(…)
Tem sempre Ítaca na tua mente,
Chegar lá é o teu destino.
mas não te apresses absolutamente nada na tua viagem.
será melhor que ela dure muitos anos
para que sejas velho quando chegares à ilha,
rico com tudo o que encontraste no caminho,
sem esperares que Ítaca te traga riquezas.
Ítaca deu-te a tua bela viagem.
Sem ela não terias sequer partido.
Não tem mais nada a dar-te.
E, sábio como te terás tornado,
Tão cheio de sabedoria e experiência,
Já terás percebido, à chegada, o que significa Ítaca

Konstantinos Kaváfis

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Aumento (brutal) do IVA, na Electricidade e no Gás.

CortesOndeAgo2011


Estavam anunciados “cortes brutais na despesa pública” mas afinal apresentaram mais impostos, e brutais. A subida da taxa do IVA de 6% para a taxa máxima de 23% (a taxa máxima não é uma exigência da troika) nas facturas da electricidade e do gás, resulta num aumento destes produtos de primeira necessidade, de 17%. O governo pensa arrecadar com mais este saque ao bolso dos portugueses, 400 milhões de euros.

O aumento de impostos – a única coisa que o governo de Passos Coelho/Portas tem sabido fazer, terá um impacto inadmissível nas famílias de mais baixos rendimentos. A electricidade e o gás são de consumo imprescindível em todas as casas; vai agravar o estrangulamento económico em que já vivem muitas famílias. Os portugueses vão ficar com menos dinheiro disponível, reduzindo o consumo interno e levando a economia a maior recessão. As empresas sofrerão como efeito imediato a redução da sua competitividade, o contrário do que se pretende que é o aumento da produção nacional, quer para exportação quer para consumo interno.

O ministro das finanças Vítor Gaspar, não permitiu perguntas na conferência de imprensa onde anunciou o aumento de impostos; mais uma nódoa na transparência que Passos Coelho apregoava. Quem abriu o jogo foi o delegado do FMI da troika, que no seu encontro com os jornalistas anunciou em primeira-mão medidas do governo (!), como a transferência dos fundos de pensões da banca para a Segurança Social (um encaixe imediato para despesas futuras).

O mesmo “troiko” desautorizou o estudo do governo sobre a redução da Taxa Social Única (TSU) considerando que a descida terá que ser (são as ordens dele) entre 6 a 9%; como o estudo falava na necessidade de subir o IVA em dois pontos percentuais para uma TSU de menos 3,7%, vamos ter festa. Mais ordenou o “troiko” – “que essa coisa de não atingir todas as empresas não pode ser”. Não será portanto apenas para o sector exportador, a festa promete.

Temos um governo que não governa, é um pau-mandado do FMI. É incapaz de actuar sobre a despesa pública e os gastos sumptuosos do Estado, ou nos privilégios dos que recebem grandes ordenados e opíparas reformas. Daqui em diante haverá mais cortes sobre os mesmos, uns irão assumir a forma de impostos, outros serão cortes dos direitos no trabalho, na saúde, na educação.

Sem oposição dos portugueses o governo de Passos Coelho/Portas vai reduzir a maior parte do povo à miséria.

Miguel Torga - aniversário do seu nascimento.

Miguel Torga por Vasco de Castro


Hoje assinala-se o aniversário do nascimento de Miguel Torga
(12 Agosto 1907 – 17 Janeiro 1995).
Sobre ele ler aqui. Para o recordar escolhi estes seus poemas:

Brinquedo

Foi um sonho que eu tive:
Era uma grande estrela de papel,
Um cordel
E um menino de bibe
O menino tinha lançado a estrela
Com ar de quem semeia uma ilusão
E a estrela ia subindo, azul e amarela,
Presa pelo cordel à sua mão.
Mas tão alto subiu
Que deixou de ser estrela de papel.
E o menino, ao vê-la assim, sorriu
E cortou-lhe o cordel


Liberdade

Rezava o padre nosso que sabia
A pedir-te, humildemente,
O pão de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.
- Liberdade, que estais na terra…
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas o silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.
Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão de minha fome.
- Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.


Orfeu Rebelde

Orfeu rebelde, canto como sou.
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade do meu sofrimento.
Outros, felizes, sejam os rouxinóis…
Eu ergo a voz assim, num desafio:
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura,
Saibam que há gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura.
Bicho instintivo que adivinha a morte
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa
Os versos em legítima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.

Miguel Torga

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Governo suspende reembolso directo aos doentes; ministro ainda trabalha para a Medis?

SaúdeAgo2011


Segundo noticiou ontem o jornal “Público”, uma circular de terça-feira da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) suspende a partir de hoje “o reembolso directo aos utentes do SNS (Serviço Nacional de Saúde) relativos a prestações de saúde, incluindo transportes não urgentes de doentes”. Típico.

É típico o tipo de medida, cortar o acesso aos cuidados de saúde, e é típica a forma de comunicação, especificando os “transportes não urgentes de doentes”. A intenção é fazer crer que a medida é justa, as televisões fizeram o resto apresentando imagens de tratamentos termais (considerados um luxo pela ignorância nacional). Sobre os transportes, os bombeiros que pensavam não ser abrangidos, dão hoje nota de alguns Centros de Saúde a cortar os serviços, o que trará grandes dificuldades (para além das dos utentes) àquelas organizações humanitárias.

O jornal “Público” questionou a ACSS sobre as prestações de saúde abrangidas e foi remetido para o Guia do Utente do SNS; é assim que surge a lista cujas despesas vão deixar de ser pagas a partir de hoje; parte das despesas termais, óculos, calçado ortopédico, próteses, tratamentos etc. Há uma enorme trapalhada sobre o que é abrangido e interpretações diversas sobre as situações especiais, como o caso dos bombeiros.

Sobre as próteses dentárias, o bastonário dos Médicos Dentistas diz que “há quase um milhão de pessoas que beneficia do complemento solidário para idosos e são estas que têm acesso directamente a este tipo de comparticipação de próteses dentárias”, fala das consequências (ler aqui) “para a saúde geral e de sobrecarga para o SNS”. É mais uma medida deste governo sem medir outro efeito que não seja o económico imediato.

O governo de Passos Coelho projecta um SNS residual e sem qualidade para os mais pobres; a entrega aos privados da parte que é negócio e financiada pelo Estado, e a promoção dos seguros de saúde. O Estado deixa de participar as próteses dentárias, mas a “Medis” (donde veio o ministro da Saúde, e onde decerto voltará depois da comissão de serviço no governo) tem um desconto (50%?) nas mesmas próteses. Isto anda tudo ligado.

O SNS é pago pelo orçamento do Estado, pelos impostos, é um sistema solidário com os mais vulneráveis. Esta medida é a primeira contra o direito universal à saúde consagrado na Constituição. Não é uma exigência da troika, reorganizem o SNS, cortem nos desperdícios e não no que é indispensável para os cidadãos. Pergunto outra vez, quem votou nestes – votou nisto?

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Motim em Inglaterra, a violência alastra.

MapaconflitosAgo2011


Uma manifestação de protesto contra a morte pela polícia dum jovem de 29 anos, em Tottenham, transformou-se num conflito violento que desde sábado se estendeu a outros bairros de Londres, e outras cidades inglesas.

A onda de protestos, com confronto entre polícias e jovens, subiu de tom com os incêndios de carros e edifícios, o saque de lojas. Os jovens conquistaram as ruas e alargaram a acção violenta a bairros onde nunca tinha existido conflitos.

Mais tarde se fará a análise do que despoletou os incidentes, mas desde o início que se ouviu na televisão gente de Tottenham, referir o desemprego e os cortes orçamentais feitos pelo governo de David Cameron, como o “caldo” em que germinou a revolta.

Os cortes orçamentais encerraram os clubes juvenis que ocupavam os jovens dos bairros pobres, foram reduzidos os fundos sociais e o desemprego é a condição habitual para a maioria deles. É nessa realidade que nasceram estes actos de violência.

A repressão policial vai amainar os protestos, mas o explosivo fica lá esperando outro rastilho.

Em Março realizou-se em Londres aquela que foi considerada a maior manifestação da Europa dos últimos tempos, com centenas de milhar de pessoas contra as medidas de austeridade. O governo estava a participar na agressão à Líbia, não deu mostras de ter ouvido os manifestantes.

A Inglaterra está a gastar as libras nas guerras do Afeganistão e da Líbia e não quer pagar a paz social no seu interior; é uma opção de política com os resultados à vista. É também um sinal para outros países que estão a aplicar medidas cegas de austeridade em período de recessão. Quem está encurralado e não vê futuro, pode reagir mal – pode ser muito violento.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Passos Coelho no Facebook.

porm-R.FrankAgo2011
Uma introdução que penso ter a ver com a coisa. Abri a caixa do correio, duas cartas, uma das “finanças”: …o que querem estes gajos? Informava que eu tinha pago o IRC, coisa que já sabia, agora tenho de perguntar ao meu contabilista se é para arquivar ou deitar fora.

A semana passada recebi outra carta das “finanças” a informar-me que tinha uma conta de “valor relativamente baixo” a pagar, quinhentos e tal euros, nessa juntaram quatro períodos bem espacejados de ameaças, caso não cumprisse o dever de pagamento. Fui ao Serviço respectivo indagar, disseram-me que eram custas (!) de qualquer coisa. Vista a qualquer coisa no ecrã fui informado que tinha pago essa coisa dentro do prazo, pelo que não devia ter recebido a carta das “finanças”.

Entre uma e outra prefiro a do IRC, não dá trabalho e lembra-me para não ir pagar novamente o IRC. Eu tenho uma explicação para este correio, as “finanças” não querem cair no esquecimento. Julgo até que se privatizarem os Correios, os contribuintes vão receber cartas a perguntar onde moram, era uma ajuda do Estado ao sector privado e perguntar não ofende.

Tenho mais dificuldade em encontrar explicação para a mensagem de Passos Coelho no Facebook. Ele tem aparecido pouco, é verdade, terá necessidade de não cair no esquecimento, é provável, mas deixar aos portugueses a mensagem, “não me comprometo com resultados rápidos nem com sacrifícios suaves” e partir de férias – não lembra ao marquês de Sade. Só serve para stressar quem fica a trabalhar e quem está a repousar depois dum ano de trabalho.

domingo, 7 de agosto de 2011

Medicamentos fora de prazo.

MedicinalDentrodoPrazoAgo2011As medidas do Programa de Emergência Nacional não surpreenderam, já se previam como resultado de um governo PSD/CDS com a ideologia de Paulo Portas e Passos Coelho. O sobressalto de comentadores e de alguns políticos é que são de pasmar, conheciam os programas e projectos assistencialistas desta direita.

O que está a mudar é a estrutura do Estado, substituída por privados subsidiados pelo governo, e pelas organizações da Igreja católica reforçadas financeiramente com mais dinheiro dos contribuintes. Não se trata de gerir melhor que a “máquina do Estado”, mas de demolir o Estado Social.

O chamado Sector Social, composto de IPSS, Misericórdias e instituições afins, já viviam sem controlo apropriado, são muitas as denúncias de irregularidades, de aldrabices e de roubos descarados dos seus responsáveis. Tem sido difícil levar esses dirigentes à justiça ou a demitir-se, é um meio protegido e fechado, também desculpado por parte das populações pelo “bem” que vêem fazer com a distribuição de migalhas. Dos lares a outras benfeitorias os abusos são conhecidos, mas a fiscalização ou a justiça é incapaz de os impedir.

Agora, para facilitar esses atropelos retira-se a fiscalização, deixa de haver dependência da Segurança Social, deixa de actuar a ASAE, e quer-se obrigar os beneficiários de subsídios a prestar trabalho gratuito (escravo).

O que o ministro da caridade anunciou é o reforço de verbas para instituições impossíveis de controlar. O problema não é a “sopa dos pobres” (expressão horrível do ponto de vista civilizacional) que a ajuda alimentar é necessária, é o estigma da pobreza, a humilhação dos necessitados, a esmola.

A ideia deixada pelo governo é que há homens mulheres e crianças que vão consumir restos, é muito grave na prescrição de medicamentos fora do prazo de segurança; aqui os pobres são tratados abaixo de cão, literalmente: se alguém quiser aviar uma receita do veterinário para o seu cachorro, na farmácia não encontra remédios fora de prazo; vão ser reservados para os portugueses de segunda – coisa que não contava ver depois do 25 de Abril.

sábado, 6 de agosto de 2011

Caetano Veloso - Odeio.

                  

Porque hoje é Sábado: Um Caetano Veloso "alternativo", que faz amanhã (69) anos.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Privatização das águas? A água é nossa!

PrivatizaçãoDasÁguasAgo2011
A água é nossa – por Boaventura de Sousa Santos.


As privatizações são o objectivo central do governo. Porquê esta centralidade; se as receitas que elas geram são uma migalha da dívida? Porque o verdadeiro objectivo delas é destruir o Estado Social, eliminar a ideia de que o Estado deve ter, como função primordial, garantir níveis decentes e universais de protecção social.

Sujeitar os serviços públicos à lógica do mercado implica transformar cidadãos com direitos em consumidores com necessidades que se satisfazem no mercado. Cada um consome segundo as próprias posses. Para os indigentes, o Estado e as organizações de caridade garantem mínimos de subsistência. Mesmo assim, há privatizações e privatizações, e a privatização da água é a mais escandalosa de todas porque ela põe em causa o próprio direito à vida.

A água é um bem comum da humanidade e o direito à água potável um direito fundamental. Um direito de que está privada cerca de um quarto da população mundial (1,5 mil milhões de pessoas). Todos os dias morrem 30 mil pessoas por doenças provocadas pela falta de água potável. As alterações climáticas fazem prever que este problema se agravará nas próximas décadas. Considerando que quase metade da população mundial vive com menos de dois dólares por dia, e, por isso, sem condições para aceder ao mercado da água, tudo recomendaria que as medidas para garantir o acesso à água fossem orientadas pela ideia do direito fundamental e não pela ideia da necessidade básica.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

SIM ao "Referendo sobre a privatização das Águas de Portugal".

ÁguasDePortugalAgo2011

Entre os assuntos do dia que merecem relevo, escolho a iniciativa do Bloco de Esquerda, que segundo anunciou através do seu deputado Luís Fazenda, “vai propor a realização de um referendo sobre a privatização da empresa Águas de Portugal”.

É uma causa à qual “O ClariNet” se associa desde já.

Pelas visitas constantes às publicações que aqui tenho feito sobre a privatização da água, incluindo a campanha sobre o mesmo tema que se realizou na Itália, e que acompanhámos neste blogue; posso dizer que é um assunto que interessa muito aos portugueses.

Nos próximos tempos vamos todos ter necessidade de acompanhar esta matéria. Deixo uma sugestão de leitura; o artigo de hoje de Boaventura de Sousa Santos na revista “Visão”, com o título “A água é nossa”. Diz Boaventura, “há privatizações e privatizações, e a água é a mais escandalosa de todas porque ela põe em causa o próprio direito à vida”. A ler aqui.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Portagens no IC19? Quero ver!

IC19portagensAgo2011

O governo de Passos Coelho tem coisas engraçadas. Dia sim, dia não, (quando não é em dias seguidos) manda um dos serviçais atirar barro à parede. É para ver se pega, ou seja, para aferir da contestação que uma ideia que lhes germina no profícuo cérebro meditabundo, pode provocar.

Evidentemente, já tem preparados desmentidos se o bruaá for muito intenso.

É o que se passa com a notícia do Jornal de Negócios (JNg), sobre o contrato de concessão entre o Estado e a Estradas de Portugal. O contrato “prevê que a empresa (-) possa passar a cobrar portagens no universo da sua rede de Itinerários Principais (IP) e Itinerários Complementares (IC), que são dotados de características de auto-estrada”.

A notícia diz que “prevê”; faz portanto parte do contrato! O governo vem desmentir que esteja previsto a introdução de portagens nestas vias (o que, aliás, a notícia do JN também diz) e que são especulações jornalísticas. O governo faz um bom esforço para baralhar o que é verdade, e assim permitir nos noticiários da noite “acalmar” o Zé-povinho. Não chega.

Segundo o JNg a possibilidade de portajar estas vias “passa a estar prevista na lei, como fonte de receitas próprias da Estradas de Portugal”. Ou desmentem isto ou mais vale estarem calados, porque o que está em causa é o que a lei permite e não se vão fazer hoje ou depois de amanhã.

Sobre as portagens no IC19 de que já se fala, tinha a sua piada. É a via mais congestionada do país; dá para pôr a Estradas de Portugal a salivar com o negócio (como outros salivam com o negócio do BPN) mas é muita gente, muita classe média baixa, que está a encher a um ritmo que falta pouco para explodir. Portajar o IC19, depois de aumentar o preço dos bilhetes de comboio da Linha de Sintra 25%, é coisa que eu pagava para ver.

Que me lembre, manifestação a sério daquelas que fazem tremer o poder, foi a dos camionistas; querem algo semelhante, com mais gente e mais razão?

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Álvaro Santos Pereira e os carros de alta cilindrada.

omissãoAgo2011


É significativo (e triste) que da primeira audição parlamentar ao ministro da Economia, os meios de comunicação social façam títulos com o “ambiente de ostentação” no ministério e o número de motoristas. Arre! Na situação da economia portuguesa não conseguem tirar outro Sound Bite de horas de perguntas e respostas entre a Comissão de Economia e Obras Públicas da Assembleia da República e o “superministro” Álvaro? Será incapacidade jornalística?

Apesar do estado fraquinho da boa parte do jornalismo nacional, desta vez e pelo que ouvi a culpa não é do mensageiro. Não se passou nada na audição, pelo menos na (meia) parte a que assisti. Ouvi as generalidades do costume, da promessa de empenho do governo à crença que tudo vai mudar para melhor e novidades semelhantes. Perguntas que ficaram sem resposta, e respostas a fugir às perguntas, como é hábito na nossa política opaca e defensiva.

O que foi mais vezes repetido pelo ministro Álvaro foram frases como: “não vou divulgar isso aqui”; “em breve tudo ficará mais claro”; “dentro de dias se saberá”; também na versão semanal, “será tudo desvendado dentro de poucas semanas”; ou até datado sem data definida, “da próxima vez que vier a esta comissão”…

Não era melhor antes de convocar um ministro para uma audição parlamentar, enviar-lhe as perguntas; e já agora com várias hipóteses de respostas com um quadradinho para assinalar a opção. Ele depois dava cada pergunta a uma comissão (das já criadas ou a criar) que estudava a matéria e o industriava de forma a poder brilhar? Assim fazem uma figura desgraçada.

Cada vez que membros do governo vêm a público falar das políticas, evidenciam uma impreparação que envergonha ver. Não têm resposta clara para coisa alguma, partem para divagações que nada têm a ver com o assunto, metem os pés pelas mãos, contradizem-se ou contradizem outro colega do governo, uma confusão pegada. Não sabem explicar porquê, só têm a certeza de ter razão, o que é perigoso.

Fica a sensação de estarmos a ser governado por amadores, com ideias avulsas e o privilégio de as experimentar. Acontece que estão a ser ensaiadas num laboratório que é um país. Um país onde vivem pessoas!