segunda-feira, 28 de março de 2011

Vagas em lares, um mercado lucrativo.


O que não vai mudar qualquer que seja o novo governo, é a relação especial entre o Estado e a Igreja; até pode ser que venha a ser mais aprofundada.
Aquando da visita do Papa, o ministro da presidência Pedro Silva Pereira afirmava ser “muito importante sublinhar que a visita acontece num momento em que as relações entre o Estado e a Igreja são muito fortes na acção social”. Dizia que “há uma enorme convergência entre o Estado e as Instituições de Solidariedade Social ligadas á Igreja. Um recente estudo da Universidade Católica Portuguesa indicava que aproximadamente 60% das receitas das IPSS ligadas à Igreja vêm do Estado.”Fim de citação. O governo afirmava que as relações entre o Estado laico e a Igreja católica se fortaleceram pagando os contribuintes a maior parte da acção social da Igreja. Acção social que tendo aspectos meritórios é também um veículo de difusão dos interesses da Santa Sé.
A ideologia religiosa é facilmente suportável na nossa sociedade, menos tolerável será que haja lares sustentados pelo Estado, sem fins lucrativos como rezam os seus estatutos, que exijam dinheiro para permitir a entrada de idosos. Há lares que vendem as vagas, o método é elementar; afirmam a quem os procura que há quem esteja inscrito aguardando vez e na disposição de dar um donativo à instituição, se o necessitado se mostrar permeável pode iniciar-se o negócio, ou há um preço de tabela, que rondará hoje o mínimo de 5.000 euros, ou entram em leilão regateando valores. Mais grave é que este abuso, que constitui um crime de burla, está generalizado no país. Em qualquer pequena cidade todos sabem quanto custa em dinheiro ou em propriedades ter acesso aos lares da região, é conhecido das autoridades, os responsáveis das instituições sabem que é uma ilegalidade, mas a prática indigna continua sem intervenção judicial que lhe ponha cobro. As instituições ligadas à Igreja, as tais com quem “o Estado tem fortalecido as relações” como as Misericórdias, têm sido acusadas desta actuação vergonhosa, nem o negam. O padre Lino Maia presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade justificou-se há já algum tempo à Lusa, dizendo que “muitas instituições estão a lutar pela sua sobrevivência” e que “vêem-se forçadas a recorrer a esses estratagemas”. Modelar de mais um pináculo da superioridade moral da Igreja, edificante exemplo para a sociedade. Eles sabem, todos sabemos, que são os mais carenciados, sem posses, bens ou família que lhes acuda, que ficam abandonados.
Não eram esses os primeiros destinatários da Acção Social?

Sem comentários: