segunda-feira, 21 de março de 2011

No dia mundial da poesia - os livros.

Em Setembro de 2010, no blog Estrolabio, pediu-se aos colaboradores para apresentar os dez livros que "deviam ser conservados".

Os dez livros do exercício.

Carlos Mesquita
Por qualquer razão cabalística pediu-se que indiquemos dez livros que deviam ser conservados, não são onze, sete ou dezanove, são dez. Talvez porque dez são as emanações divinas, dez são os mandamentos ditados para as tábuas de Abraão, dez por cento é o limite para entender por cá, que o desemprego é preocupante.

Há várias formas de apresentar o “trabalho”, uma é escolher entre as milhentas listas alguns incontestáveis, Guerra e Paz, Ulisses, O Processo, os Cem Anos de Solidão, etc. outra maneira é pensar naqueles que foram mais importantes na nossa formação, e possamos num acto louco designar para fazer clones culturais de nós próprios. Nem as coisas são assim nem acredito que alguém saiba quais os livros que os influenciaram decisivamente; a não ser os adeptos do livro único, como a Bíblia, o Corão ou os livros vermelhos de Mao Tsé-Tung e do Vital Moreira.

Venho dum meio que lê. Na minha adolescência havia uma excelente biblioteca pública na colectividade (ainda há) e um irmão oito anos mais velho que comprava livros para casa; também era o tempo dos livros de bolso, Europa-América, Unibolso, RTP, (não me lembro agora doutras colecções) que editaram quase todos os “recomendáveis”. Depois do bicho introduzido continua-se a comprar, a consumir, são centenas; não me peçam para fazer uma escolha, porque não sei. Alguns releio outros já li há muito. Houve tempo em que lia aos trambolhões, lembro-me do meu irmão dizer aos meus pais que eu andava a ler livros que não eram para a minha idade, nunca soube se era por causa da Madame Bovary, ou O Crime do Padre Mouret se pelos autores como Vítor Hugo, Kafka ou Nietzsche.

A verdade é que li primeiro o Principe de Maquiavel do que O Principezinho de Saint Exupery, ou dentro do mesmo autor também li antes O Mar Morto de Jorge Amado que os Capitães da Areia, A Festa de Hemingway antes do Por Quem os Sinos Dobram, ou As Mãos Sujas antes de O Ser e o Nada, de Sartre. Um parêntesis só para dizer que “aqui atrasado” quando andou no Estrolábio uma discussão metafísica do Ser, a existência e a essência da natureza humana, estive para prescrever umas doses de Sartre, não o fiz porque me pareceu pretensioso.

Há livros que sei que me foram importantes na altura em que os li, como o Germinal de Zola, os Gaibéus de Redol, ou A Lã e a Neve de Ferreira de Castro, e depois Os Dez Dias Que Abalaram o Mundo, e Gramsci e Rosa Luxemburgo e Ruben Fonseca e, e…e escolhendo os Cem Anos de Solidão o que se faz a O Amor nos Tempos de Cólera, e Saramago no Ensaio Sobre a Cegueira, não toca mais toda a gente que no Memorial do Convento?

O que é importante da leitura é o que reservamos no cérebro depois de ruminarmos todos os livros, e isso não conhecemos, não está na memória imediata. Encontrei um artigo meu onde citava Raymond Chandler, um escritor “policial”, autor de “À Beira do Abismo”, passado a argumento de cinema (Hanks, Bogart, Bacall) pelo Nobel, William Faulkner; dizia a citação dum seu personagem julgo que da Dama do Lago, que “na polícia e na política deviam estar os melhores de nós, mas nem a polícia nem a política têm atractivos para os melhores de nós”. Para a matéria deu-me mais jeito que qualquer Fernando Pessoa.

Bom, perguntarão vocês, se este tipo não quer apresentar dez títulos de livros, o que veio aqui fazer? E eu respondo, vim só dizer que não contem comigo.


Publicado no Estrolabio em 23 Setembro de 2010. Editado por Carlos Loures.

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