domingo, 31 de julho de 2011

Solano Trindade - "Tem gente com fome".

               Excerto da interpretação de Ney Matogrosso.



Um amigo lembrava-me Ney Matogrosso e o “Trem da Leopoldina”, tema bastante conhecido por ter passado na rádio portuguesa. O poema chama-se na verdade, “Tem gente com fome” e é da autoria de Solano Trindade, infelizmente menos divulgado por cá.

Solano Trindade (24/07/1908 – 19/02/1974) natural do Recife/Pernambuco, poeta da resistência negra – “ícone da poesia negra” (afro-brasileira) – foi também pintor, dramaturgo, actor, folclorista; divulgador da cultura negra, agitador através da sua literatura de causas e intervenção cultural. Militante político contra a desigualdade social e racial, foi preso duas vezes pela ditadura brasileira, a última das quais por causa do poema “Tem gente com fome”.

Tem gente com fome

Trem sujo da Leopoldina,
Correndo correndo,
Parece dizer:
Tem gente com fome,
Tem gente com fome,
Tem gente com fome…

Piiiiii

Estação de Caxias
De novo a correr,
De novo a dizer:
Tem gente com fome,
Tem gente com fome,
Tem gente com fome…

Vigário Geral,
Lucas, Cordovil,
Brás de Pina,
Penha Circular,
Estação de Penha,
Olaria, Ramos,
Bom Sucesso,
Carlos Chagas,
Triagem, Mauá.
Trem sujo da Leopoldina,
Correndo Correndo,
Parece dizer
Tem gente com fome,
Tem gente com fome,
Tem gente com fome…

Tantas caras tristes,
Querendo chegar,
Em algum destino
Em algum lugar…

Trem sujo da Leopoldina
Correndo correndo,
Parece dizer:
Tem gente com fome,
Tem gente com fome,
Tem gente com fome.

Piiiiii

Só nas estações,
Quando vai parando,
Lentamente, começa a dizer:
Se tem gente com fome,
Dá de comer…
Se tem gente com fome,
Dá de comer…
Mas o freio de ar,
Todo autoritário,
Manda o trem calar:

Psiuuuuuu

Solano Trindade
In Poemas de uma vida simples

domingo, 24 de julho de 2011

Extrema-direita na Noruega - de islamófoba a terrorista.

AndersBehringBreivikJul2011


A situação que se vive no mundo e particularmente na Noruega após os atentados executados por Anders Behring Breivik é de incredibilidade.
Um terrorista, alto, louro e de olhos azuis, “norueguês de gema”, não era até aqui a figura padrão do terror.

Há muito que existem sinais preocupantes, nomeadamente nos países mais apreciados pela sua “democracia de sucesso”, como os da Europa do Norte.
Há uma nova extrema-direita que vem ganhando adeptos e votos aproximando-se ou chegando às instituições do poder em países ou regiões, com peso para influenciar a vida política europeia.

A nova extrema – direita é de natureza frentista a nível nacional, englobando alguns neo-nazis; dei aqui o exemplo da associação Sisu nos “Verdadeiros Finlandeses” sendo mais correcto designá-los genericamente de pró-fascistas, defensores de um nacionalismo étnico-religioso com variantes entre os de leste e do ocidente e a natureza das contradições históricas de cada país. Uns serão mais anti-semitas outros anti-islão, ou contra as minorias étnicas (que pode chegar a extremos como a “caça ao cigano” na Hungria). Têm sido chamados populistas, ultranacionalistas, fundamentalistas cristãos, racistas, anti-emigrantes, xenófobos e outras classificações mais ou menos rigorosas.

Quando encontram objectivos comuns, como o anti-islamismo, têm-se reunido numa espécie de Internacional da extrema-direita. Foi assim em Outubro do ano passado, em Viena, onde participaram partidos da Áustria, Eslováquia, Itália, Suécia, Dinamarca, e os nacionalistas flamengos. O propósito era um referendo europeu sobre a entrada da Turquia na União Europeia, um intuito que lhes trará mais visibilidade e alianças com a direita tradicional.

Tem sido no caldo de cultura existente na Europa, (contra o islão e também anti-emigração), que tem prosperado esta nova extrema-direita, com a complacência das outras direitas, que em alguns países precisam do apoio parlamentar dos extremistas para conseguir maiorias.

A extrema-direita tem conseguido capitalizar o descontentamento popular e o medo de se perder o Estado Social nas democracias do norte, e vai estar representada em maior número nas instâncias europeias.

O êxito político de organizações que se apresentam socialmente à esquerda, que passaram de eurocépticas para eurofóbicas, e de pendor ultranacionalista é um facto.

O que este acto terrorista intimidatório irá provocar na percepção política dos povos europeus não se sabe; será mais medo ou resistência ao avanço da extrema – direita?

sábado, 23 de julho de 2011

Carlos Paredes morreu há sete anos. "Canto do Amanhecer"




Carlos Paredes (16/02/1925 – 23/07/2004) deixou-nos há sete anos. 
“Canto do Amanhecer” é um dos “Seis Cantos Improvisados Sobre a Cidade”:
- (Amanhecer / Trabalho / Embalar / Amor / Rua / Rio)
Na viola Luísa Amaro, gravado em 1992 no Teatro São Luís em Lisboa.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Passos Coelho e o aumento do preço dos transportes

Transportedeorelhas

Escandaloso é a classificação mais ouvida sobre o aumento do preço dos bilhetes e passes dos transportes públicos. O aumento é várias vezes superior à taxa de inflação, não resolve o problema dos prejuízos operacionais e vem prejudicar enormemente os utentes.

Numa altura de subida frequente e exponencial dos combustíveis, em que muitas pessoas já haviam trocado o carro pelos transportes públicos, vir subir as tarifas, é montar um cerco a quem precisa de mobilidade.

O serviço público de transportes é utilizado essencialmente por quem faz contas às despesas de deslocação ou não tem outra alternativa. Decerto voltando a fazer contas, chegarão à conclusão que fica mais barato o automóvel. Mais carros a circularem, mais poluição, maior consumo de petróleo, mais uma contribuição para o défice externo.ArcodaGovernaçãoJul2011

O mais relevante para os utentes, que não têm culpa das más gestões e das opções das políticas de mobilidade dos sucessivos governos, é o contexto de dificuldade económica em que se encontram. Aqui, e como já deu sobejas provas neste primeiro mês de governação, o governo de Passos Coelho demonstra uma enorme insensibilidade social.

Esperemos para ver quem abrange os anunciados “títulos de transporte a preços reduzidos”.
O que temos notado é que para Passos Coelho e Vítor Gaspar os rendimentos muito baixos são o limite da miséria do ordenado mínimo.

Um destes dias, vou ver trabalhadores que recebem pouco mais que o ordenado mínimo a pedir para lhes baixarem o vencimento – para serem menos penalizados; eles são a maioria, e são quem está a pagar tudo.
Quem votou nestes, votou nisto?

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Acordo em Bruxelas para novas condições dos empréstimos.

PrematuroJul2011
                                                             Estou a ver... é prematuro!


A esta hora ainda não é oficial, mas todas as notícias das televisões avançam que os líderes da zona euro acordaram com a alteração das taxas de juro do Fundo Europeu de Estabilização (FEEF), assim como com o prazo de pagamento.

A taxa de juro a pagar descerá para 3% e a maturidade do empréstimo passará para o dobro, ou seja para 15 anos. Portugal pagou pela primeira parte do empréstimo (em Maio) 5,7%.

Os muito optimistas diziam que era dificílimo cumprir os pagamentos com as taxas negociadas com a troika, um outro grupo (que reivindicam o saber fazer contas simples) diziam ser impossível.

Há um terceiro, singular por ser um e por ser único, o nosso já célebre e brilhante ministro das finanças. Aceitou como bom tudo o acordado – nunca se lhe ouviu um queixume – e a semana passada disse que “seria prematuro pedir alterações às condições do empréstimo a Portugal”. Assim, sem tirar nem pôr palavras, como inventaram entre o “desvio” e “colossal”, uma das últimas entradas para o anedotário nacional.

Já ouvi várias personalidades, hoje foi Medeiros Ferreira num programa da SIC, a recordar a este nosso governante, que é ministro de Portugal, e já não um burocrata de Bruxelas, ou professor, ou aluno deferente e cumpridor. Tem a obrigação de defender os interesses do Estado português, e os interesses dos contribuintes portugueses.

Vítor Gaspar tem anunciado medidas que levam à penúria de muitos de nós com uma frieza provocadora, e depois vemo-lo em Bruxelas em vénias subservientes.

As dificuldades quanto mais insolúveis forem para Portugal mais o país ficará refém dos especuladores, não tenho dúvidas que há gente grada para quem a crise é conveniente. É o desmembrar do sector público, o desbaratar património e as privatizações, tudo no sentido de empobrecer o bem comum para servir uns interesses particulares.

Vamos ver o que Vítor Gaspar diz das medidas atenuantes dos líderes europeus, e se algum jornalista o confronta com as suas declarações de ser “prematuro pedir alterações às condições de empréstimo a Portugal”. Talvez saia uma parábola que explique que entre “prematuro” e “empréstimo” há uma semana de pontos e vírgulas.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Compra do BPN. Montepio e BIC nos saldos.

BPNJul2011
                                        in Expresso Janeiro 2011


A história do BPN ainda está longe de ter sido contada. A roubalheira custou mais de 4,8 mil milhões de euros, os contribuintes já pagaram uma parte no orçamento de 2010 e não se sabe se fica por aqui. Neste momento a dúvida é quanto vai custar aos compradores, – e se vão sobrar mais pagamentos para os contribuintes – depois de anos com notícias no sentido de desvalorizar o valor do banco.

É um negócio de leilão mais ou menos combinado, em que uns fingem que vão e desistem e quem se chega à frente, espera pelos últimos minutos para apresentar as propostas. Clássico.

O presidente do BIC Portugal, Mira Amaral, diz que apresentaram uma proposta que acham ser o valor real do banco. Estou curioso em conhecer o valor. Estes negócios de ocasião, como as próximas privatizações, são de alto rendimento para quem compra, e uma tentação para as negociatas. A “Associação Transparência e Integridade” chamou a própria troika à atenção para as possíveis situações de favor nas privatizações. É muito duvidoso que estejam acautelados os interesses do Estado.

É interessante verificar que o banco em cuja fraude estiveram envolvidos vários governantes de Cavaco Silva, e onde o próprio Cavaco se viu atingido, tenha como comprador um outro banco onde um seu ex-ministro (de todos os seus governos) é presidente executivo. Coincidências. Aguardemos pelo fim do mês, altura da decisão do vendedor (o Estado), para verificar o que sucede com a compra do BPN. Será a altura para juntar o muito que se tem dito, também por mim, a última vez aqui.http://oclarinet.blogspot.com/search/label/Oliveira%20e%20Costa

terça-feira, 19 de julho de 2011

Agência de notação corta rating dos Estados Unidos.

QuemdisseJul2011


Segundo noticia o Expresso online; «A agência de notação Egan-Jones Ratings – como tinha anunciado a semana passada – decidiu comunicar aos mercados a sua decisão de baixar o rating do governo federal dos Estados Unidos de AAA para AA+. Esta notação equivale a que a dívida americana continua “quase sem risco” mas é uma machadada na imagem da dívida acima de qualquer suspeita. Nem mesmo quando os Estados Unidos entraram em default restrito por três semanas em 1979 (entre 26 de Abril e 10 de Maio) haviam tocado no triplo A. O tabu foi vencido.»

Ainda segundo o Expresso; «A principal razão deste corte na notação prende-se com o nível de dívida pública federal em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) com uma trajectória de subida de 86,2% em Junho de 2009 para 99,9% em Junho de 2010 e 101,35 em Junho de 2011, avaliado em termos ajustados.
No canal CNBC, o co-fundador da Egan-Jones Ratings, Sean Egan, ironizou que era um rácio “ao nível de Portugal”.»
A seguir

"Contas" de Passos Coelho desvalorizadas pela Comissão Europeia.

fónixJul2011


Imagine-se alguém que tenha pedido um empréstimo bancário, e a quem o banco tenha investigado a sua situação económica; vir dizer, para que o banco ouça, que está muito pior das finanças do que o banco avaliou. Não cabe na cabeça do mais fantasista. Pois é o que o nosso primeiro-ministro voltou a fazer, descredibilizando o país e as comissões técnicas do FMI, da Comissão Europeia e do BCE. Falou num desvio de 2.000 milhões quando o seu ministro das Finanças diz, como a troika, ser metade.

O “desvio colossal nas contas públicas” começou por ser uma fuga (inoportuna?) do Conselho Nacional do PSD. Depois (com as agências de rating a baixar a cotação de Portugal) vieram as costumeiras interpretações, “do que tinha sido dito”, para minimizar a argolada. A desculpa mais divertida foi a do ministro das Finanças que inventou umas palavras entre o “desvio” e “colossal” para lhe enviesar o sentido. Não serviu de nada, Passos Coelho teima na asneira.

Hoje o Diário Económico refere uma fonte comunitária, que considera “estranho” tal desvio, e afirma que “as contas do país foram escrutinadas em grande detalhe”, primeiro por uma missão da Comissão e do BCE, em Fevereiro e Março e “algumas semanas depois por uma missão de mais de 30 técnicos do FMI”. Passos Coelho, ainda não disse onde encontrou o buraco que nenhum dos rodados especialistas viu.

Um governo de gente jovem, até podia ser uma vantagem, de jovens verdes e inexperientes é um problema a somar aos problemas reais. Com mentiras para uso interno que soam como bombos nos organismos internacionais, não vão lá.

O que podemos acreditar, é que com as medidas recessivas que estão a ser impostas, e as afirmações desconexas que as acompanham, resulte um verdadeiro desvio colossal nas contas públicas. Não aparecem políticas que combatam a despesa, apenas impostos e venda de património para arranjar receitas. Os actos da governação resultam em paralisia económica, e o discurso incoerente no aumento da desconfiança, interna e externa. Assim vai o governo de Passos Coelho.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Resgate da dívida de Portugal - o "bom negócio".

EmpréstimoJul2011


As declarações de Klaus Regling ao jornal alemão (na imagem) são uma evidência. Quem recebe juros acima dos financiamentos só pode ganhar com o negócio.
Nada de novo. Ter sido dito por um alemão, que é o presidente do Fundo Europeu de Estabilização (FEEF), que já passou pelo FMI, e é um possível sucessor de Trichet no BCE, tem o seu relevo.

O mais importante é ter sido referido numa entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allgemaine Zeitung, pois são os alemães que mais precisam ser esclarecidos.
Boa parte da população alemã está convencida – tem sido bombardeada com essa campanha – que está a ficar menos rica, por causa dos empréstimos aos países da zona euro em dificuldades.

Os empréstimos são um excelente negócio, já em Abril aqui o referi a propósito da previsão de lucros do FMI para este ano, uma cifra acima de 500 milhões de dólares. Tinham nessa altura revisto os resultados operacionais em alta, para 524,8 milhões de dólares, graças aos novos empréstimos à Grécia e à Irlanda.

Dizia. “O FMI tinha tido resultados negativos em 2007, devido à liquidação antecipada dos empréstimos da Indonésia, Uruguai, Sérvia e Filipinas, e em 2008 por causa das indemnizações por saída de 591 funcionários, o Fundo Monetário Internacional só em 2009 teve resultados positivos com as receitas dos empréstimos à Arménia, Bielorrússia e Letónia, fechando o ano fiscal em Abril de 2010 com 363,2 milhões de dólares de lucro.”

Se o resgate das dívidas soberanas na Europa caiu do céu para o FMI, o maná, acrescido da “ajuda” a Portugal, alimenta toda a finança que beneficia com a crise.

A entrevista de Klaus Regling pode ser útil de duas maneiras, uma perante os alemães, se estes ficarem elucidados das garantias de que não saem prejudicados, e que é o orçamento alemão que está a lucrar, a outra diante dos portugueses; não há razão para ter complexos de pobrezinho endividado, quando se está a pagar com língua de palmo, juros agiotas e alcavalas de castigo.

domingo, 17 de julho de 2011

Chico Buarque - Brejo da Cruz.


Composição do tempo em que o Brasil vivia "sufocado pela dívida externa."

Brejo da Cruz


A novidade
Que tem no Brejo da Cruz
É a criançada
Se alimentar de luz

Alucinados
Meninos ficando azuis
E desencarnando
Lá no Brejo da Cruz

Eletrizados
Cruzam os céus do Brasil
Na rodoviária
Assumem formas mil

Uns vendem fumo
Tem uns que viram Jesus
Muito sanfoneiro
Cego tocando blues

sábado, 16 de julho de 2011

Fausto - A Guerra é a Guerra.

                      Porque hoje é sábado. O nosso melhor!

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Banca passou testes de stress. O meu banco chumbou!

PedrasSalgadasJul2011


Os testes de stress à banca, que servem para calcular a situação dos bancos no caso de as condições financeiras e económicas piorarem, são testes limitados no tempo e nas circunstâncias, as leituras podem ser enganadoras.

Um banco que satisfaça a Autoridade Bancária Europeia, hoje, pode não existir daqui a uns meses, ninguém conhece a amplitude das variações financeiras e económicas, mesmo no curto prazo. O que acontece aos bancos portugueses se a Grécia entrar em bancarrota, sendo a banca nacional a 3º ou 4ª mais exposta à sua dívida? O que acontece se no próximo 2 de Agosto os Estados Unidos forem dados como “incumpridores”?

Estes testes de resistência da banca são para mim secundários. O teste de stress que me interessa é aquele a que a banca me tem sujeito. Podia ampliar, generalizando aos clientes dos bancos, mas nisto cada um tem e não tem razões de queixa. Estou farto de trabalhar para os banqueiros, de ser roubado pela banca, e pelos governos em nome da estabilidade financeira (leia-se, bem-estar dos accionistas dos bancos).

O meu banco não passou no (meu) teste de stress, ou se quiserem – resolvi deixar de andar stressado com o meu banco. Mudar de banco ou até de nacionalidade de banco, vai ser um dos meus trabalhos na semana que vem.

Ainda hoje recebi uma nova tabela de preços dos serviços bancários, com subida actualizada “em face das actuais condições do mercado”. Qual mercado? O mercado das artes gráficas (o meu) aumentou-lhes o preço do fabrico dos livros de cheques? O serviço dos empregados bancários subiu porque estes tiveram aumentos de vencimento? Custos operacionais nada têm a ver com as dificuldades de financiamento ou necessidades de aumento de capital. É o saque aos clientes.

A gota de água foi cobrarem-me uma Comissão de Manutenção de Conta abusiva, e terem alterado o limite mínimo de isenção nos depósitos, que pensava ser 1.500 euros, para 4.000 (!) euros, sem qualquer informação. Confirmei a data no balcão, os bancários foram informados a 1 Junho, eu nunca, e o efeito, retroactivo ao trimestre que acabou nesse mês. Não pode ser, este cliente não aceita.

O que é isto de Comissão de Manutenção, numa conta de microempresa de saldo médio inferior a 4.000 euros? Um pequeno negócio ou um trabalhador freelancer tem de ter parado esse “dinheirão”, quando com o seu movimento pode criar mais-valias? A banca lucra milhões com as Comissões de Manutenção de Conta. Reduzir o número de contas bancárias ao essencial, e comparar os custos no mercado bancário, é a única maneira de não ser (tão) enganado.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Para onde vai a sobretaxa do subsídio de Natal?

VitorGasparJul2011


Vim a acelerar de Setúbal para Lisboa para não perder a conferência de imprensa do ministro Vítor Gaspar, esperava alguma surpresa. Só estou surpreendido comigo – consegui não adormecer. O ministro é um autêntico anestésico, gravá-lo e receitar as suas palestras em CD (unidose) a quem sofre de insónias, reduziria sobremaneira a despesa com medicamentos.

Depois de contar a história de Portugal que muitos de nós conhecemos melhor que ele, dissertar generalidades sobre o Programa de Estabilização Económica e Financeira, arrematou que “no fim do processo saímos da crise”. Até aqui, nada. Já na pintura do quadro macro económico, no seu estilo insensível e monocórdico afiançou que o desemprego vai subir para 13,2% e que a contracção do produto será de 2,3% este ano e 1,7% em 2012; valores mais elevados que as previsões oficiais do INE e Banco de Portugal. A jogar à defesa.

Anunciou que a consolidação orçamental se fará em 2/3 pela despesa e 1/3 na receita. Sobre a despesa disse que estão a trabalhar nisso (!?) que é incerto (!?) e leva tempo; quando “tiverem resultados, apresentam”. Sobre a receita o que já se sabia, uma sobretaxa (50% do subsídio de natal) sobre quem trabalha e os pensionistas, deixando de fora os lucros, os dividendos, e a banca; é a maneira de interpretar a equidade do PSD/CDS e dos burocratas de Bruxelas, ali representados na primeira pessoa.

1,7 Milhões de portugueses, trabalhadores por conta de outrem, e pensionistas, que auferem mais que o ordenado mínimo, vão ser espoliados de parte dos seus rendimentos. Já não são 800 milhões mas sim1.025 milhões, que conforme nos foi informado se destinam a corrigir o “desvio colossal” que já não é de 2.000 milhões, mas sim metade; “na ordem dos 1.000 milhões”. Deste imposto retirado aos trabalhadores sobra uma “almofada de conforto” para socorrer a banca em caso de necessidade.

A prioridade da banca foi assumida pelo ministro Vítor Gaspar, na recolha de impostos para um fundo de reserva, e na razão para não tributar os juros, sob a patranha dos estímulos à poupança e a estabilidade financeira. Os portugueses não poupam, não metem o dinheiro nos bancos, e o governo pimba – tira-lhes o dinheiro e dá-o aos bancos. É um conceito de governação como outro qualquer; a minha dúvida é se quem votou nestes – votou nisto.

(continua)

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Irlanda no lixo. "Desvio colossal" de Passos Coelho.

IrlandaLixoJul2011


A zona euro está em pânico, nas televisões da Europa aproveita-se o horário nobre para debater a situação, por cá continua a política do entretenimento e do entretenimento em política.

Passos Coelho lançou sob a forma de fuga do Conselho Nacional do PSD, mais um rumor de que há um colossal desvio das contas públicas; “conta” auditada pela troika. Está a dar mais uma razão às agências de rating para baixar a notação portuguesa, de lixo, para lixo mal cheiroso. Estará também a preparar aqueles que pensa serem uns papa-açordas, para lhes ir mais ao bolso sem que refilem (muito).

A realidade é que a Irlanda está a fazer tudo “bem feito” (segundo a troika) para se credibilizar, está a seguir o guião, e o resultado é que também foi parar ao lixo. Como vão convencer alguém a ser certinho como a Irlanda? Como vão persuadir os portugueses de que basta a austeridade para “ir aos mercados mais cedo”? Com a infantilidade da herança do governo anterior? Isso não pega nem para consumo interno.

O que se passa na Europa e no mundo é do conhecimento público, por lá nenhum português esteve a governar, o que se vê é a soberania de alguns países a capitular perante a banca e os especuladores.

Na Itália o ministro Giulio Trimonti vai apresentar até ao fim-de-semana um novo plano da velha receita, “gastos públicos/ impostos/ privatizações”. Por cá impostos e privatizações já vimos, e sabemos que vamos ver mais; - gastos públicos, nada. Até se percebe, impostos é fácil, privatizações já estavam combinadas com os amigos e a Igreja. Para mexer nos gastos públicos é preciso estudar, estudar muito, não vá haver erros de análise por falta de estudo, como ditava o nosso estudioso presidente.

terça-feira, 12 de julho de 2011

No aniversário de Pablo Neruda, o poema "Siempre" na música dos Illapu.


Illapu (do idioma Quichua – raio/relâmpago) grupo chileno de raiz tradicional andina, de múltiplos estilos musicais e influências. Fundado em 1971, viveram exilados em França e no México durante a ditadura militar de Augusto Pinochet. Regressaram ao Chile em 1988. Estiveram em Portugal aquando da Expo 98.

Siempre de Pablo Neruda (12Jul 1904 / 23 Set 1973)


Aunque los pasos toquen mil años este sitio,
no borrarán la sangre de los que aqui cayeron.

Y no se extinguirá la hora en que caísteis,
aunque miles de voces crucen este silencio.
la lluvia empapará las piedras de la plaza,
pero no apagará vuestros nombres de fuego.

Mil noches caerán com sus alas oscuras,
sin destruir el día final del sufrimiento.

Un día de justicia conquistada en la lucha,
y vosotros, hermanos caídos, en silencio,
estaréis com nosotros em ese vasto día
de la lucha final, en ese día inmenso.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Juros em máximos! Passos Coelho quer regressar mais cedo aos mercados.

Jurosjul2011

 Passos Coelho voltou a afirmar, desta vez no Congresso da Associação Nacional de Municípios, que quer regressar mais cedo aos mercados. Depois era “o outro” que não tinha noção da realidade. A verdade é que este governo foi aos mercados pagando mais que o anterior, e é verdade também que os juros estão a subir, e muito, apesar do “governo de maioria estável”; o resto é discurso aéreo.

O governo troiko/Passos começou com uma golpada bem explicada por Daniel Amaral no DE, o argumento do défice desconhecido. Para além da mentira em relação ao prometido na campanha eleitoral de que não aumentava impostos, o corte do equivalente a 50% do subsídio de Natal é o equivalente a um “orçamento rectificativo” – o “rectificativo” ser antes da insuficiência do Orçamento de Estado, é outra golpada que apesar de bem feita terá efeitos cumulativos com as medidas da troika. É uma questão de tempo até as pessoas entenderem o artifício.

Para além da conversa que são os discursos, não se vislumbra uma medida (nem em discurso) que vá no sentido do crescimento económico ou da competitividade. Como quer o governo que o país volte mais cedo aos mercados, quando a aparelho produtivo todos os dias fica mais reduzido.
É o que vejo no meu dia-a-dia, no contacto profissional com o sector industrial; empresas paradas ou quase, trabalhadores a irem de férias mais cedo esperando que no regresso haja trabalho, despedimentos do pessoal mais qualificado para poupar nos ordenados, encerramentos.

Passe o que se passe com os “mercados” e o euro, há valências profissionais e tecido empresarial que está a desaparecer para não voltar. Não se vê qualquer sensibilidade do governo para a situação, e se há portugueses preocupados (deve haver) não chegam às notícias

domingo, 10 de julho de 2011

Mensagens de telemóvel. Crédito pré-aprovado.

telemovelJul2011


São milhares (milhões?) os portugueses assediados pela banca para aceitar créditos pré-aprovados ou outras formas de crédito pessoal. Nas condições actuais de sobreendividamento das famílias, e das medidas restritivas que estão a ser impostas, dir-se-ia que era tempo de a banca deixar de perseguir os portugueses. Não é. Enquanto houver uma família sem história de incumprimento de crédito, ela vai ser importunada com ofertas agiotas.

A mim, têm-me chegado propostas embrulhadas de todas as formas; de cheques pré-preenchidos que basta assinar para levantar o dinheiro (supõe-se), a mailings com folhetos ou simples cartas. Os SMSs são o que mais aborrece, não se pode simplesmente rasgar e pôr no lixo, a mensagem apaga-se mas fica na nossa memória.

Há um banco (nem sequer é o “meu” banco) que se especializou a enviar mensagens sucessivas – não é decerto só para mim – desde há meses, quase todas as semanas, e até dias seguidos. Não percebem que os chatos incomodam.

Já depois da Moody`s ter baixado o rating deste banco para “lixo”, recebi mais mensagens a “informar-me” que o banco tem um crédito pessoal pré-aprovado, para mim, de 3.000 euros. Ou a banca tem excesso de liquidez (e a Moody`s enganou-se), ou não tem dificuldades em financiar-se (e andam a enganar-nos a todos), ou entraram no jogo da pirâmide da D.Branca, tentando (contabilisticamente) com novos créditos equilibrar os incobráveis.

Quando se pede moderação no endividamento às famílias portuguesas, não era de tomar medidas para limitar o assédio da banca a essas mesmas famílias para contraírem mais créditos?

sábado, 9 de julho de 2011

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Moody`s. A resposta dos portugueses.

RatingJul2011


A indignação geral contra a Moody`s é demasiado geral para ser séria.
Há aqueles (gastos - agastados) que sempre acharam que a “mão invisível” dos mercados não são quem promove o bem-estar na sociedade, e os outros, que ganharam o poder político nas nossas últimas eleições, com o seu enxame de peões no poder mediático, cujas cenas de cólera só podem ser fita.

Quem ontem lesse editoriais dos jornais económicos (entre outros) ou ouvisse os costumeiros comentadores liberalóides de Tv, rádio, ou da blogosfera, ficaria espantado. Quem ligasse o canal ETV e visse gente nova e (ultra)passada a esbracejar raiva e revolta contra os malvados das agências de rating, diria que estávamos perante um cisma contra o Deus Mercado.

Depois tive a sorte de ver num dos canais televisivos o ex-jornalista de economia e actual opinion maker, José Gomes Ferreira, contorcionista do Circo dos Amadores do Mercado, que explicou aos portugueses que a tramóia da Moody`s durou 24 horas. Está portanto ganho, vencemos a batalha contra a ofensa de desconsiderarem Portugal até ao nível do lixo.

Não há nada como uma campanha publicitária para adormecer o povinho, a partir de agora é só não fazer ondas e cumprir patrioticamente o que diz a troika. Pois eu acho que se enganam em relação às ondas; vai haver grossa tempestade, e também leram mal o que anda no ar. Os ventos que vêm da Europa não foram de solidariedade com Portugal nem tratamento de favor; O BCE não leva em conta as notações da Moody`s, como já não levava em relação à Grécia e à Irlanda, é público.

A notação da Moody`s para os seus clientes (os investidores) não se alteraram, nem se alterou a politica das instituições europeias em relação à defesa do euro. Não está tudo na mesma; piorou e muito, com a agora maior exposição da Espanha. Ficámos todos a saber, e os próprios, que termos um governo liberal não trás vantagens ou qualquer protecção contra os abusos da especulação. O “mercado” é bicho habituado a comer as próprias crias.

A solução está na União Europeia, mas o nosso presidente ou o nosso governo não têm a mínima influência por aqueles lados. Fiquemos pelo manguito à Moody`s.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

BCE sobe as taxas de juro, famílias e empresas com mais dificuldades.

JeanClaudeTrichetJul2011


Crédito à habitação mais caro, empresas com problemas acrescidos.

O Banco Central Europeu (BCE) subiu as taxas de juro de referência para 1,5 por cento. O aumento de 25 pontos percentuais é o segundo, este ano. Espera-se ainda outra subida durante 2011, para 1,75%.

Estava anunciado desde Abril, quando a inflação até tinha descido ligeiramente para 2,7%, valor que se mantém segundo o BCE. O que se alterou desde Abril foram as condições económicas, financeiras e de desemprego nos países da zona euro em dificuldades; o anúncio do BCE, embora esperado, é uma má noticia para os cidadãos alvo de medidas restritivas, particularmente as famílias com crédito à habitação.

Portugal é um dos dois países da Europa com mais famílias sobreendividadas. Em 2010 recorreram à ajuda da Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (DECO) 17.000 famílias, e desde o início deste ano aumentaram em 40% os pedidos de aconselhamento. As razões principais do incumprimento são os encerramentos no comércio e outras empresas e o consequente desemprego, e também a má utilização dos créditos bancários ao consumo.

O BCE, cuja missão tem sido fundamentalmente manter o valor da moeda, vem corrigir a inflação no momento menos propicio para os portugueses. A política monetária restritiva para reduzir o consumo, beneficia países como a Alemanha, a França ou os “Nórdicos”; para os povos com problemas de liquidez (de falta de dinheiro ou crédito) como nós, é mais um factor de asfixia das famílias.

 Dinheiro mais caro a juntar à falta de dinheiro… e ainda falta implementar as medidas da troika.

NB: Para ensaiar o efeito do aumento dos juros no seu crédito de habitação, consultar um dos vários simuladores na Net, ou o portal da DECO.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Portugal no "lixo". Medidas do governo não acalmam os mercados.

EuroJul2011

A agência Moody`s cortou o rating da dívida portuguesa quatro níveis. A sua actuação, como das outras principais agências de rating, não é novidade, andaram pela América Latina a fazer o mesmo; impor o dólar, fazendo as suas ligações ganharem fortunas e espalhando a pobreza.
Viraram-se para a Europa porque o Euro é uma moeda forte e ameaça a moeda americana; é uma tarefa de política geoestratégica.

Os Estados Unidos têm dificuldades mais sérias que o conjunto da Zona euro, em relação à divida. O problema na Europa é político, é preciso perceber se os actuais líderes europeus estão resolvidos a prescindir de alguns países membros para manter o Euro forte. Na dúvida sobre o que pretende a Europa joga-se o futuro dos países em apuros, fazemos todos parte do Euro ou os mais pobres andam cá só para salvar os bancos e enriquecer os mercados.

Terá sempre de haver austeridade para corrigir as contas públicas e privadas, mas os portugueses têm o direito de saber o que acontece após os sacrifícios, e quando é que eles terminam. Se são eternos, de escravidão, temos de encontrar alternativas, recusar o modelo.

Ao contrário do que nos prometeram quando a troika impôs austeridade, ou quando o governo de Passos Coelho somou mais austeridade, as medidas restritivas duras não estão a resultar na acalmia dos mercados.
A receita em vigor é igual à grega, só pode ter os mesmos efeitos. Não se pode pedir sofrimento para apenas pagar os serviços da divida, levando essas medidas a maior recessão e nenhum crescimento económico.

Dependendo dos investidores do mercado não se pode fugir das agências de rating; no governo anterior elas faziam um trabalho indispensável, e eram uma desculpa, como era a crise financeira internacional, neste momento são terroristas e fazem dores de barriga (dão murros). O melhor era Cavaco voltar a juntar os ex-presidentes para se aconselhar e os verdes políticos deste governo pensarem a Europa. Não há solução solitária ou nacional dentro do euro, ou se prepara a saída ou se é mais exigente politicamente junto da União Europeia.

terça-feira, 5 de julho de 2011

PT-GALP-EDP. Governo aprova fim das "golden shares".

SelvaJul2011

É um mau dia para o país e para os consumidores. O Estado enquanto accionista, deixa de ter direitos especiais nas três empresas, o próximo passo será vender as participações. O que termina é a influência determinante do Estado português em sectores estratégicos, a rede nacional de comunicações da PT, as refinarias, petróleos, gás e energia da Galp, e a quase totalidade da electricidade, na EDP.

O fim das “golden shares” é uma exigência da União Europeia, que feita a outros países, eles conseguiram contornar. No nosso caso vem junto com a chantagem da “troika”, ou Portugal larga as acções especiais nas empresas ou não vêm empréstimos.

A troco dos empréstimos vão terminar com tudo o que representa soberania, ou é propriedade comum dos portugueses. As “golden shares” nada têm a ver com a dívida do país, trata-se de subtrair ao Estado português, património e capacidade de decidir sobre o seu futuro.

Todos os países defendem as suas áreas estratégicas e decisivas para a economia. Está a dar-se mais um passo para a saída dos centros de decisão de Portugal, em sectores cruciais. Ainda há pouco se viu como foi importante a “golden share” na PT, no negócio da aquisição pela Telefónica da Vivo brasileira.

Monopólios em mãos estrangeiras serão um problema também para os consumidores; a regulação do Estado seria determinante para impedir abusos destes sectores, mas quem acredita nisso? Se no anterior governo a regulação não foi capaz de proteger quem usa os serviços, neste será pior. Passos Coelho, até para fazer governo cedeu a pressões de Manuela Moura Guedes (Expresso). As pressões dos lóbis serão poderosas e o governo não parece ter intenção de os contrariar.

O fim de algum controlo público nestas empresas, a somar às privatizações apressadas em carteira, será mais uma ofensiva contra a independência do país, e um motivo de preocupação para os consumidores.

O que virá a seguir?

segunda-feira, 4 de julho de 2011

José Graziano (director-geral da FAO) atento a casos de fome na Europa

JoséGrazianoJul2011


José Graciano Da Silva, o professor agrónomo brasileiro eleito no dia 26 de Junho último, director-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), disse hoje numa entrevista à rádio TSF, estar preocupado com o aparecimento de novos casos de fome na Europa.

José Graziano foi entre 2003 e 2004, ministro extraordinário da Segurança Alimentar e Combate à Fome do governo de Lula da Silva, funções que passaram em 2004 para o Ministério do Desenvolvimento. Graziano foi o responsável directo pelo “Programa Fome Zero”, que alimentou no Brasil 24 milhões de pessoas.

Da entrevista realça-se a previsão do aumento dos preços dos alimentos que será de 20% a 30% até 2020; e a sua volatilidade, que torna incerta a produção agro-pecuária. Para a subida contribuem muito os bio-combustíveis. O álcool de milho, subsidiado para ser viável nos EUA, prejudica grande quantidade de produtores fora da América. “O lóbi do álcool é muito forte”, “a recomendação é retirar o subsídio” dando prioridade à segurança alimentar. “É uma opção de política”, acentua Graziano.

Sobre as medidas de austeridade e já se falar em fome na Europa, José Graziano considera “um mau resultado” e salienta que “as correcções de salários, de pensões e outros pagamentos que beneficiam a população mais pobre, inclusive os gastos com programas sociais, pode afectar profundamente o número de famintos na Europa".

Deixou aos governos “o apelo no sentido de não implementarem medidas recessivas que impliquem a redução do consumo de alimentos.” “Isso é vital” realçou. “Nós temos de manter o nível de consumo alimentar”. Como explica Graziano, “ há uma tendência, quase sempre, de quando os recursos diminuem, as pessoas cortarem os seus gastos variáveis, e o gasto mais variável numa família é a alimentação; então termina-se substituindo produtos de boa qualidade por produtos de baixa qualidade, quando não eliminando o consumo de determinados itens, por exemplo de carnes, e isso piora muito a qualidade nutricional e alimentícia.

O director-geral da FAO termina a entrevista dizendo o que espera dos responsáveis políticos. “ A minha perspectiva é que os governos consigam encontrar maneiras de reduzir a volatilidade dos preços, e não ter que reduzir o nível de consumo; de alimentos, principalmente”.

Atendendo à prática dos governos dos países europeus em dificuldades, e às exigências dos países ricos e do FMI, as perspectivas do director – geral da FAO sairão frustradas. O caminho que se está a seguir é precisamente o inverso.

sábado, 2 de julho de 2011

Ministro Vítor Gaspar à frente nas sondagens.

brilhoJul2011

A comunicação social resolveu definitivamente transformar-se em intoxicação social. A forma como foi apresentada uma sondagem da “Eurosondagem” só pode ser para confundir toda a gente. O ministro mais “popular” é o das Finanças, Vítor Gaspar, seguido de Portas e Miguel Relvas, ouvi. As intenções de voto (!) dão o PSD a subir e o PS a descer (!?).

A primeira impressão com que ficamos é que Passos Coelho cometeu o erro da vida dele. Se após dizer que vai tirar 50% do subsídio de Natal a 4 milhões de portugueses eles reagem subindo a sua “votação”, teria sido melhor “roubar” os 150% que precisa. Se a sondagem é verdadeira também é possível tirar 150% aos 100% do subsídio, digo eu.

Depois lá fui confirmar na escrita, que já duvido dos ouvidos. O Expresso confirma em título “Gaspar, Portas & Relvas: a troika popular”, mas quem ler as letras mais pequenas tem a pergunta que foi feita para a sondagem – Dos onze ministros quais acha que vão desempenhar melhor o seu papel? Bom, aqui fica-se mais sossegado, não estamos todos no manicómio, só estão os tipos que fazem jornais.

Fiquei ainda mais tranquilo quando li nas letras ainda mais pequeninas da ficha técnica que o “estudo de opinião” foi feito de 26 a 28 de Junho, antes portanto do anúncio de Passos Coelho do saque de 50% do subsídio. O Expresso também diz que a decisão do governo é anterior ao relatório do INE, o que vem juntar a mentira da justificação à mentira maior de Passos e Portas de que não aumentavam impostos. Mentem como os outros e começam mais cedo a mentir.

Estudos destes ou são rappel ou dinheiro mandado à rua. Propaganda ou “estratégia de comunicação” é muito infeliz. A Vítor Gaspar, ninguém tinha ouvido uma palavra ou sequer um espirro, quando muito serve para aferir o sucesso dos meios de comunicação na promoção de figuras do governo.

Se calhar não é por acaso que o ministro Álvaro é o último da fila, não se cala desde que foi a uma feira advogar o trabalho manual. É que “trabalho de mãos”, seja de ministros, de empresas de sondagens ou da comunicação social, já estamos fartos de ver fazer.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Pedro Mota Soares - pobreza no programa de emergência nacional.

                                       Canção editada em 1973

O governo tem um ministro da Caridade. Desloca-se numa motoreta franciscana e fez discurso no parlamento. Não foi bem um discurso, foi mais uma choradeira pegada sobre os pobrezinhos, do género de fazer secar o saco lacrimal ao antigo Movimento Nacional Feminino.

Pedro Mota Soares (o ministro), um dos autores do novo código laboral, que levou muitos para a pobreza, defendeu um programa assistencialista para os desprotegidos – a arcaica caridade, e o plafonamento dos descontos para a segurança social. Mandou a Solidariedade e a sustentabilidade da Segurança Social às urtigas.

Já se sabia que este governo, como Cavaco Silva, apreciam o apoio misericordioso aos necessitados. A mim, que sou suficientemente velho para ter vivido na época de Salazar e Caetano, lembra-me o tempo em que o povo andava de mão estendida a pedir uma côdea para não morrer à fome.

Lembro colegas da escola primária em Belas, anos 60, que andavam sempre de cabelo (rapado na escola) fora de moda, e conhecidos pela “seita do pé descalço”. Traziam mais uma marca identificadora que não enganava, uma corrente ao pescoço com uma medalha numerada. Esse número dava para irem ao posto da UCAL (ao lado da praça) buscar uma dose diária de leite.

Vai voltar o estigma da pobreza, a ajuda aos humildes, a ternura dos beneméritos, as festas agradecidas dos protegidos para satisfação dos “voluntários” e das instituições – claro as instituições – que são uma vergonha que ainda existam no século XXI, nesta Europa abastada.

O negócio já foi sacar fundos europeus, já foi o ramo ambiental. Agora o que vai dar, que já está a dar, são as IPSS, as Misericórdias – a clientela vai aumentar graças ao governo e os apoios ao negócio também.