domingo, 20 de março de 2011

Outra guerra do petróleo.

Os acidentes nas centrais nucleares japonesas, que espalharam receios fundados na opinião pública mundial, sobre a energia nuclear, são um elemento crucial a ter em conta na disputa do petróleo africano e do Golfo.

Começou outra guerra, dita para garantir a estabilidade e os direitos humanos; agora na Líbia. Como vai acabar, e quando, ninguém sabe.
    
Em Fevereiro apontei o risco de desmembramento da Líbia. No início desta semana escrevi que essa divisão só parecia viável caso houvesse uma intervenção militar estrangeira. A resolução 1973 da ONU aponta para esse resultado. Com a imposição do bloqueio aéreo, e o ataque às forças governamentais por parte da coligação ocidental, se não houver uma invasão terrestre estrangeira – situação que a resolução do Conselho de Segurança proíbe – a Líbia, com a integridade territorial que conhecemos vai deixar de existir.
É uma guerra decidida à pressa, por reacção ao avanço das forças do governo sobre Benghazi, diante da perspectiva de perder o petróleo líbio, como ameaçou Kadhafi.
Para a Europa e Estados Unidos, a braços com uma crise económica, a questão energética é fundamental, como aliás para todo o mundo. Os acidentes nas centrais nucleares japonesas, que espalharam receios fundados na opinião pública mundial, sobre a energia nuclear, são um elemento crucial a ter em conta na disputa do petróleo africano e do Golfo.
China e Rússia que com os países emergentes e a Alemanha, não votaram a favor da Resolução 1973, que autoriza a criação da zona de exclusão aérea, já vieram criticar os ataques da coligação por irem além do objectivo aprovado, Tinham poder para vetar a Resolução. Também a Liga Árabe através do seu secretário-geral disse hoje que “o que se passou na Líbia é diferente do objectivo de impor uma zona de exclusão aérea, e o que nós queremos é a protecção dos civis, não o bombardeamento de outros civis”; a Rússia “apelou para a suspensão do uso indiscriminado da força que já fez vítimas civis” (Lusa). Portugal aprovou a operação militar, e até o Bloco de Esquerda votou no Parlamento Europeu, o reconhecimento como interlocutor da Líbia na Europa, o Conselho de Transição criado em Benghazi, um dos deputados do BE votou pela criação da zona de exclusão aérea.
Só por grande ingenuidade, alguém acredita que a coligação EU, França, Reino Unido, iriam ficar pelo bloqueio aéreo. O primeiro ataque (francês) foi às forças terrestres e não à defesa aérea, a Resolução 1973 autoriza que se tomem todas as medidas necessárias, proíbe, mas não é impossível algo acontecer que leve à invasão terrestre da Líbia. Os ataques à Líbia pelas forças francesas começaram dizendo que Kadhafi estava a usar aviões, quando os Russos que também monitorizam o território líbio afirmavam que nenhum avião tinha levantado voo. Todas as guerras são mediaticamente manipuladas, é a isso que vamos assistir, julgo que durante muito tempo.
A nova política de Obama para o mundo árabe é afinal igual à de Busch, com a escalada da violência, e apesar do apoio das ditaduras do Golfo, haverá um tempo em que a “Rua Árabe” se voltará contra as tropas estrangeiras. Nas últimas manifestações árabes não se queimaram bandeiras americanas; agora no Egipto, os jovens recusaram-se a reunir com Hillary Clinton. Muita coisa pode mudar na região, mas as agressões militares do ocidente não ajudam os moderados dos países em agitação.
A Guerra da Líbia não vai trazer mais estabilidade à zona donde vem a maior parte dos recursos energéticos do planeta. As forças armadas dos Estados Unidos, França e Reino Unido, podem arrasar a Líbia, destruir um país, dividi-lo e tentar dividir os proventos do petróleo e do gás natural, mas não conseguem nunca a paz, nem fazer menos vitimas civis. Escolher um lado numa guerra civil, aumentando a capacidade destrutiva em presença, não vai salvar vidas vai matar mais inocentes. É o petróleo e só o petróleo.


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