terça-feira, 17 de abril de 2012

Argentina. Estado recupera YPF à Repsol. Reacções.

 

O Estado argentino vai passar a controlar 51% da petrolífera YPF e 49% ficarão na OFEPHI (Organização Federal dos Estados Produtores de Hidrocarbonetos), das províncias argentinas.

O governo de Cristina Kirchner tem como “objectivo prioritário conseguir o auto abastecimento de hidrocarbonetos. Justifica a expropriação com o facto de “pela primeira vez em 17 anos a Argentina ter tido de importar gás e petróleo” quando os possuem no seu território, sendo mesmo o “terceiro país do mundo em reservas de gás, a seguir à China e EUA”. A Argentina registou em 2011 um défice de 10.397 milhões de dólares na balança comercial de combustíveis.

A “recuperação da soberania sobre os hidrocarbonetos” segue-se à perda pela YPF/Repsol de 16 concessões em várias províncias, por não cumprir com os investimentos contratualizados. O governo que vinha pedindo às petrolíferas para aumentarem a produção, acusa a YPF/Repsol de “apesar de ter reduzido a produção ter duplicado os lucros”.

“A YPF Investiu 8.813 milhões de dólares entre 1999 e 2011 e obteve lucros de 16.450 milhões de dólares, dos quais repartiu 13.246 milhões pelos seus accionistas”, afirmou Cristina.

A Repsol tomou a YPF em 1999, com o corrupto Carlos Menem na presidência, por 15.169 milhões de dólares, (eram os tempos das privatizações e 20% de desemprego). A Repsol desenvolveu na Argentina uma estratégia extractiva sem repor investimentos, desviando os fundos para o seu crescimento global, o que lhe permitiu expandir-se para o Alaska, Brasil, golfo do México, Argélia ou Líbia. A YPF representa 50% da produção da Repsol e 40% das suas reservas.

No fundo, a Repsol não investiu no desenvolvimento da indústria de hidrocarbonetos na Argentina, limitando-se a extrair os recursos existentes descobertos antes da privatização, constituindo reservas de alta rentabilidade nestes tempos especulativos e enviando os lucros para a sede espanhola.

É contra a depredação dos seus recursos naturais que agora a Argentina retoma o controlo da descapitalizada YPF.

Exemplar a actuação patriótica do governo argentino, que nos alerta para a reversibilidade das privatizações, (que aqui tenho chamado à atenção) e de que a América Latina é lição. O modelo neo-liberal não é o fim da história.

PS. – Rajoy foi para o México em busca de apoio para responder à Argentina; é algo de muito cínico se recordarmos que foi o governo espanhol que impediu a mexicana Pemex de tomar o controlo da maioria accionista da Repsol no Outono de 2011.

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