segunda-feira, 2 de abril de 2012

A culpa de Sócrates.

José Sócrates. Abri 2012 

Fátima, futebol e Sócrates, é a trindade do momento que, como a outra que durou 48 anos, cumpre a missão de desviar o olhar da realidade e dos problemas.

Fátima tem ministério da caridade, protecção e promoção do assistencialismo militante nas suas IPSS e fundos da educação deitados para a doutrina católica; a Igreja é um pilar do regime, como nos (seus) melhores tempos do salazarismo.

Futebol há todos os dias, para prazer dos adeptos (como eu) mas cujo papel de enterteiner político não passa despercebido nem ao Dr. Marcelo. Se o fisco quisesse, este futebol profissional acabava de um dia para o outro, mas perdoa-se o que devem em função do bem que fazem. É um investimento caro mas com retorno garantido e nem parece propaganda.

Se a religião e o futebol continuam a cumprir o seu papel histórico; são aliás um direito adquirido – o direito à alienação – que devia constar na Constituição, já o Fado, subtraído às tabernas e promovido a arte de vanguarda da burguesia urbana, largou o povão e cedeu o seu lugar na trindade; os três efes já não existem.

Sócrates preenche, a sumiço do fado, não o homem mas a Instituição Sócrates, uma fantasia mafarrica que arde todos os dias no pelourinho mediático para gáudio da populaça. Como dantes, os possessos estão na multidão, atiçados pelo justicialismo; já não se juntam na praça; e-maillam-se, twitam-se e facebookam-se em comunidades ululantes de semelhante acuidade visual dos simplórios medievos.

Não é difícil perceber o papel de Sócrates (nem o papel do sistema financeiro internacional, dos líderes europeus e da banca nacional) na crise portuguesa. A propaganda contra Sócrates tem menos a ver com peripécias do governo anterior que com a prática do governo actual.

Sócrates também existe para expiar os pecados de quem chumbou o PEC IV; não se sabendo se a situação financeira aguentava até ao reforço do FEFF, sabe-se que se o BCE tivesse as funções que tem hoje com Draghi, não haveria assistência externa.

A campanha contra Sócrates serve essencialmente a direita no poder e (doseada) é conveniente à esquerda parlamentar e ao próprio Partido Socialista, versão Tó Zé Seguro. Para os portugueses em geral só contribui para a sua estupidificação e para o alheamento da política, como se sabe a antecâmara de males maiores.

P.S. : Um bom trabalho jornalístico de Cristina Ferreira no jornal “Público”, sobre os últimos dias do governo socialista, com o título comercial “O dia em que Sócrates pediu a Cavaco para o salvar da troika”, tem elementos que ajudam a compreender os tempos anteriores à cedência da intervenção estrangeira em Portugal – recomenda-se.

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