segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A verdade sobre Jorge dos Santos/George Wright.

Jorge dos Santos-George WrightOut2011


Os Estados Unidos pediram a extradição do cidadão português Jorge dos Santos, perseguido pela justiça americana enquanto George Wright, por factos ocorridos nos anos 60/70. Está actualmente em prisão domiciliária com pulseira electrónica, na sua casa em Sintra.
A comunicação social portuguesa omitiu factos da vida de George Wright e da política dos Estados Unidos à época dos acontecimentos, por isso transcreve-se de um comunicado do “Grupo de Solidariedade com Jorge Santos/George Wright” as partes do enquadramento histórico e do carácter de Jorge Santos/George Wright.

“ Nestes últimos dias a comunicação social desdobrou-se em notícias sobre a prisão de Jorge dos Santos/George Wright diabolizando-o perante a opinião pública, sem informar sobre o contexto da realidade social e racial dos anos 60-70 nos EUA. Uma sociedade onde o racismo dominava e a comunidade negra vivia na pobreza, o que impulsionou activos movimentos de resistência e de lutas dessa comunidade pelos seus direitos.

Edgar Hoover, o então chefe do FBI, estabeleceu como objectivo principal desta polícia o desmembramento das mais activas organizações do movimento negro, entre as quais os Black Panthers uma organização que lutava pelos direitos da comunidade negra e instituiu um programa social de apoio à comunidade. Ao mesmo tempo outras organizações racistas eram toleradas pela polícia e desenvolviam frequentes provocações, espancamentos e linchamentos, nomeadamente os KKK (Ku Klux Klan).

Foi dentro deste enquadramento que, em 1962, Jorge Santos/George Wright, então com 19 anos, se viu envolvido num assalto do qual resultou a morte de uma pessoa, e embora tenha sido provado que não foi o responsável directo dessa morte, isso não impediu o sistema judicial de Nova Jersey a condená-lo a uma pena de prisão de 30 anos.

Passados 8 anos, Jorge/George evadiu-se da prisão de Bayside em Leesburg. Na cidade de Detroit, para onde foi viver, entrou em contacto com o Black Liberation Army, uma organização que combatia pelos direitos dos negros americanos vindo a envolver-se nas suas actividades. Foi enquanto militante dessa organização política, que participou numa acção para obtenção de fundos, que consistiu no desvio de um avião da Delta Airlines, para Miami, a 31 de Julho de 1972.

O resgate pedido, de um milhão de dólares, foi entregue pelas autoridades americanas em troca da libertação de todos os passageiros, o que aconteceu sem que estes tenham sido molestados.
O resgate destinava-se a subsidiar a actividade da organização, nomeadamente apoiar socialmente a comunidade negra.
Ainda com a tripulação e avião, dirigiram-se para a Argélia onde pediram asilo político, tendo o dinheiro do resgate sido devolvido aos EUA, juntamente com o avião e a tripulação.

Mais tarde os autores do desvio do avião exilaram-se em França, onde permaneceram alguns anos. Foi após a prisão dos seus camaradas que Jorge/George veio para Portugal, e em seguida para a Guiné-bissau, onde lhe foi dado asilo político, e por protecção, uma nova identidade.
Jorge, durante a sua permanência neste país africano, fez voluntariado junto das camadas jovens, ensinando basquetebol, e desenvolveu diversas actividades sociais.

No final dos anos 70, conhece uma portuguesa, com quem se vem a casar. Há cerca de 30 anos, veio viver para Portugal onde adquiriu legalmente a nacionalidade portuguesa. Jorge, como qualquer cidadão, trabalha para a sua subsistência e de sua família (esposa e 2 filhos), não deixando, porém, de participar em actividades de solidariedade, estando sempre disponível para ajudar o próximo.

Apesar de ter a sua imagem denegrida pela comunicação social, é possível verificar-se que se trata de um cidadão integrado e acarinhado pela comunidade onde reside”.

O “Grupo de Solidariedade com Jorge Santos/George Wright” afirma:

Consideramos que o Jorge só tem uma pena a cumprir: a absolvição. Por isso exigimos a sua liberdade incondicional.
A extradição para os EUA para cumprir o resto da pena, passados 41 anos, mesmo com dúvidas quanto à veracidade dos factos propagandeados, só pode ter como resposta, Não!”

Contacto: solidariedadejorgedossantos@gmail.com

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1 comentário:

Paulo Rato disse...

Há crimes, nomeadamente contra a humanidade, que não podem nem devem prescrever. E, no entanto, em muitos casos, os seus autores são amnistiados, obliterados em nome de falsas "reconciliações nacionais". Muitos deles morrem, de velhice, na caminha, apaparicados por filhos que se tornam, desse modo, cúmplices dos crimes dos papás (há coisas que não se perdoam nem a um pai).
Não é esse o caso de Jorge dos Santos, hoje cidadão português, acusado de crimes que - a terem sido cometidos!, já que a "justiça" americana é bem conhecida pelos seus erros e alterações deliberadas de provas, em particular quando os acusados são cidadãos de pele negra (a quem alguns, mui politicamente correctos, chamam "de cor", quando eu próprio, que saiba, nunca notei que fosse transparente, pelo que alguma cor também hei-de ter...) já deveriam ter prescrito há muito!
Entregar alguém à "justiça democrática" dos EUA é, desde logo, algo que tem de ser muito bem ponderado, dada a tristíssima história dessa "justiça".
Neste caso, em que estamos, de facto, perante um homem decente, solidáro, que qualquer prisão americana transformaria - ela sim - num delinquente, seria um crime, ainda que não reconhecido pela lei, mas certamente condenável pela moral, pela decência, pela honradez: que, por natureza, devem preceder, no espírito de quem julga, qualquer norma legal.