O conjunto da esquerda perdeu as eleições, não há outra leitura com um parlamento com maioria de direita. A CDU fala em vitória porque tem mais um deputado, em Faro, embora com a maior descida do PS nada tenham capitalizado. O BE, reduzido a metade, ainda acenou com um novo representante por Aveiro. Não há razão para festejos.
A capacidade de influenciar a governação é reduzidíssima, o seu papel na alteração das políticas quase nenhum; as suas propostas programáticas não têm votos na assembleia que as viabilizem.
Com o PS em reflexão para descobrir o rumo e o líder, a restante esquerda fazia bem em repensar o isolamento em que está. A oposição e uma possível unificação da esquerda, para construir a alternativa ao poder da direita, pressupõem a análise dos equívocos estratégicos cometidos. PCP e BE não aparentam querer assumir quaisquer erros.
Ontem houve um debate no blogue Estrolabio, entre pessoas com e sem partido, a partir de textos dos colaboradores. O meu foi sobre uma matéria sobre a qual acho necessário discutir antes de tudo, é mais ou menos assim:
- PCP/CDU e Bloco de Esquerda aliaram-se à direita no derrube do governo socialista. Sem a colaboração do BE e do PCP não teria havido eleições, nem memorando da troika, pelo menos nesta altura. Não deram explicações durante a campanha, as medidas que sabiam resultar da crise política e consequente entrada do FMI já se sabia serem piores do que o PEC 4.
Abriram uma crise quando a esquerda não estava em condições de crescer ou aumentar a sua influência. PCP e BE crescem nas dificuldades do Partido Socialista, mas não em situação tão polarizada, particularmente o BE que é um abrigo do descontentamento do centro-esquerda.
Depois da queda do governo, as sondagens indicavam o PS à frente do PSD, não havia razão para a esquerda ter ajudado a criar a crise política. Perante o erro, BE e o PCP pioraram a situação com uma campanha ad hominem a Sócrates, juntando-se à comunicação social – sem excepção toda a favor do PSD; a guerra contra o governo que se sabia acabar ontem, indica que queriam limitar os danos.
A campanha do BE e do PCP levou muitos eleitores do centro esquerda para a abstenção, levará Passos Coelho para primeiro-ministro e uma maioria de direita para o parlamento. Vai conseguir para além das medidas da troika, mais algumas de cariz ultra liberal já anunciadas por Passos Coelho.
O resto; se Sócrates é liberal, de direita; se são todos iguais ou mais iguais uns que outros, não é importante. Vamos ter o governo mais de direita desde Marcelo Caetano, e quem o colocou no poder foi a esquerda chamada mais à esquerda.
2 comentários:
Mesquita, este equívoco vem desde 1974. Estão integrados ou não no sistema? Se estão, e como sabemos que estão, porque não apresentar uma verdadeira alternativa de poder democrático com toda a esquerda. Estando integrados e a darem a ideia, mentirosa, de estarem de fora, torna-os nos maiores impostores da política portuguesa e os eleitores não são parvos. Por duas vezes, estes, deram maioria de esquerda na assembleia e o que fizeram os partidos ditos "revolucionários"? Empurraram a direita para o poder que é a única alternativa que PCP e BE têm de sobreviver. É na rua, empurrando os trabalhadores para uma luta sem fim, sem esperança, sem objectivos. Porque se estão a pensar em chegar ao poder, lutando de quatro em quatro anos, por mais um deputado, então desistam já. Quanto ao BE, só tenho pena de todos aqueles que acreditaram naquele projecto, votos deitados à rua. A resposta está aí.
Abraço.
CG
Quanto a mim, a esquerda errou. Nenhum dos argumentos do PCP e do BE me convencem. As suas direcções cometeram um erro histórico ao entregar o poder ao PSD e ao CDS. Bem podiam ter aguardado o final da legislatura, aproveitando o tempo para constituir uma plataforma de acção comum. O ódio a Sócrates, levou-os a ajudar a direita. Dizem-me que não conseguirism explicar aos militantes a viabilização do PEC. Explicar-lhes por que deram a vitória à direita deve, de facto, ser muito mais fácil.
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