domingo, 11 de setembro de 2011

Os efeitos do 11 de Setembro no Chile.

manif.ChileSet2011


É do conhecimento geral o que a ditadura militar de Pinochet provocou na sociedade chilena. A prisão tortura e assassinato, foi a prática durante 17 anos, (de 1973 a 1990) do poder autoritário e repressivo, sobre os militantes e simpatizantes de esquerda e os protagonistas da participação popular na vida pública.

Fazem sentido umas notas sobre a evolução politica chilena, da transição para a democracia que não se concretizou em pleno, com grandes desigualdades na distribuição da riqueza, quando antigos membros e apoiantes do regime de Pinochet, através de novas organizações partidárias voltam a dominar o poder político.

Em 2010, vinte anos após o fim da governação Pinochet, a direita identificada com a ditadura, com nova cara construída pelos media, voltou ao poder com a vitória do multimilionário Sebastián Piñera, candidato da Coligação pela Mudança.

A recuperação da direita chilena assenta na estruturação realizada após o golpe militar e que em 20 anos de “recuperação da democracia” ficou quase inalterada. O Chile foi durante a ditadura o palco experimental do neo-liberalismo, protagonizado por um grupo de economistas americanos (os Chicago Boys). O “milagre económico chileno” teve resultados desastrosos que culminaram na depressão de 1982, e na contestação a Pinochet.

Para implementar o modelo neo-liberal, perseguiram-se os sindicatos, proibiram-se os partidos, encerrou-se o parlamento, terminou a liberdade de expressão; “suspendeu-se a democracia” não durante seis meses como advogava Ferreira Leite, mas durante 17anos; o resultado foi quase 40% dos chilenos abaixo da linha de pobreza, a queda do PIB em 30%, desemprego.

Ficou a desregulamentação da economia, a privatização da segurança social, que deixou metade da população sem qualquer previdência; ficaram maiores desigualdades. Permaneceu o que seria essencial para a recuperação da direita da era de Pinochet, o fundamental da Constituição de 1980, o modelo económico neo-liberal, as intocáveis forças armadas e carabineiros, e o controlo dos grandes meios da comunicação social.

Com Jimmy Carter na Casa Branca, a partir de 1977/78 o apoio americano a Pinochet começou a faltar, as exigências de liberdades civis, o fim da repressão e da censura, passa pelos organismos internacionais; as acusações de violação dos direitos humanos são generalizadas. Em 1987 é aprovado um plebiscito para ratificar o presidente (por 8 anos) sob proposta das forças armadas e carabineiros. O “não” significaria mais um ano de poder para Pinochet e convocação de eleições. O “não” veio a obter perto de 60%.

Nas eleições (Dezembro de 1989) venceu Patrício Aylwin, candidato da Coligação de Partidos (organizações politicas de oposição ao regime) mantendo-se na altura Pinochet à frente do exército.

Em duas décadas de governos da Coligação de Partidos pela Democracia (socialistas, sociais-democratas e democratas-cristãos) a direita foi paulatinamente montando a sua estratégia de conquista do poder. A União Democrática Independente (fundada por políticos ligados ao regime de Pinochet) e a Renovação Nacional (de direita liberal, com gente comprometida com o anterior regime e do centro direita) formaram a Coligação pela Mudança.

Sebastián Piñera, o candidato da coligação de direita, venceu o ex-presidente Eduardo Frei, 52% contra 48%, pouco mais de 200.000 votos os separaram; 40% da população não votou incluindo nulos e brancos; Piñera foi eleito por cerca de um terço dos chilenos habilitados para votar, o resultado habitual da direita pós Pinochet. Tomaram o poder no Chile pelos erros da governação do centro-esquerda, que levou ao abandono do eleitorado.

Durante os 20 anos de governo da Coligação de centro-esquerda, não se alteraram substancialmente as estruturas económicas nem o sistema legal, a riqueza está concentrada numa elite e aumentaram as desigualdades. A desilusão popular foi crescente perante o que esperavam dos governos democráticos, sobre os direitos da educação, saúde pública, habitação e segurança social. O último governo da Coligação teve em 2006, a maior luta estudantil até à época, estudantes do secundário e da universidade fizeram greve duas semanas, foram reprimidas, e Michelle Bachelet teve a maior queda de popularidade.

Agora é a direita chilena no poder, que suporta essas mesmas lutas. Reivindicações sobre direitos que os portugueses têm hoje, que lhes estão a ser retirados e sem a devida contestação popular. O que sabemos pela observação do que se passa noutros lugares, é que uma vez perdidos os direitos, é preciso muito mais luta para voltar a conquistá-los.

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