terça-feira, 5 de abril de 2011

(arquivo) Derrubar o governo para quê?

Fazer cair o governo era fácil, como se viu na discussão do “PEC” ainda o PEC era o Pagamento Especial por Conta e não o Programa de Estabilidade e Crescimento. Com governos minoritários qualquer “maioria negativa” pode deitá-los abaixo. Só não se sabia quando a esquerda parlamentar se aliaria à direita para o fazer. Havia quem acreditasse que nunca o PCP e o BE contribuiriam para colocar a direita no poder.
Com a queda do governo de Sócrates o que se perfila a seguir é um outro governo Sócrates (minoritário ou maioritário), ou um governo da direita, minoritário ou maioritário do PSD com ou sem o CDS. Há mais fórmulas implicando o “activíssimo” Cavaco. O que não se vê é de que forma, das próximas eleições, sairá uma governação mais à esquerda. Daí a perplexidade com a obra da CDU e do Bloco. Será que pensam crescer eleitoralmente porque o eleitorado está descontente. Não vêm que perante as propostas do mais cru liberalismo do PSD, vai haver muito voto útil no PS? Penso que se vão perder deputados à esquerda do PS, dependerá da campanha eleitoral.
O PSD quer ir já “ao pote”. A ansiedade do PSD também não esperou por melhor altura, mais desgaste de Sócrates, ou menos convulsões na zona euro. Nem deram conta que não tinham programa de governo, andando agora em bolandas a encomendá-lo aos habituais “especialistas”. Um ano após ser eleito, Passos Coelho não conseguiu que o PSD escrevesse uma linha sobre a estratégia, estava convencido que bastava a conversa interna. Ainda não é primeiro-ministro e já levou umas reprimendas da União Europeia, e de Ângela Merkel, por ter criado a crise política. Também tem de responder à patroa, e ela não quer compromissos verbais, quer saber, e quer que seja público, “quais as medidas que vão garantir o cumprimento dos objectivos com que Portugal se comprometeu perante a Europa”. Nós, eleitores, também queremos saber, e antes do acto eleitoral. Já conhecemos a conversa de que encontraram as contas piores que imaginavam. Aliás, as contas são sobejamente conhecidas.
O que tem sido lançado como medidas avulsas, alternativas do PSD ao PEC IV, são horripilantes. Aumento de impostos, quando diziam que não era suportável mais impostos, e logo no IVA e para 25%, o tal imposto que chamavam cego por atingir todos, pobres e ricos. Ou também o despedimento de funcionários públicos, que terão de ser milhares, ou o corte do 13º mês, e o resto que se vai ver nos próximos dias, de que as privatizações da “Caixa” da Saúde e do Ensino são exemplos já apontados.
O governo caiu porque as medidas de austeridade eram intoleráveis, e agora propõem-se mais medidas e ainda piores.
A queda do governo nesta altura particular, está a criar problemas suplementares, quer internamente com o financiamento, quer nos outros países ameaçados, como a Espanha, quer ao próprio euro.
Para os portugueses, as alternativas à má situação, apresentam-se ainda mais gravosas. Não se pode ir votar sem perceber bem as consequências das escolhas que se vão fazer, os efeitos na vida da maioria dos portugueses e não nos partidos e suas clientelas.

inSemanário Transmontano de 2011-03-29 Carlos Mesquita

(Às terças-feiras, dia em que escrevo o novo artigo para o jornal, arquivo o anterior no blogue)

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