Eis um caso raro. É vulgar uma figura passar de bestial a besta, basta cometer um erro, e ter algum fidalgo que lucre em diminui-lo para cair do pedestal. No futebol, cujas relações entre o público e os actores são uma caricatura impressiva da sociedade, é frequente ver depreciar os heróis que antes se aplaudiam.
O inverso é difícil de encontrar; com esforço, tentando lembrar casos recentes, talvez o do guarda-redes Eduardo, que não valia nada quando foi seleccionado – dizia-se, e depois fez muito boa gente engolir o teclado.
Com Teixeira dos Santos o jogo é outro, como é bom de ver.
Teixeira dos Santos foi premiado nos jornais, e nos amplificadores das redes sociais, com todo o género de ataques, quer pessoais, quer às suas capacidades profissionais (até pelos seus catedráticos pares). Foi considerado por um artigo de tasca, do Financial Times, como o pior ministro das finanças da União Europeia; o que deu um festim de dixotes, rábulas e piadolas, pois isto de ter um estrangeiro a zurzir um português, tem mais patrióticos seguidores que o Facebook de Cavaco Silva. Nunca foi poupado por nenhuma das oposições no parlamento ou pelos comentadores de serão, o homem andava enfiado e percebem-se as suas razões.
Agora não entrou nas listas do PS, e os mesmos mariolas que antes o sovavam, mudaram de guarda-roupa, montaram os ginetes, e espadeiram por tudo quanto é microfone, câmara de TV ou página com letras, a indignação pela traição sofrida pelo douto personagem, agora portador de imensas qualidades e relevantes serviços prestados à governação.
O guru da agiprop Marcelo Rebelo de Sousa, diz que a “alegada zanga” entre José Sócrates e Teixeira dos Santos “foi um erro do primeiro-ministro”. “Alegada” e “foi” não é um erro de concordância, concordemos que é pura manipulação, coisa que Marcelo faz com primor.
A campanha eleitoral talvez não venha a ser suja, mas que vai ser carregada de inventonas, vai.
Sem comentários:
Enviar um comentário