terça-feira, 12 de abril de 2011

(arquivo) A trapalhada em que nos metemos. (1)


As taxas de juro da dívida estavam em queda antes da entrega no Parlamento do famoso PEC que derrubou o governo; 7,3% a 10 anos e 7,6% a 5 anos, hoje, 15 dias depois, estão a 9 e 10,23% respectivamente. O efeito da queda do governo está à vista e interessa pouco saber se o PSD e o CDS, mais o Bloco de Esquerda, o PCP e Os Verdes, pensaram nas consequências do derrube de Sócrates nesta altura. Está feito. O rating da Republica está próximo de lixo, a banca perdeu centenas de milhões em bolsa, recusa financiar o Estado que a protegeu na crise, e o crédito às famílias e às empresas vai escassear. Na 5ª feira espera-se que o BCE aumente as taxas de juro para suster a inflação; as matérias-primas, objecto dos especuladores, estão em alta, tal como o petróleo que hoje cotava a 122 dólares o barril, devido à guerra de saque promovida pelos EEUU e a NATO na Líbia.

No meio desta situação, entrámos em campanha eleitoral, período propício para escrever panfletos e fazer demagogia barata, coisa que, para além dos colunistas e simpatizantes partidários, o “novo” jornalismo adoptou.

Não é o ambiente para pensar e reflectir sobre os erros que todos os portugueses cometeram, e no entanto é este o tempo em que seria mais necessário fazê-lo.

Aos partidos vai interessar uma campanha crispada, gritada e clubista, feita de slogans e tribalismos, pois todos têm muito para esconder, das asneiras que fizeram, à falta de medidas políticas e económicas, concretas e exequíveis, para propor.

O que o povo quer, o povo pobre (como dizia o outro) o povo remediado e o povo rico, é que não sejam abrangidos por nenhuma austeridade. Isso vai-lhes ser prometido à esquerda e à direita em pacotes de aldrabices.

O que foi feito não vai no sentido de deter a austeridade, antes reforçar os argumentos especulativos dos mercados, que só têm a ganhar com a crise. Derrubar o governo é para a direita um risco mas também uma oportunidade de aplicar o seu programa ultra liberal. Para a esquerda que teoricamente defendia um compromisso social, onde os mais necessitados fossem poupados a maiores sacrifícios, não se percebe como o vão conseguir. O próximo governo, depois da crise política criada, e das pressões nacionais e internacionais para recorrer ao fundo de resgate, irá atacar a economia estatal, o investimento público e os funcionários dependentes do Estado. Para o FMI, Estado é sinónimo de despesa pública. Daqui até às eleições há tempo para visitar algumas das medidas exigidas pela União Europeia e pelo FMI à Grécia e à Irlanda, para conseguirem ajuda financeira. Servirá para testar as promessas que aqui vão ser feitas, como não mexer nas pensões, que foram mexidas e muito na Grécia e na Irlanda. A técnica vai ser, “não queríamos mexer mas o FMI obrigou-nos”.

O protesto sem consequência a que nos habituaram escribas zangados mas bem instalados na vida, e organizações populistas da esquerda e da direita, cujos funcionários usufruem do conforto e segurança, não adiantam nada para o esclarecimento dos eleitores. O melhor é baixar o tom e tentar com menos verbalismo irritado, ponderar os prós e contras das opções dos portugueses.
Há dois meses para desmistificar a política e denunciar o teatro à sua volta.

in Semanário Transmontano de 2011-04-08

Às 3ª feiras arquivo aqui o artigo anterior do jornal

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