O PEC 4 foi chumbado por quem achava excessivas as suas medidas de austeridade (a esquerda parlamentar) e por quem entendia que essas medidas não eram suficientemente severas (Passos Coelho que disse que deveriam ir mais longe). O menos da esquerda com o mais da direita deu mais, não porque a direita fosse mais no Parlamento, mas porque a política não é uma ciência exacta como a matemática; quem tem o programa de governação aprovado é a direita.
A esquerda parlamentar tem toda a campanha eleitoral para explicar à sua base de apoio a razão porque prefere um governo de centro-direita, a um de centro-esquerda.
A crise política criou as condições para vir o FMI, a partir do chumbo do PEC 4, já aceite pelas instituições europeias. Os mercados e as agências de rating trataram de tornar insustentável o financiamento do Estado e dos particulares.
O início da crise política foi o discurso de Cavaco na sua tomada de posse, foi ele que deu o tiro de partida, o sinal que não interviria caso o Parlamento estivesse na disposição de derrubar o governo. A “magistratura activa” de Cavaco foi a sua inactividade. Também ele sabia que se nada fizesse viria o FMI. Toda a direita queria o FMI, já aqui tinha dito que Passos Coelho nunca se candidataria a governar, sem o FMI para acartar com as culpas das medidas impopulares.
O PS que tentava aplicar medidas de austeridade a conta gotas, como chamei em tempos, “empobrecer lentamente em vez de um dia para o outro”, foi traído pela fase desnorteada da União Europeia, sem líderes ou políticas para enfrentar o actual momento. O Partido Socialista não está isento de culpas, há muito que devia ter tomado medidas, que não tomou por serem desagradáveis para os vários grupos de pressão da sociedade portuguesa.
Aos partidos à esquerda do Partido Socialista interessa que o poder seja o entendimento exigido pelo FMI entre o PS e PSD e por acrescento que nada acrescenta, do CDS. Permite ao PCP e ao Bloco assumirem a liderança da contestação de rua que ultimamente lhes está a escapar. Fazem-no com a contradição, que não passa despercebida, de terem contribuído para a vinda do FMI e das medidas mais gravosas que afiançam reprovar. O exemplo dos verdes alemães, criados na contestação de politicas dos democratas cristãos da CDU e dos sociais democratas do SPD, e que hoje são líderes de uma coligação de esquerda com o SPD contra Ângela Merkel, é uma realidade a anos luz da situação portuguesa. Manuel Alegre e Carvalho da Silva entre outros, dizem que é preciso contar com o PS, mas a estratégia eleitoral da “união das esquerdas” vai no sentido de provar que o PS não é de esquerda, fazendo dele inimigo principal. Como o que está em causa são negociações com o FMI onde prevaleçam valores como o Serviço Nacional de Saúde, a Escola Pública, as leis laborais (já desgastadas) e outras conquistas de Abril, tenho dúvidas que resulte em algo vantajoso para as políticas de esquerda, este tipo de opção. Políticas de esquerda com o FMI a ditar as linhas de governação é coisa nunca vista. A curto prazo tudo depende da capacidade de negociação do governo de gestão, o resto é paisagem; ou ilusão como foi o caso de Fernando Nobre.
12/04/2011
In Semanário Transmontano
Publicado em 15/04/2011 com o título
“A trapalhada em que nos metemos (2) O FMI já cá está.”
Às terças arquivo n´oclarinet o artigo anterior do jornal
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