sexta-feira, 1 de agosto de 2014
Poemas de Carlos Loures. O Atlas Iluminado.
Faz depois de amanhã oito dias, que me chegou às mãos o último livro de Carlos Loures, li-o nesse dia e encontrei nos poemas algo que me dá jeito. Gosto da obra literária do Carlos Loures também por isso; dá-me jeito. Estes poemas, O Atlas Iluminado, até têm no subtítulo “manual…” e, como o bom design, é para usar.
Das páginas 50 e 51, das 60 do livro fino e jornada longa, duas passagens da viagem poética.
A espera
Pela noite vou esperando, ansioso,
que o sono me restitua o sonho.
A gente que me habita quero voltar a ver.
Tanta esperança na vida ponho
que a espera me deixa tão nervoso
que até me esqueci hoje de beber.
Soam as vésperas e o dia escurece.
Saio da locanda sem cambalear
é a primeira vez que tal acontece,
chega gente às portas para apreciar.
Sem tropeços corro para a alfurja,
Passo pela gorda quase sem a ver, vou dormir enfim,
e voltar a ver a estranha gente que vive dentro de mim.
Mas o sonho do debuxante muda – no convés é interrogado por um meirinho.
Para que queres um mapa, idiota
se não tens plano traçado, rumo certo? –
Para que te serve a agulha de marear?
- sabes lá se estás longe ou se estás perto!
Se a utopia que procuras, a tal ilhota,
fica onde o sol se põe ou à mão de semear;
se dista mil léguas ou cem toesas.
Cuida mas é dos perigos que se tecem
agora e aqui. Tem as lanternas bem acesas,
está nevoeiro, é mau – é assim que elas acontecem.
Quem anda a olhar para o horizonte, esquece
o chão que pisa e não tarda muito que tropece.
Carlos Loures
in O atlas iluminado – manual de poemonáutica.
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