Polícias de cara tapada nas suas próprias manifestações.
Eles querem amedrontar.
Nuno Santos e Vítor Gonçalves, membros da direcção de informação da RTP, demitiram-se. Em causa a disponibilização de imagens captadas pela televisão e não editadas, (da manifestação de 14 de Novembro) a “elementos estranhos” à estação pública.
Nuno Santos diz na sua carta de demissão que reuniu com o conselho de redacção e com a comissão de trabalhadores, aí garantindo que “nenhuma imagem saiu das instalações da RTP.”
O Conselho de Administração fala na “presença de elementos estranhos à empresa, dentro das suas instalações”, em “acção abusiva” e “quebra grave de responsabilidades”. Diz ainda que “poder-se-á verificar uma violação dos direitos liberdades e garantias, com consequências nefastas para a credibilidade e idoneidade na produção informativa da RTP.”
Cito os comunicados do DE, que também diz que é prática corrente, pedidos de imagens pelas autoridades, mas que, “todas as estações (de televisão) assumem que em nenhuma circunstância cedem imagens que não tenham sido emitidas nos seus serviços noticiosos”.
O inquérito aberto na RTP dirá o que se passou, a boa notícia é a sua existência. Se, mais uma vez se provar que houve agentes da investigação que contornaram a lei, é grave.
A tendência para o abuso da autoridade e a prática do chico-espertismo para obter provas é já habitual. As notícias vindas a público ao longo dos anos serão a ponta do iceberg das ilegalidades; são detectives privados a fazer escutas ilegais para a polícia, são empregados das telecomunicações seduzidos a fazer de espiões etc.
Desde o anúncio pela polícia de que filma as manifestações, que se sabe da intenção de reduzir o número de manifestantes nas ruas, haverá sempre quem receie o destino e uso das imagens. A detenção ou identificação de manifestantes que nada fizeram de errado ou ilegal tem a mesma missão. A repressão, através da brutalidade indiscriminada, é outro passo para dificultar o uso do direito constitucional à manifestação.
A resposta dos democratas tem de contrariar os excessos policiais e o ressurgimento de um poder “musculado”. Estar presente nas manifestações é a melhor réplica a quem pensa ser possível amedrontar um povo que quer viver em liberdade.
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