sábado, 8 de fevereiro de 2014

Ucrânia. Uma fotografia perigosa.

Um quarteto da corda. Fev.2014

Quando a responsável do Departamento de Estado dos EUA, Victoria Nuland, é apanhada a dizer “fuck the EU” num diálogo com o seu embaixador em Kiev, Ucrânia, revela algo importante.

A European Union é, para o governo dos EUA, uma “potência” que não merece respeitabilidade; está degraus abaixo, das duas únicas e verdadeiras potências. Russos e Americanos fizeram um simulacro de intervalo na Guerra Fria que, como é patente, está a terminar.

O teor da conversa entre os responsáveis diplomáticos americanos (reproduzida no Público) denuncia uma flagrante ingerência nos assuntos internos da Ucrânia.

A ver passar outros glutões, fica a despeitada Ângela Merkel. Os alemães estão a ter sucesso imperial na velha europa, mas o velho sonho da Grande Germânia, a leste, tem outra concorrência. Nem os russos abrirão mão da Ucrânia, nem os Estados Unidos deixarão de ultrapassar os aliados da NATO para afirmar os seus interesses geoestratégicos.

Com as convulsões em crescendo nos Balcãs e a destabilização na Ucrânia, um país que está verdadeiramente em leilão, o confronto pela influência política pode descambar em algo mais que retórica e escaramuças de baixa intensidade.

Especialistas em espalhar discórdia, para benefício próprio, são habitualmente os iniciadores dos sarilhos bélicos.

Prefigura-se uma Europa perigosa - onde se estão a juntar motivações para um novo conflito armado em grande escala.

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2 comentários:

Carlos Leça da Veiga disse...

Só posso felicitar-te pela referência à possibilidade dum conflito armado na Europa. A generalidade das opiniões insiste em refugiar-se na tese que a união europeia/IVReich existe para impedir esse terrível desfecho. É mais um dos idealismos que alienam a consciência dos fazedores da opinião pública e a repetição do que era dito no final da Primeira Grande Guerra de 14-18.
Esta Europa construída na base dos expansionismos, sobretudo do germânico, do russo e do francês, que liquidam numerosas Nacionalidades viverá, sempre, em cada um deles, na ânsia dum alargamento da sua zona de influência.
Os germânicos, mais outra vez, querem expandir-se para o leste e os russos para o oeste. A Ucrânia é apetecida por ambos e pode levar a um novo pacto germano-russo capaz de conduzir a um potentado político-militar inconveniente, em tudo, para os ianques.
Portugal, onde a Nação, muito felizmente, se confunde com o Estado devia incentivar todos os independentismos que há nesta Europa e não - como tem feito - incluir-se em blocos como a OTAN e a UE que quaisquer deles, como já está a ver-se, só são fomentadores de conflitos.
CLV

Paulo Rato disse...

Felizmente, são já muitos e já vêm de há bastante tempo os alertas para a possibilidade de um conflito armado na Europa. É o caso do Viriato Soromenho Marques. Ou do luxemburguês Junkers, que apontou a perigosa ilusão de se considerar a "paz na Europa" como um dado adquirido, tendo sido de imediato muito contestado, pelo que - mantendo ainda a ambição de exercer cargos políticos na UE - veio, depois, "amaciar" o conteúdo das suas afirmações (mas nada apaga o facto de terem sido feitas). Ou do sempre lúcido nonagenário Adriano Moreira, que, pela prevalência das suas capacidades intelectuais, não deixando de ser um conservador, há muito abandonou os transviados deslumbramentos que atingiram tantos intelectuais das primeiras décadas do século XX e já por diversas vezes chamou a atenção para esta "espada da Dâmocles", repetindo com insistência mais do que suficiente para quem queira perceber, que "o imprevisto está à espera de uma oportunidade". São muitos os analistas, de diversas origens académicas e políticas, que vêm alertando para o perigo de a "crise" actual vir a "resolver-se", como tantas vezes na História, por um confronto bélico de imprevisíveis dimensões. Já agora, eu próprio, em intervenções nos blogues em que participo, com artigos ou comentários, já transmiti a mesma conclusão há vários anos (o que demonstra que não é preciso ser nenhum génio para reconhecer o que está à vista de todos: basta saber olhar e ter o vício de pensar).
O que falta é quem, exercendo funções de decisiva responsabilidade de decisão, sobretudo política, mas também económica, oiça. Impedidos alguns por puro fanatismo ideológico. Mas a esmagadora maioria por manifesta impreparação intelectual, por - não tenhamos receio das palavras - notórias incultura e estupidez.
O mesmo Adriano Moreira, ainda recentemente, começou a repetir uma nomenclatura extremamente certeira e rigorosa, referindo a submissão de governantes medíocres aos grandes interesses financeiros, recebendo ordens de "empregados da troika": é exactamente isso que são os membros do trio de idiotas robotizados - não eleitos por ninguém - que regularmente nos visitam e comandam um Governo de burgessos apenas interessados nos seus futuros cargos num qualquer Goldman & Sachs ou sucursal, eleitos, é certo, mas através da manipulação dos eleitores, com promessas que logo traem, num desempenho assimilável ao de um vulgar vigarista. E esta gentalha (como diria o BB) anda demasiado ocupada a "tratar da vidinha" para perder tempo em aprender o que a História ensina.
Não esqueçamos também Mário Soares e o "caso" do seu inexistente "apelo à violência" alarvemente engolido - e bolsado - por uma chusma de jornaleiros por igual ignaros e intelectualmente básicos, mas... mui considerados: o que denuncia o "papel determinante" dos "media" e a sua cumplicidade na formação de uma "opinião" pública maciçamente desinformada, meio caminho andado para reacções intempestivas, descontroladas e sem objectivos definidos, prontinhas para ser aproveitadas pelo primeiro demagogo populista, muito provavelmente de extrema-direita, como já está a suceder, com crescente frequência, por toda a Europa.
Cada vez há mais quem procure alertar para as consequências dos rumos políticos actuais, na Europa e não só.
A surdez e a boçal incapacidade de compreender algo de mais complexo que uma telenovela de pacotilha ou os guinchos de apresentadoras de "riélitichós" é que não diminuem.