domingo, 30 de outubro de 2011
Empobrecer para depois pagar dívidas... só em Portugal.
Quando vir um banco emprestar dinheiro aos pobres passo a acreditar na política de Passos Coelho, e dos troikos. O governo está a executar a política da Grécia e não da Irlanda, a Grécia depois de ficar mais pobre não terá economia para pagar as dívidas, e nós, indo pelo mesmo caminho, também não vamos ter.
Passos Coelho não disse que nós vamos ficar menos ricos depois de pagar as dívidas. Disse, “só vamos sair desta situação empobrecendo – em termos relativos, em termos absolutos até, na medida em que o nosso PIB está a cair”.
A questão é se empobrecemos por pagar as dívidas ou para tentar pagar as dívidas (nas condições impostas); não é semântica são os caminhos distintos da Irlanda e da Grécia. O caminho de empobrecer para depois pagar as dívidas só é imaginável em Portugal, é preciso meios para pagar, meios que os pobres não têm nem lhes emprestam.
É abusiva a comparação de Passos Coelho com o Canadá; cuja crise foi feita e desfeita pelo seu Banco Central. Canadá que é, tal como a Irlanda, em boa parte uma extensão da economia dos Estados Unidos.
A Irlanda ao contrário de Portugal, soube negociar com a troika, manteve o seu dumping fiscal e assim a atractividade ao capital estrangeiro, manteve a produção. Por cá, vende-se aos estrangeiros que temos mão-de-obra barata, trabalhadores subservientes e o mercado de trabalho sem regulação, para tentar atrair investimento. Enquanto isso destrói-se o aparelho produtivo e o rendimento das famílias. Com que riqueza se vai pagar as dívidas?
A Grécia é um país com a economia destruída, espoliado dos bens públicos e sem capacidade de sozinha lançar um programa de crescimento, está demasiado pobre e descredibilizada para ir aos mercados, de pouco serve perdoar parte da dívida. A mesma política (da troika) está a ser seguida pelo governo Passos/Portas; se a passividade dos portugueses e da oposição parlamentar o permitir, se por exemplo o Partido Socialista não começar por votar contra o Orçamento, estamos dentro de menos de dois anos na mesma situação.
A dominação dos países pela dívida deu os resultados conhecidos em África e América Latina, nunca criou condições para “recuperar um trajecto de crescimento económico” como anuncia o nosso governo. Pelo contrário, foram roubados os bens públicos naturais, privatizados os sectores rentáveis, reduzidos os orçamentos da saúde e da educação, congelados e diminuídos salários, sem que diminuíssem as dificuldades em obter crédito.
Ao sul há países com décadas de asfixia financeira provocada pelas medidas do FMI.
Chegaram à Europa com a complacência da União Europeia e penso que não terminam antes das eleições na Alemanha e na França. Para os optimistas, este filme de terror não dura o tempo que auguram os políticos europeus e os economistas ao seu serviço. Acaba antes de porem toda a gente a comer apenas batatas.
Nesse caso, Passos Coelho e Paulo Portas são figurantes duma curta-metragem. E o quadro de Van Gogh uma coisa do século dezanove.
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