quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A situação Síria e o veto na ONU da Rússia e China.

Siria. Crac dos Cavaleiros.Out2011


A realidade geoestratégica no médio oriente alterou-se esta semana com a votação no Conselho de Segurança da ONU (CS). As potências mundiais que compõem os BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) não apoiaram a resolução que condenava a Síria. Brasil e Índia abstiveram-se (com o Líbano e a África do Sul) e o veto da Rússia e China neutralizou a proposta feita pela França em colaboração com os países europeus no Conselho, Reino Unido, Alemanha e Portugal.

A Rússia disse através do seu embaixador Vitaly Churkin que “havia um conflito de leitura política” e que tinham a preocupação de que se a resolução passasse, se abrisse a porta para uma intervenção militar do género da Líbia. A China justificou com a sua política de “não interferência nos assuntos internos” de outros países.

Na verdade quer a Rússia quer a China, que deixaram passar a resolução 1973 do CS, o ponto de partida para a intervenção militar da NATO na Líbia, tiveram com esse erro enormes prejuízos, para além da influência política e económica na região, ambos perderam muitos milhões em negócios (a China repatriou 36.000 pessoas da Líbia). Aprenderam com a experiência.

Os esforços ocidentais (Europa, Estados Unidos) de desestabilização da Síria, não decorrem com a mesma facilidade que na Líbia, não há uma região por onde partir o país para daí prosseguir com o auxílio militar estrangeiro. A Síria de hoje é o que resta da Grande Síria que englobava territórios do Líbano, Jordânia, Israel e Palestina, havendo nacionalistas que incluem o Iraque, Kuwait e Chipre. Nenhum sírio aceita dividir o país, o que poderia suceder era uma guerra civil com obvio envolvimento de países estrangeiros.

Pelo que se lê, na Síria haverá manifestações populares “inspiradas na primavera árabe” e equipas militarizadas em confronto com as forças regulares, há mortos de ambos os lados e também de civis. O que é provocação da Arábia Saudita e dos Estados Unidos, o que é repressão do poder ninguém pode confirmar, – principalmente depois da reconhecida intoxicação mediática na Líbia – o que podemos defender é uma solução política que impeça outra guerra.

Bachar al-Assad, que era um oftalmologista sem ambições políticas em Londres, é presidente por morte acidental do irmão Basil. Considerado um reformista antes desta crise, foi eleito e reeleito em referendo pelos sírios. Intelectuais de todas as tendências reuniram abertamente para encontrar soluções para a Síria. O partido Bass, suporte do poder, aceitou a multipartidarismo, vão ser marcadas eleições parlamentares entre o fim deste ano e Fevereiro de 2012.

A confirmar-se um plano de desestabilização da Síria, ele está a correr mal para quem o engendrou. A votação na ONU talvez tenha impedido mais uma aventura intervencionista ocidental e permita que homens de vários credos vivam em paz num mesmo lugar, o que não sucede na grande maioria dos Estados da região, de Israel aos países árabes.


Outro post sobre a Síria: -  (Síria. A situação é mais complexa do que parece.)

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