Nas visitas que hoje fiz ao “Facebook” dei com um ambiente de ressaca desalentada, dos meus amigos e amigos deles, pela reduzida presença de manifestantes, ontem. Esperavam mais, eu não.
O ambiente da grande manifestação de 15 de Setembro acabou há muito; não há apoio da RTP, as eleições autárquicas colocaram todos os activistas em modo eleitoralista/divisionista e ainda não se encontrou o botão para desligar.
Como querem manifestações unitárias contra o governo, se nove em cada dez coisas que escrevem é para denegrir o partido do lado (onde pensam poder ir buscar votos) ou a ideologia desviante dos seus textos filosóficos? Odeiam-se e invejam-se mais do que odeiam o governo.
Uns “não são de esquerda”, outros “não são revolucionários”, o chico do Sabugal é acusado da invasão da Checoslováquia, o Manel de Celorico é tal e qual um menchevique, O PEC 4, isto, o Pinóquio, aquilo, um parente do político x é corrupto; não há boneco sem defeito na má-língua das redes sociais.
Tal entretém afasta pessoas que se podiam encontrar para defender coisas simples como o Serviço Nacional de Saúde ou a Escola Pública, ou ainda uma causa menos exigente que é o derrube do governo. Mas não, a esquerda é má companhia para a esquerda, a esquerda é racista da esquerda.
Há uma procura incessante pela perfeição, que na política de esquerda parece ser alcançável pela destilação; de cisão em cisão até à alquimia de onde brote a vanguarda imaculada e fundamentalista. Para trás são todos traidores, eles ou os pais, e com traidores não se fazem manifestações.
Ao contrário de alguns dos meus amigos, que são mais exigentes sobre com quem se manifestam do que com quem casam, tenho apoiado e participado num leque alargado de manifestações. Dia 1 vou estar em São Bento (a partir do Rato) em mais uma demonstração dos sindicatos contra o governo. (ver quadro em cima/direita)
Uma solução para a ressaca das manifestações é outra manifestação.
P.S. Não me venham dizer que são muitas manifestações juntas, como já ouvi a quem acha que, “lá fora”, os manifestantes fazem muito bem em não sair das ruas.
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