sábado, 21 de dezembro de 2013
O aborto e os meus ovários.
Las consignas; as palavras de ordem; têm de rimar? Gosto desta da imagem em cima: “Tirai os vossos rosários dos nossos ovários”.
Estive antes de ontem na Cinemateca, com um amigo que há muito tempo afirmava que “uma só solução/revolução socialista” rimava melhor que qualquer palavra de ordem (poética) criada por Manuel Alegre.
Conheceram-se e desentenderam-se em Argel, também por causa da companhia da palavra socialista; evolução ou revolução? As (r)evoluções têm os seus opostos, os reaccionarismos, e estão a vingar(-se) por aqui e pelos arredores.
O poeta Ary fechava o notável poema As Portas Que Abril Abriu, com os versos “agora ninguém mais cerra as portas que Abril abriu”. Até ele deve ouvir, no bar do céu dos poetas, as portas a bater cá em baixo.
E as portas a bater no nosso vizinho.
O governo de Mariano Rajoy aprovou ontem uma nova lei que restringe o aborto no estado espanhol. Um “retrocesso de 30 anos” como denunciam activistas e a oposição ao governo conservador do Partido Popular (irmão siamês do governo Passos Coelho). Rajoy está a anular uma das leis mais salientes do governo de Zapatero. Pode, deram-lhe a maioria.
Nada é certo e perene, como se vê, as portas do Ary mais parecem de um saloon. Mas esta realidade das alterações profundas em hiatos históricos, também podem ser vistas com optimismo. O Fausto canta que “atrás dos tempos vêm tempos e outros tempos hão-de vir”.
Acredito que há-de vir um tempo em que se volte a nacionalizar o que foi erradamente privatizado e se volte a ter tudo o resto que se está a perder. Olhar para a América Latina de hoje e sabendo o que foi quando intervencionada dá esperança.
Mas ter vivido no tempo de Salazar e Caetano, ter vivido o 25 de Abril, e agora passar por isto, é demais para os meus ovários.
(ver post seguinte, clicar em "Ofensiva contra a lei do aborto - em Portugal")
Para ver últimos posts clicar em – página inicial
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Há coisas em que homens e mulheres se unem, tendo ou não ovários. Já se temia esta decisão do governo espanhol. E por cá como vamos neste aspecto? Isso das portas de Abril... acreditemos como o Fausto que “atrás dos tempos vêm tempos e outros tempos hão-de vir”.
Boa reflexão, juntando o que se passou na cinemateca e o momento actual.
Clara, em resposta ao "como vamos por cá"; a campanha estendeu-se, como chamo à atenção no post seguinte. Para além da Igreja, o que eu vi hoje, foi um circuito jornais/televisão - Correio da Manhã/TVI. São profissionais!
Enviar um comentário