Excerto da interpretação de Ney Matogrosso.
Um amigo lembrava-me Ney Matogrosso e o “Trem da Leopoldina”, tema bastante conhecido por ter passado na rádio portuguesa. O poema chama-se na verdade, “Tem gente com fome” e é da autoria de Solano Trindade, infelizmente menos divulgado por cá.
Solano Trindade (24/07/1908 – 19/02/1974) natural do Recife/Pernambuco, poeta da resistência negra – “ícone da poesia negra” (afro-brasileira) – foi também pintor, dramaturgo, actor, folclorista; divulgador da cultura negra, agitador através da sua literatura de causas e intervenção cultural. Militante político contra a desigualdade social e racial, foi preso duas vezes pela ditadura brasileira, a última das quais por causa do poema “Tem gente com fome”.
Tem gente com fome
Trem sujo da Leopoldina,
Correndo correndo,
Parece dizer:
Tem gente com fome,
Tem gente com fome,
Tem gente com fome…
Piiiiii
Estação de Caxias
De novo a correr,
De novo a dizer:
Tem gente com fome,
Tem gente com fome,
Tem gente com fome…
Vigário Geral,
Lucas, Cordovil,
Brás de Pina,
Penha Circular,
Estação de Penha,
Olaria, Ramos,
Bom Sucesso,
Carlos Chagas,
Triagem, Mauá.
Trem sujo da Leopoldina,
Correndo Correndo,
Parece dizer
Tem gente com fome,
Tem gente com fome,
Tem gente com fome…
Tantas caras tristes,
Querendo chegar,
Em algum destino
Em algum lugar…
Trem sujo da Leopoldina
Correndo correndo,
Parece dizer:
Tem gente com fome,
Tem gente com fome,
Tem gente com fome.
Piiiiii
Só nas estações,
Quando vai parando,
Lentamente, começa a dizer:
Se tem gente com fome,
Dá de comer…
Se tem gente com fome,
Dá de comer…
Mas o freio de ar,
Todo autoritário,
Manda o trem calar:
Psiuuuuuu
Solano Trindade
In Poemas de uma vida simples
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