quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
Menos portugueses apoiam a democracia? Qual democracia?
O Público apresenta conclusões de um estudo sobre a qualidade da democracia em Portugal, no mínimo abusivo. Inquiridos 1207 indivíduos em Julho de 2011. “Apenas 56% dos portugueses consideram que a democracia é preferível a qualquer forma de governo”. A fotografia que ilustra o artigo é de uma manifestação em frente à Assembleia da República; serão as manifestações, demonstração democrática das posições políticas e sindicais dos cidadãos também um problema da democracia?
Um dos autores, António Costa Pina, diz que o estudo mostra que “há regressão no apoio aos sistemas democráticos”, 15% dos inquiridos considera que, “nalgumas circunstâncias, um governo autoritário é preferível a um sistema democrático”. Como 15 para 100% não são 56, falta saber que sistema entre o poder democrático e o autoritário é preferido, ou não será, tão-somente, a descrença neste simulacro de democracia em que vivemos. A prová-lo estão 86% dos inquiridos que querem “eleições livres e justas”; e 86% para 100% já dá 14, – próximo dos 15% que preferem um governo autoritário, (no universo do inquérito serão os mais satisfeitos com a realidade que vivemos).
Temos um governo a exercer contra o que prometeu em campanha eleitoral, a suspensão da Constituição no que se refere aos direitos sociais, laborais, na saúde, na educação; a soberania entregue a interesses estrangeiros, políticos e económicos, mais desemprego e pobres, a comunicação social mais controlada pelos grupos económicos e seus interesses, etc. Os portugueses só podem estar insatisfeitos com a qualidade da nossa democracia.
A percepção da degradação da democracia é por causa de esta não cumprir a democracia económica prometida, das decisões do poder político serem interpretadas como contrárias aos interesses da maioria dos portugueses. O que parece resultar do estudo é a exigência de mais e melhor democracia, e não um apelo a formas autoritárias de poder. Democratizar a democracia é contar com outras formas de participação cívica das populações, da democracia real, de consulta directa sobre questões relevantes como a privatização da água e outras, a par da promoção da justiça social.
Se agora 15% aderem a soluções autoritárias, (segundo Costa Pina, 12 a 17% aderiam no início da democracia) repare-se que “nos 30 anos do 25 de Abril, era de 7%”. Estamos a regredir, não é surpresa, é fruto do poder actual promover o enfraquecimento da democracia. É uma situação recuperável.
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1 comentário:
É recuperável, mas não sei se ainda vamos a tempo. Não é nada que eu não esperasse, numa posição mais pessimista que a tua: várias vezes, no "estrolábio" e nos "argonautas", referi os perigos da acção desta récua de camelos que desgoverna Portugal e a UE e intervém noutras instâncias que influenciam os destinos da Humanidade, preparando o caminho para o aparecimento de um qualquer demagogo "salvador". Recordei que Hitler se alcandorou ao poder, democraticamente (com umas "ajudas", para incrementar os sentimentos de insegurança dos alemães) em circunstâncias de desespero generalizado de que nos estamos a aproximar perigosamente. A História diz-nos que esta foi apenas uma (a maior, até agora, porque a época trouxera já armas mais eficazes na sua atrefa de destruição) de muitas catástrofes desencadeadas em situações político-sociais semelhantes. Mas os burros não aprendem nada, quanto mais História!... Só vão perceber quando, parafraseando Brecht, os "forem buscar a eles", que, cumprido o seu papel, já de nada servirão aos eventuais ditadores. O que me dana é que quem vai sofrer são os nossos filhos e netos. Só espero que seja a tua esperança a derrotar o meu pessimismo.
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