sexta-feira, 25 de maio de 2012
Sondagens alemãs apontam fim da coligação de Merkel.
A germanização da Europa é inevitável? O poderio económico é capaz de decidir a hegemonização política e isso interessa à Alemanha?
A classe dominante não tem pátria mas a classe dominante de um país é capaz de controlar por algum tempo uma região, no entanto o paradigma económico e cultural alemão não é fácil de ser imposto a uma Europa historicamente plural no pensamento e tipo de vida, e cujos países foram desenhados por muitas batalhas. A União Europeia é na sua essência um conjunto de compromissos.
A condução alemã é desastrosa também para a própria Alemanha. Como dizia o ex-chanceler Helmut Schmidt, em 2011, “é fundamental para os interesses estratégicos alemães que a Alemanha não fique isolada de novo” pois se “cair na tentação de assumir o papel de liderança os vizinhos vão defender-se cada vez mais”. Nisto de condução quem sabia era o campeão Jackie Stewart, cujo segredo confessou ser, “manter-se na frente o mais devagar possível”.
Na corrida, Merkel já perdeu o pendura Sarkozy com quem simulava fazer equipa, e tem vários problemas com os adeptos internos e externos.
As eleições municipais, regionais ou estaduais realizadas em vários países europeus têm determinado tendências, recomposições partidárias e mudanças na paisagem representativa dos povos, que acabam por se reflectir no topo político da União Europeia. Ultimamente no Reino Unido e Itália como antes em França, que aqui acompanhámos, há sinais de mudança a partir das eleições locais.
As eleições estaduais que Merkel perdeu, têm implicações nas gerais de 2013, pelos efeitos nas forças políticas e pela estabilidade das sondagens, embora estas sejam de um curto espaço de tempo.
Após os mais importantes resultados nas eleições estaduais na Alemanha, a tendência é para que o conjunto CDU (União Democrata Cristã) CSU (União Social Cristã da Baviera) não possa contar com o FDP (Partido Liberal) para conseguir um governo de maioria conservadora, como o actual. CDU/CSU valem 33 a 35% e o FDP não passa de 5%.
À esquerda, o Partido Social Democrata (SPD) membro da Internacional Socialista, tem entre 26 a 30%, Os Verdes (Die Grunen) de 12 a 14% e A Esquerda (Die Linke) 5 a 7%. Os Piratas, defensores da liberdade de partilha na Internet, não têm história de alianças partidárias, valem 10 a 12% e não apoiarão, de certeza, os conservadores alemães.
Ângela Merkel partirá para a campanha de 2013 sem coligação de direita à vista, com problemas na CDU por ter demitido o seu ministro do Ambiente, Norbert Rotten, no rescaldo da derrota nas eleições da Renânia do Norte-Vestefália em que ele foi candidato. Caiu mal em sectores democratas cristãos a demissão do presidente da maior organização regional da CDU, apontado como sucessor de Merkel, também por ela ter antes afirmado que as eleições estaduais não teriam reflexo na política federal.
Os sociais-democratas do SPD têm o regresso ao governo quase assegurado, independentemente da coligação. Não estarão na primeira linha da defesa das Eurobonds, na sua versão integral, que já defenderam no início da crise, mas foram capazes de juntar a troika de candidatos à liderança; Peer Steinbruk ex ministro das finanças, Sigmar Gabriel actual líder e Frank-Walter Steinmeier presidente do grupo parlamentar, para recusar o Pacto Orçamental na sua actual versão, fazendo várias exigências a Merkel.
A Regra de Ouro foi inicialmente refutada pelo Die Linke no Parlamento, organização que passa por muitas dificuldades depois de falharem no estado de Scheswig-Holstein e serem literalmente afundados na Renânia do Norte-Vestefália pelos “Piratas”. O Die Linke está em declínio com inconsequentes debates internos e crise de liderança. O último episódio foi o reaparecimento e desaparecimento do ex-líder Lafontaine, a tentar unir Leste e Oeste e outros conflitos. Entre ter dois presidentes ou a mais provável Sahra Wagenknecht a liderar, esperam recuperar “A Esquerda” na Convenção do início de Junho.
Os “Verdes” (Die Grunen) ou Aliança 90/Os Verdes; juntaram afinidades aquando da unificação da Alemanha, têm crescido notável e sustentadamente, e receberam do desastre de Fukushima uma ajuda suplementar para o seu programa anti-nuclear. Pragmáticos na exequibilidade das suas propostas, sendo uma força estadual importante terão uma palavra, talvez decisiva, nas eleições federais.
Numa época de visibilidade das grandes contradições, a pequena politica ainda regula a vida no curto prazo, as mudanças da representatividade na procura de novos equilíbrios apenas dizem o que não queremos. A germanização da Europa não é aceite passivamente, nem é missão de todos os alemães.
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