sábado, 5 de maio de 2012
Eleições na Grécia. Quem são os partidos?
Há sobretudo incerteza sobre o futuro da Grécia e do governo grego. As últimas sondagens davam a vitória à Nova Democracia, da direita conservadora, e uma maioria de esquerda impossível de se coligar para exercer o poder – a crer no que cada um tem dito na campanha eleitoral. Espera-se que as legislativas sejam as mais disputadas das últimas décadas.Quem são os principais partidos?
Nova Democracia (ND) – Partido conservador do centro-direita, um dos dois grandes partidos; fundado após o fim do regime dos coronéis (1967/1974), por Konstantínos Karamanlís. Depois de quatro meses de governo “provisório” com partidos pró ditadura e membros da oposição, constituiu o primeiro governo da Terceira República Helénica.
A ND governou até Outubro de 1981, sendo primeiro-ministro Karamanlís e nos últimos cinco meses Geórgios Rállis. Voltou em 1989 numa coligação com a esquerda radical (Synaspismós) que durou cerca de três meses. De Abril de 1990 a Outubro de 1993 foi governo com Konstantínos Mitsotákis, só voltando em 2004 com outro Karamanlís (Kosta), sobrinho do fundador, que governou até Outubro de 2009, tendo sofrido uma derrota esmagadora e deixando um défice e dívida pública que são responsáveis pela situação actual da Grécia.
Apesar disso, sondagens de Abril davam à Nova Democracia 21,5%, a votação mais alta entre os partidos que vão a eleições no domingo.
Movimento Socialista Pan-helénico (PASOK) – Partido Socialista, filiado na Internacional Socialista, fundado em 1974, após a ditadura, por Andréas Papandreou. Teve a primeira vitória eleitoral em 1981, com maioria parlamentar e o primeiro-ministro foi Andréas Papandreou, governou também na legislatura seguinte até 1989. Foi um período desenvolvimentista mas também marcado por escândalos económicos, a “cura” de oposição durou até 1993, tendo Andréas Papandreou renunciado ao cargo de primeiro-ministro, por doença, passados três meses. Konstantínos Simítis, eleito pela bancada parlamentar socialista sucedeu a Andréas, governou até 2004.
O PASOK só voltou ao poder em 2009, em plena crise, sucedendo à Nova Democracia. O líder do governo foi o Geórgios Papandreou filho de Andréas, entretanto eleito presidente do partido. Foi obrigado a negociar com a Troika e veio a renunciar ao cargo perante a ameaça de golpe militar e após ter sugerido um referendo para auscultar os gregos sobre a aceitação das medidas de austeridade.
Sucedeu-lhe Evangelos Venizelos que tinha derrotado nas eleições internas em 2007, o ex-ministro das finanças diz que vai pedir a ampliação do período de ajuste fiscal e apresenta um “plano de regeneração nacional” aos eleitores.
O PASOK vai “pagar as favas” da situação grega, pois ficará, segundo as sondagens de Abril com apenas 14%. Outras dão-no em linha com o KKE e o SYRIZA.
Esquerda Democrática (DIM.AR.) – Partido da área socialista, fundado em Junho de 2010 por dissidentes do Synaspismos (a principal força da coligação radical SYRIZA) a que se juntaram discordantes do PASOk, entre eles alguns deputados socialistas, expulsos por não terem respeitado a disciplina de voto na aceitação do memorando da “troika”. Há cerca de um ano elegeram Fotis Kouvelis para líder.
O DIMAR não aceita participar numa coligação da Nova Democracia com o PASOK (a situação desejável pela política dominante na U.E.) e dá como condições para trabalhar com partidos pós eleições, que aceitem a Grécia na Zona Euro e que aprovem o desligamento gradual do acordo de empréstimo da EU/FMI. Não se vê a participar nem numa coligação à esquerda que podia vir a dar maioria, nem no arco governativo que aceita as imposições da “troika”. O futuro da Grécia depois de domingo, passará pela coerência e capacidade política de Kouvelis, com algumas sondagens a darem-lhe a segunda posição tinha em Abril 9,5%.
Partido Comunista da Grécia (KKE) – Partido Marxista – Leninista “ortodoxo”, fundado em Novembro de 1918 (ML em 1924) sob a influência da Revolução Bolchevique. Passou a maior parte da sua história na clandestinidade, ilegalizado pelo ditador Ioannis Metaxas em 1936, organizou a resistência às ditaduras, ao ataque de Mussolini, à ocupação nazi; sofreu grande repressão, a prisão e os campos de concentração, a execução e o assassinato, após a Segunda Guerra e como resultado da guerra civil (1946-1949) viu milhares dos seus militantes e simpatizantes novamente exilados, o que deu origem a dois partidos, o interno e o exterior com base em Moscovo.
Só após 1974 teve condições para a luta política legal. Partido anti-sistema está contra os tratados da União Europeia as bases militares estrangeiras e a NATO. Em 1989 a parte “interna” esteve na criação da coligação da esquerda Synaspismos de que resultou uma crise de identidade, parte afastou-se da aliança em 1991.
Actualmente rejeita participar em qualquer governo mesmo constituído por partidos de esquerda, acusa a esquerda radical de criar ilusões. Como considera não haver soluções no interesse do povo, em sistema capitalista, não entra no jogo burguês de gerir o sistema. Defende a saída da Zona Euro e da União e o não pagamento da divida. Nas eleições, o principal objectivo do KKE é que resulte um governo fraco. Nas sondagens 11%.
Coligação da Esquerda Radical (SYRIZA) – Esquerda, congrega diversas organizações da esquerda grega, com diferentes origens ideológicas que vão dos comunistas (trotskistas e maoistas e dissidentes do KKE) ao eco-socialismo, verdes, socialismo democrático, esquerda ecológica e outros activismos. A coligação tem quatro vezes mais organizações e sensibilidades que o Bloco de Esquerda português. Como é “normal” em partidos criados pela colaboração de grupos de esquerda, a atractividade e crescimento é proporcional às saídas para formar novos movimentos e isso tem-se passado.
Criado formalmente antes das eleições de 2004 tem no partido Synaspismos o principal impulsionador. Dobrou os deputados em 2007, desceu em 2009 e nos últimos meses tem subido novamente nas sondagens. Com o objectivo de chegar ao terceiro lugar nestas eleições, pretende a constituição de um governo de esquerda. Acreditam para isso ser possível demover o KKE e a Esquerda Democrática das suas convicções. O SYRIZA apoia a continuação da Grécia na União Europeia mas opõe-se aos termos do resgate da “troika”. Nas sondagens de Abril 13%
Concentração Popular Ortodoxa (LAOS) – Partido ultra-nacionalista de direita, fundado em 2000 por Giorgios Karatzaferis, expulso da Nova Democracia. Fez parte da coligação de apoio ao governo de Lucas Papademos, saiu em Fevereiro para não aprovar as medidas de austeridade. Composto de militantes conhecidos pelo seu extremismo, moderou tacticamente a sua linguagem com excepção da causa contra a emigração.
Defensor da repatriação em massa dos emigrantes, tem usado temas como ao desemprego e o crime, as reparações de guerra pela Alemanha e o não pagamento da divida grega. Está disponível para coligações pós eleitorais com qualquer partido, com excepção da Nova Democracia e o PASOK. As sondagens aproximam-no da entrada do parlamento, onde é necessário o mínimo de 3%, que tinha em Abril. Teve nas últimas eleições 5,2%.
Gregos Independentes – Partido de direita nacionalista, anti-austeridade, criado recentemente por Panos Kammenos, ex-membro da Nova Democracia expulso do grupo parlamentar. Rejeitam o acordo com a “troika” e dizem que a Grécia foi vitima duma conspiração internacional. Nos Gregos Independentes estão dez dos deputados expulsos pela ND. Querem o FMI fora da Grécia e a criação de um banco de investimento. É uma organização criada em função das alterações havidas na Nova Democracia pois consideram errada a viabilização com o PASOK do governo. São a continuação da capitalização do descontentamento popular que a ND deixou de poder ter. Tinham em Abril 11% das intenções de voto.
(sondagem citada - 20 Abril - Ekathimerini)
Para além destas organizações políticas, outras formações dos 32 partidos concorrentes podem vir a obter os 3% necessários, estão entre elas, os Ecologistas Verdes, ou a Alvorada Dourada uma organização neo-nazi. Também a Aliança Democrática do ex-ministro dos estrangeiros Dora Bakoyannis e a Drasi liberal, do ex-ministro da economia Stefanos Manos se aproximam. Certa é a dispersão de votos. Deixemos para amanhã a análise dos resultados e da situação política que resultará na Grécia e seus reflexos na Europa.
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1 comentário:
Muito útil e bom trabalho.
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