terça-feira, 3 de maio de 2011

(arquivo) Enfrentar um novo ciclo.

Os portugueses parecem estar todos à espera do resultado de um exame clínico. Como se andasse por aí uma epidemia facilmente transmissível, que infecta de forma mais ou menos grave a população. As reacções são variadas, enquanto uns vivem despreocupados como habitualmente, outros entraram em depressão esperando o pior, ou ficaram zangados irritados e irritantes, e nos casos mais graves, desataram a gastar como se estivessem condenados e não houvesse amanhã. Um familiar que tem acesso às contas duma grande empresa de distribuição contou-me que nesta Páscoa se bateram todos os máximos de consumo, e já não é a primeira vez que me informa de records.
Ou anda tudo doido ou há muita gente, demasiada, que ainda não tem noção da situação que se está e vai viver.
Para além dos casos de indivíduos que estão em processo de negação, há o contributo de muita gente que fala e escreve com a única razão de desabafar ou fazer propaganda. Passa a ideia perigosa que se ficarem os mesmos governantes o tipo de vida fica na mesma, que se substituírem os governantes o tipo de vida fica na mesma e até que se não se votar ou votar em branco nas próximas eleições, o tipo de vida fica na mesma.
A verdade é que independente das mudanças de governantes o tip
o de vida vai passar a ser diferente para os portugueses, e para a maioria vai mudar para pior.
Digo isto sem ponta de pessimismo, com a idade e vivência de quem ultrapassou várias crises, sem a estabilidade da reforma ou de um emprego certo, mas crente que se todos perceberem o estado do país, será mais fácil enfrentar os problemas.
Um vício a erradicar é a culpabilização exclusiva dos governos, uma moda burguesa e populista com que alguns contam para manter os privilégios.
O principal problema nacional é a Divida Externa, (do Estado e dos particulares), a maior parte dela é das famílias e das empresas, não foi feita pelos governos, foi causada pelos juros baixos e o crédito ao consumo de que se continua a abusar. Muitas corporações de interesses vivem bem em instabilidade política, muitas oportunidades de negócio (exemplo, saúde e ensino privados) medram nas dificuldades do Estado.
É verdade que o Estado tem sido gastador, mas o papel do Estado é gastar as receitas – bem, dirão todos – mas o que é gastar bem? Os governos não podem esbanjar o dinheiro do Estado, devem gerir a distribuição da riqueza do país da melhor forma, qual é a melhor forma? Não se pede a todos os portugueses que saibam responder, mas pede-se que tentem ajuizar das propostas diferentes dos que se propõem governar, e dos partidos exige-se que apresentem propostas claras e que as discutam à frente de todos.
Portugal precisa (e agora que chegou o FMI precisa de mais) de apoio financeiro substancial durante um largo período, para pagar juros e amortizar (substituir) divida, para financiar a economia.
Portugal precisa de crescimento económico, de gerar excedentes que cobram o valor dos juros, e sabe-se como isso vai ser difícil. É necessário transferir recursos que agora vão para o sector de bens não transaccionáveis para o sector de bens e serviços exportadores, substituir importações, consumir produtos nacionais, atrair euros externos e gastar menos euros no estrangeiro. A evolução do nível de vida dos portugueses depende das balanças com o exterior, depende mais de cada um que dos governos, que na zona euro não podem ter restrições fronteiriças.
Fazer política no acto de comprar é boa politica, e isso só depende de nós.
27/04/2011


In Semanário Transmontano
Publicado em 29/04/2011 com o título
“À espera do resultado dos exames”
Às terças arquivo n´clarinet o artigo anterior do jornal

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