Coisas que não há que há
Uma coisa que me põe triste
é que não exista o que não existe.
(Se é que não existe, e isto é que existe!)
Há tantas coisas bonitas que não há:
coisas que não há, gente que não há,
bichos que já houve e já não há,
livros por ler, coisas por ver,
feitos desfeitos, outros feitos por fazer,
pessoas tão boas ainda por nascer
e outras que morreram há tanto tempo!
Tantas lembranças de que não me lembro,
sítios que não sei, invenções que não invento,
gente de vidro e de vento, países por achar,
paisagens, plantas, jardins de ar,
tudo o que nem posso imaginar
porque se o imaginasse já existia
embora num sítio onde só eu ia…
Manuel António Pina 1983
Recomenda-se este trabalho de Sara Reis Silva sobre a escrita poética para a infância, de Pina.
De Manuel António Pina seguimos as suas excelentes crónicas no JN, até as discutimos. Por curiosidade tenho a sua assinatura não num livro mas no meu cartão de sócio do velho Cineclube Imagem, a cuja direcção pertenceu.
Uma outra poesia, de outros tempos.
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