terça-feira, 31 de maio de 2011

Prisão preventiva de menores e Marinho Pinto.

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Faz falta, de vez em quando, alguém vir lembrar o estádio da nossa civilização, o irracional que habita cada um, e a facilidade com que se resvala para a era animalesca da nossa espécie.

Marinho Pinto, bastonário da Ordem dos Advogados, que dizem ter uma animosidade militante com a classe dos juízes e tem em minha opinião pouca habilidade com a política, tem qualidades raras nas nossas figuras públicas; é corajoso, faz declarações iluminadas pelo saber e é um indefectível defensor dos direitos humanos. É um adversário declarado do “justiceirismo”, seja dos poderosos, seja das massas ululantes sedentas de vingança. É simplesmente um homem justo que prima pela Justiça. Faz falta.

Vem a propósito do caso de violência adolescente que fomos obrigados a presenciar, e que hoje já constitui a maior dose de violência gratuita televisiva imposta aos telespectadores. Gratuita a das televisões que as miúdas pensam que tinham boas razões para a brutalidade. TV que não passe dezenas de vezes as imagens (atentatórias no youtube) nem é órgão de informação.

O caso em si não é o mais importante, e não faltam especialistas encartados a prenunciar-se, muitos deles não fazendo ideia do que é educar um adolescente na suburbanidade de Lisboa. Sempre houve violência juvenil, no meu tempo a pancadaria era igual, pelos mesmos motivos fúteis, embora sempre aparecesse alguém mais velho ou com mais “cabedal” para apartar (aqui notei essa perversidade), e no tempo do meu pai era pior, por causa dos namoricos jovens de aldeias vizinhas pegavam-se aos tiros e havia mortos. Sem TV, jornais ou sequer telefonia, vivia-se na paz salazarenta, não havia notícia nada acontecia, havia “segurança” como hoje dizem alguns saudosistas.

A sociedade dá sinais de regressão e Marinho Pinto fez bem em alertar para a desproporcionalidade das penas aplicadas aos jovens agressores. Não foi popular num país onde os pelourinhos ainda estão intactos e os castigos e a educação á pancada moldaram as personalidades de muitos. A criminalização de brigas de adolescentes pode parecer exemplar, como pode transformar em maiores delinquentes quem se quer punir. Cada pai que assista às imagens pedirá a justiça dos Céus e da Terra, quanto mais doses vir mais vingança pedirá. Os tribunais existem para que não se faça “justiça” pelas próprias mãos, os meios de comunicação são criminosos quando para deleite e lucro exploram uma situação de violência transformando-a em selvajaria e repulsa colectiva.

É passageiro, muita chama para pouco pavio. Como todos os casos mediáticos vão deixar traumas nas personagens e nos espectadores. Espera-se que a Justiça não vá pelos maus caminhos do “justiceirismo”, e que reconsidere pois a prisão é para gente perigosa, por mais que desagrade à satisfação doentia pela humilhação.
Não é promovendo a raiva que se pacifica.

Os jovens delinquentes precisam que se fale com eles. Não querem ouvir ninguém? Dêem-lhes uma pena que contrarie a sua vontade – obriguem-nos a ouvir.
Abram-lhes outras portas para além das portas das cadeias.

1 comentário:

clara castilho disse...

Adorei o final - o de abram-lhes outras portas! É isso mesmo. Para que possam deixaar sair dentro de eles próprios o que está mal e deixar entrar algo de mais positivo que os façam encarar o futuro com ooutras armas que não as da agressividade. Que aprendam o poder da palavra!