As propostas de governo são um espanto. Começa mal esta campanha eleitoral. Ontem dizia aqui que com sound bites não vamos lá. Os partidos pouco mais têm para oferecer.
Parece haver um concurso entre as forças políticas para apresentar o governo mais irracional. É Sócrates a admitir governar com Passos Coelho e Portas a ministros. É Passos Coelho a dizer não aceitar governar com Sócrates; é Portas a afirmar que nem com Sócrates nem com o PS, e é PC e Bloco a dizer que fazem um governo de esquerda sem o PS – com 15% mais ou menos de votos. Nada disto é sério, e no entanto é central nas campanhas dos vários partidos.
Sócrates e Passos Coelho não governarão juntos, quer por vontade do socialista quer por falta de vontade do líder do PSD. Se Passos Coelho ganhar o mais certo é Sócrates ser obrigado a deixar a liderança do PS, aí Passos Coelho ou tem um líder substituto no PS que aceita o acordo da troika, e conta com o PS, ou não, e tem toda a esquerda na oposição; não há aplicação do memorando. Se Sócrates ganhar, Passos Coelho sai de imediato para dar lugar a um qualquer da multidão de PSDs em lista de espera. Governarem juntos ou mesmo contra o outro na oposição, é uma falsa questão, nem se entende como possa ser argumento eleitoral.
Paulo Portas diz que não governa com o PS, aceita (quer muito) ser ministro de Passos Coelho e até sonhou poder ser designado primeiro-ministro, o que só seria possível se Cavaco acordasse estremunhado e o resto do país se pusesse a dormir. Ou dá o dito por não dito, ou não tem condições para estar em qualquer governo, o plano da troika já difícil de aplicar é impossível sem um largo consenso. Portas está a empurrar o PS para a esquerda.
CDU e Bloco de Esquerda querem votos para um governo de esquerda, não é para o próximo de certeza. Nem se percebe a que partes do eleitorado se dirigem. É um erro, como foi não irem reunir com a troika se queriam algum papel “atendível”, se não querem e só querem congregar protestos não deviam falar em governo que o tempo não está para ilusões. Melhor fariam se centrassem a campanha na composição do Parlamento, onde podem fazer alguma diferença na votação das nuances de aplicação do programa da troika.
Recompor a esquerda com um PS sem Sócrates é pedir a vitória de Passos Coelho nestas eleições, não o podem dizer. Empurrar o PS para a direita não o podem evitar.
O tacticismo eleitoral está a levar todos os partidos a fugir da realidade, ou seja, a falar para o boneco. A discussão das formas de governo não faz sentido antes de saber os resultados eleitorais, e as propostas apresentadas por cada um, além de não lhes darem votos, só os descredibiliza. Nada disto é sério
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