Existem duas teses sobre o que é actualmente a organização al-Qaeda; a morte de bin Laden deve ser vista nesse contexto. Ou a al-Qaeda é ainda a organização terrorista que atacou o ocidente no seu terreno, ou se transformou numa organização aliada dos outros movimentos islâmicos que no mundo árabe combatem a influência ocidental.
De qualquer forma o significado do desaparecimento de bin Laden tem mais impacto na simbologia da vingança ocidental e no terreno eleitoral norte-americano que no futuro da al-Qaeda
al-Qaeda, “A Base”, traduz através do nome o formato organizativo inicial, de células independentes, que uma vez treinadas, financiadas e definido o tipo de actuação, tinham autonomia para levar a cabo as operações. Uma organização desse tipo, difusa e desligada de organigramas decisórios permanentes é difícil de ser detectada pelo inimigo. A força da al-Qaeda vem de serem militantes ocultos, compartimentados em células, que quando apanhados limitam os danos ao seu pequeno grupo operacional. Alguns foram recrutados no seio da sociedade ocidental, com passagem pelos campos de treino jihadistas ou não, só se tem dado por eles quando executam ou vão executar acções. Essa al-Qaeda (supondo que há outra) não pode ser decapitada. Nessa bin Laden não era a cabeça do “exército” e o seu desaparecimento só irá aumentar a retaliação contra o ocidente – a criação de mártires não reduz a violência.
Fala-se por outro lado numa “nova” al-Qaeda; que teria revisto criticamente a estratégia de actuação após a reflexão de alguns dos seus líderes que se tinham oposto ao 11 de Setembro. Suleman Abu al-Gaith, (que foi porta-voz da organização) e que seria agora mensageiro desse sector, publicou na internet o ano passado, o manual “Vinte orientações para a Jihad,” onde foi muito crítico para bin Laden e outros dirigentes, acusando-os de isolar a al-Qaeda dos outros movimentos e do mundo islâmico.
A actuação da al-Qaeda na Líbia é um sinal que algo mudou, uma vez que operam aliados aos partidos islâmicos, abandonaram as acções de terror, e o próprio Dr. Ayman al-Zawahiri que antes justificava o 11 de Setembro fez declarações a condenar os ataques a muçulmanos nas mesquita, nos mercados, ou locais de reunião, e disse nessas mensagens que falava em nome de Ussama bin Laden. Quando diz que “os membros da al-Qaeda não devem participar em ataques, nem contra muçulmanos nem contra não muçulmanos” estamos perante uma al-Qaeda desconhecida das notícias que hoje andarão pelos órgãos de informação ocidentais.
Ussama bin Laden morreu, se não houver actos terroristas reivindicados pela al-Qaeda, pode significar em vez da fraqueza da al-Qaeda, a mudança anunciada da sua estratégia política.
Do que não há dúvida, é que actualmente na Líbia, a al-Qaeda está a armar os seus mujahedeens com material fornecido pelo ocidente, tal como os Talibãs se armaram quando o inimigo era a União Soviética. Isso fica para outro post.
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