A cacofonia de soundbites tornou o discurso político de tal forma subjectivo, que os destinatários deixaram de lhe dar importância. Os receptores não os entendem, ou melhor, entendem-nos todos iguais. Daí “os políticos dizerem todos a mesma coisa” segundo as críticas ligeiras aos políticos, que dizem também todas a mesma coisa – é o seu sound bite.
O Sound Bite no seu conceito primordial resumiria a informação sintética, que permitia ao jornalismo citar, e desenvolver essa informação, fazendo a notícia. Pressupõe captar o essencial da comunicação em frases curtas que são ditas, trabalhá-las com análise jornalística, enquadrando-as na temática e no momento.
O chamado “jornalismo de sound bite” perverteu a função quando passou a escarrapachar frases descontextualizadas, escolhidas pelo seu efeito imediato, o que através de “lei da oferta e da procura” (salvo seja), levou a que, particularmente na política, a produção intelectual esteja dirigida para a criação do sound bite e não de propostas políticas. Uma habilidade de linguagem tem direito a aparecer na televisão, uma ideia suportada em argumentos é censurada.
No fundo não há tempo, dizem os preguiçosos dos políticos e dos jornalistas, não há tempo para reflectir sobre o que se diz, não há tempo para reflectir sobre o que disseram antes de propagar a mensagem, dar opinião ou notícia.
Medeiros Ferreira pede (no seu blogue) “encarecidamente às estações de televisão a oferta de uma hora de reflexão aos espectadores antes de serem bombardeados com as sentenças sobre vencedores e vencidos dos debates pelos comentadores”. Pede “uma hora de reflexão, por piedade”.
O conceito de vencedores e vencidos nos debates é estranho, os debates são feitos para esclarecer os eleitores que ganham se ficarem mais esclarecidos, o resto é plástica, que ao contrário do propagado não ganha eleições. Se assim fosse os mais pequenos partidos da direita e da esquerda, CDS e Bloco, campeões do Soundbaitismo no parlamento e em campanha seriam os mais votados.
Com o tempo oficial de campanha a decorrer, todos ganhariam em explicar ao que vêm em vez de perderem tempo com palavras de ordem, frases com impacto ou marketing político parolo; o povo sabe que vai viver pior, quer saber o que cada partido vai fazer para gerir esses tempos de dificuldades. Isso não se consegue com sound bites.
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