Primeiro uma citação: “os impostos indirectos tratam todos pela mesma medida, tanto pobres como ricos, razão porque são, nesse aspecto, mais injustos. É essa aliás, a razão porque nunca concordei em taxar cada vez mais os impostos indirectos, nomeadamente o IVA”. Fim de citação – do livro “Mudar”, da autoria de Pedro Passos Coelho. O líder do PSD mudou, como manda o livro, e agora defende o contrário; prefere aumentar os impostos sobre o consumo a reduzir ordenados, (não conhece alternativa, diz ele) ou talvez não tenha mudado porque diz que o PSD não aumenta os impostos.
De certeza mudou, como diz a capa do livro, porque ora diz uma coisa ora diz outra de sinal contrário.
Diga-se – porque é verdade – que Passos Coelho está a ser coerente com o que se propõe fazer…mudanças!
A congruência de candidato a primeiro-ministro ainda não está reconhecida nas sondagens devido ao ritmo das mudanças. Quando ele mudava de discurso de uma semana para a outra ainda era possível acompanhá-lo. As pessoas, principalmente os que acham que “só os burros não mudam de opinião” até consideravam que estava a evoluir de um “imaturo político” para um político às direitas (a imagem deve agradar-lhe). O problema tem sido que os discursos troca-tintas passaram a ser de um dia para o outro, depois da manhã para a tarde, a seguir de uma hora para a outra e já chegou ao ponto de contradizer-se no mesmo discurso.
É visível que Passos Coelho não aguenta a pressão, e não sabe o que é estar sujeito à contestação de rua dos sindicatos ou dos interesses “corporativos”. Um debate amigável com Jerónimo de Sousa (o que faria Cunhal num confronto com um ultra liberal só se pode imaginar) foi suficiente para meter os pés pelas mãos – pior só a barraca que Catroga deu no “Prós e Contras”. Para ir buscar o dinheiro que faltaria na Segurança Social, com os 4 pontos percentuais de redução da Taxa Social Única (TSU) para as empresas, deu como exemplo a receita que haveria com subida da taxa de IVA da Electricidade, 500 Milhões de euros. Depois sentiu que tinha dado mais um tiro no pé, – e deve andar com os pés muito sensíveis do tiroteio sofrido nos últimos tempos, – e lá corrigiu dizendo que o exemplo não era exemplo. Pois não, Passos Coelho sabia exactamente o valor da alteração do IVA na electricidade, sem que ninguém se tenha dado ao trabalho de fazer essas contas, e não dá para um terço da TSU.
Para ajudar à festa, Eduardo Catroga (o seu ministro das finanças?) defende a abolição da taxa intermédia do IVA, confirmando o que Passos Coelho quis desmentir. Adeus restauração, receitas do turismo e um dos sectores mais atingidos pela retracção do consumo.
No fundo o que Miguel Relvas confessou é o verdadeiro problema do PSD:
-“Sempre que falamos verdade, os portugueses retraem-se”.
De facto, fazer ninho com tantas argoladas não é fácil.
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