domingo, 29 de maio de 2011

Há pepinos contaminados em Portugal ou não há?

pepino


Primeiro disseram que Portugal não importava pepinos de Espanha, agora a ASAE está a investigar se recebemos pepinos. Afinal em que ficamos.
Depois o problema não é só os pepinos, são todas as hortícolas e o controle da qualidade da água de rega, para além das boas práticas dos consumidores.

Há um surto de infecções intestinais graves na Alemanha, provocado por uma variante da bactéria E.coli. Já matou nove pessoas e há centenas de outras contaminadas. Análises locais detectaram a estirpe perigosa em pepinos espanhóis e num outro de cultura biológica.

Na 5ª feira o ministério da Agricultura esclareceu (!?) a situação dizendo que “não se confirma a existência desse produto em Portugal”; dessa declaração os jornais fizeram títulos peremptórios “Não há pepinos contaminados em Portugal”. Dizia o ministério: - “Portugal não foi informado pelas autoridades alemãs ou pela Comissão Europeia (CE) como sendo um país de destino desses produtos”. É de ficar de pé atrás, então os alemães são quem sabe o que importamos dos nossos vizinhos aqui do lado? O controle das nossas importações é feito pela CE, não temos organismos que saibam o que entra em Portugal?

Agora, o secretário de Estado da Defesa do Consumidor pôs a ASAE em campo para determinar se recebemos pepinos espanhóis. As autoridades portuguesas, se não queriam alarme, fizeram asneira. O que cria medo nas pessoas é pressentirem a ineficácia das autoridades que velam pela segurança alimentar. Teria sido adequado dizer a verdade, lançar de imediato a inspecção e aproveitar para aconselhar a população (sim, outra vez!) sobre os cuidados a ter no consumo de vegetais crus.

O problema não é os pepinos, são todos os vegetais regados com águas contaminadas. O E.coli está presente nos intestinos humanos, o sistema imunitário do indivíduo saudável controla a estirpe já por si conhecida. A circulação de pessoas, o próprio uso pela agricultura de imigrantes de outros continentes, pode trazer variantes de E.coli para as quais não há defesas na nossa região. Os cuidados que temos no consumo de vegetais crus em outras regiões do globo faz todo o sentido tê-los por cá.

É curioso ter-se encontrado o E.coli resistente num pepino de cultura biológica, produtos consumidos essencialmente por quem está muito preocupado com os venenos que se usam na agricultura. Fugir dos pesticidas para se intoxicar com a água de rega não é o caminho, a solução está na desinfecção, lixívia q.b. ou ozónio para quem tiver gerador. Também não vale a pena culpar os espanhóis, por cá os vegetais são regados da mesma maneira e corremos os mesmos perigos.

5 comentários:

PM disse...

Do meu ponto de vista está-se a entrar em alarmismos escusados, tal como a gripe A (que mata menos que a gripe mais comum), ou mesmo a gripe das aves (que sempre existiu e todos os anos mata muitas pessoas nos países asiáticos e só não se fala agora porque há outras notícias "mais quentes" para mostrar).

Em relação aos pepinos:

Este não é um problema de saúde pública à escala global e de forma duradoura.

Parece-me, sim, uma conjugação de falta de higiene no manuseamento dos produtos pós-colheita (e isto pode ter acontecido em qualquer parte da cadeia de transporte até ao consumidor final) e da presença anormal da referida estirpe algures na cadeia de transporte.

As bactérias que afectam o ser humano não entram para os produtos hortícolas. Não é a água de rega, mesmo que contaminada (e já digo porque a água de rega não está contaminada), que vai contaminar os pepinos ou os tomates, beringelas, etc. Isto pelo simples facto de as bactérias não serem absorvidas pelas plantas!
Não existe E.coli dentro dos pepinos. é preciso esclarecer isto.

A E.coli encontrada, estava na superfície dos pepinos...na casca.
Ora, como na produção dos pepinos, a rega não se faz por aspersão, mas sim por gota-a-gota, mesmo que estivesse contaminada, as bactérias iriam directamente para o solo ou substrato e não para as plantas e muito menos para os frutos (que no caso dos pepinos estão a grande distância do solo).

Tanto no modo de produção biológico, como o convencional, usam a fertirrega com gota-a-gota, logo, a E.coli não poderia ir para os pepinos, nem pela "molhagem", nem pela absorção pelas raízes.

Uma forte possibilidade é, sim, na água usada para lavar os pepinos após a sua colheita.
Caso os pepinos sejam de origem hidropónica, não terá sido necessário a sua lavagem no ponto de origem. E sem serem de produção hidropónica, acho difícil ser necessário proceder à sua lavagem. Actualmente a maior parte dos produtos agrícolas não necessita de lavagem no local de produção.

Portanto, pode muito bem ter acontecido que os pepinos tenham sido molhados/lavados na Alemanha...no mercado alemão...ou algures durante o transporte...

Para tirar as teimas é fácil. Basta analisar os pepinos no ponto de origem, assim como a eventual água usada para lavagem nesse mesmo ponto.

Mais, noticiaram que os pepinos contaminados vieram de Espanha e da Holanda. Ora, acho muito pouco provável que em ambos os países tenha surgido E.coli nalguma água de lavagem e que tenha sido aplicada aos pepinos nesses países.

É, sim, muito provável, que a água contaminada de lavagem seja da Alemanha mesmo.

Portanto, calma com as notícias e alarmismos. A não ser que haja aqui mão de terrorismo biológico, o sector agrícola não é um foco de contaminação da saúde pública com E.coli.

Cumprimentos
PM

PM disse...

No comentário anterior esqueci-me de referir o seguinte:

Na holanda, praticamente tudo é produzido em hidroponia. Neste sistema, existe tratamento da água contra organismos microbiológicos para o caso de existir bactérias que ataquem as plantas (bactérias exclusivas de plantas, diga-se).
Portanto, pepinos com E.coli na Holanda ainda seria menos plausível que na Espanha.
Refiro ainda que, mesmo em Espanha o sistema de tratamento da água é, hoje em dia, vulgar, tal como em Portugal.

Uma vez mais, a E.coli não conseguiria entrar em contacto com os pepinos via rega.

Unknown disse...

Agradeço o comentário. Não é minha intenção contribuir para qualquer alarmismo, antes pelo contrário.
Se a rega fosse como diz e os pepinos lavados com água tratada não havia E.coli, e há.
Nasci numa veiga onde a água de rega vai do açude no rio para os terrenos por canais, e depois para o solo, sem qualquer tratamento; a montante há uma cidade (espanhola)que anda há pouco tempo a construir ETARs para tratamento das águas de uso doméstico que vão para o rio. As investigações dirão o que se passou. A verdade é que há quem passe os produtos agrícolas por água de rios e lagoas das suas explorações e outros que até os passam por ozónio. Os consumidores não sabem se o que compram vem de locais com práticas antiquadas e incorrectas ou de explorações modernas, portanto o mais avisado é não confiar. O E.coli quando existe está na superfície dos alimentos, se não forem de descascar têm de ser bem lavados, e sendo de descascar também, para não passar a contaminação para a polpa, é o que se faz cá em casa.
Tem razão, os pepinos são mais difíceis de contaminar, outros produtos (como os rabanetes que enfeitam os pratos cortados em flor) são mais propícios. Aconteceu, tire-se lições disso e aproveite-se para aumentar a higiene.
Se a gripe A serviu para aprender a lavar as mãos, talvez o conhecimento do E.coli leve a que lavem em casa os produtos agrícolas que se consomem crus.
Não esqueçamos que temos um ditado perigoso, " o que não mata engorda".

PM disse...

Só digo que, antes de se tirarem conclusões precipitadas como, claramente os jornais e as autoridades de saúde alemãs tiraram, ao apontar imediatamente culpados, se deve estudar bem o caso.
As vítimas da E.coli não surgiram só este ano na Alemanha. No ano passado pelo menos 3 crianças foram noticiadas como tendo sido infectadas por esta bactéria e não se ouviu falar…
Este ano, pelo menos uma vítima (uma atleta espanhola que esteve na Alemanha) não comeu pepino, mas sim tomate.
Também já foram detectados na Alemanha indícios de E.coli em pepinos de outras origens.
Ora uma coisa é certa: se os pepinos têm múltiplas origens geograficamente distantes, incluindo de diferentes países (Espanha e Holanda para já), e são produzidos tanto em agricultura biológica como em agricultura convencional, pela lei das probabilidades, é muito pouco provável que a E.coli tenha aparecido ao mesmo tempo em cada um dos vários locais de produção.
O que isto nos diz é que a E.coli pode ter infectado estes produtos que foram colocados num mesmo local de venda, o mercado central de Hamburgo.
No caso do rio que refere, onde usam a água para rega, caso ela, esperemos que nunca, venha a ficar infectada com E.coli, os primeiros a ficarem doentes serão os próprios agricultores com o manuseamento dos produtos lavados nessas águas.
Tal facto não se verificou em nenhuma das explorações espanholas e holandesas.
Concordo plenamente consigo quando refere que estes casos servem, pelo menos, para alertar as pessoas para as boas práticas de higiene alimentar e pessoal. Todo o cuidado é pouco.
Por outro lado, espero que as pessoas não fiquem com a ideia de que os produtos agrícolas e a agricultura são focos de contaminação e de risco para a saúde pública. Especialmente num período extremamente complicado para o nosso país, seria ruinoso ter uma atitude de “pé atrás” para com o sector primário, que é o que maior potencial tem para o melhoramento da saúde económica de Portugal.
O perigo de contaminação está na fonte da bactéria e não no produto contaminado em si. E é a fonte que tem de ser detectada o quanto antes, caso contrário, qualquer produto continuará a ser contaminado assim que chegar à Alemanha.

Carlos Mesquita disse...

Obrigado caro PM, vai permitir-me precisar dois pontos.
Apesar de viver a 500 km de onde nasci, é lá que adquiro muitos dos produtos da terra, como a cebola para todo o ano, a batata etc. não trocamos o pimento do Cambedo ou o tomate coração de boi (de lá) por nada do mundo, ou a couve penca, até o centeio para fazer pão vem da "terra".
Sem dúvida que temos de apostar no sector primário, e deste, na agricultura essencial para substituir importações.
A nossa balança alimentar é estupidamente deficitária, por erros capitais dos sucessivos governos e as famosas contrapartidas europeias.
Estes acontecimentos levam os agricultores a tomarem cuidado, o que é bom. Mas é na confecção dos alimentos, em casa, que decisivamente impedimos contaminações; é o alerta que nunca é demais repetir. Os produtos hortícolas devidamente lavados são fonte de saúde e não constituem perigo.
Sobre o E.coli, sabe-se que é natural no intestino humano e que são as estirpes diferentes, de outros individuos, que provocam as intoxicações naqueles que não têm anti-corpos para essa variante. Não vi referido neste caso, mas a circulação de pessoas pelo globo está a disseminar tipos de bactérias que antes não eram tão facilmente espalhadas, ou seja apanham-se "diarreias de turista" sem sair do país.
A solução é lavar frequentemente as mãos, os utensílios de cozinha, e os produtos que se vão consumir.
Não há razão para deixar de comer alimentos frescos e crus se forem tomadas essas precauções.