sábado, 7 de julho de 2012
Eleições na Líbia - 7de Julho. Que democracia?
As eleições na Líbia não são comparáveis com as da Tunísia ou do Egipto. A Líbia perdeu a unidade política com o derrube de Kadhafi e está instalado o caos em todo o território; mesmo em Benghazi (berço da rebelião contra o anterior regime) foi atacada o mês passado, uma coluna de veículos da embaixada britânica e noutra operação foram detidos funcionários do Tribunal Penal Internacional (só libertados com intervenção do Conselho de Segurança da ONU).
Já esta semana, também em Benghazi, cerca de 300 homens armados invadiram a sede da Comissão Eleitoral de Eleições, onde destruíram material informático, urnas e outros materiais para a votação, enquanto no sudeste líbio o líder dos Toubus (clicar aqui/artigo sobre os Toubus) declarava ir boicotar as eleições. Ainda ontem, entre outros incidentes, foi abatido um helicóptero que transportava material eleitoral e foram suspensas por milícias armadas todas as operações no principal porto petrolífero da Líbia (Ras Lanouf).
Não há condições mínimas para realizar eleições na Líbia mas parece que isso não é importante. A ideia não é acabar com o caos, mas apenas dar-lhe algum ordenamento, no fundo definir melhor o terreno. Com esse propósito as eleições são uma primeira amostragem onde as verdadeiras forças políticas vão evoluir.
As eleições foram manipuladas na própria concepção, pelo que não resultará nem um simulacro de democracia representativa. Centenas de partidos e organizações políticas congregados em algumas frentes eleitorais e milhares de independentes (muitos deles falsos independentes promovidos e apoiados às claras por partidos) vão disputar os 200 lugares do Parlamento.
Em 6 milhões de habitantes, estão inscritos para votar 2,7 milhões. Dos mais de 4.000 candidatos a Comissão Eleitoral considerou elegíveis 2.501 independentes e 1.206 de grupos políticos. 120 lugares são para os independentes (!?) e 80 para os agrupamentos políticos.
Por “razões demográficas” 100 lugares são para o oeste com mais população, 60 para o leste e 40 para o sul, mas inventou-se um sistema de votação para a futura Assembleia que impede o voto representativo; as aprovações serão por maioria de dois terços, para que o oeste da líbia nunca tenha a maioria.
Com este sistema, em que o CNT não permite a repartição equitativa dos lugares do Parlamento, confessa-se a real divisão líbia. Trata-se de uma manipulação (de sinal contrário ao caso grego em que o vencedor tem mais 50 votos) que vai no sentido de impor (!) a ingovernalidade. Esta situação não é aceite hoje e será mais um factor contra a pacificação após as eleições.
Sem sondagens, a comunicação social árabe “elegeu” 3 partidos como principais. Dois islamitas, o Partido da Justiça e Construção e o Al-Watan (Partido da Pátria - salafista), o primeiro é a Irmandade Muçulmana, o segundo do ex-chefe militar de Trípoli Abdelhakim Belhaj. O outro agrupamento (Aliança das Forças Nacionais) é uma coligação dita liberal, promovida pelo ex-primeiro ministro do CNT Mahmoud Jibril.
Admite-se que também com o truque dos independentes apoiados pelos partidos, os islamitas possam ter a uma maioria no Parlamento. No entanto o verdadeiro poder político continuará nas tribos que defendem os interesses regionais com a legitimidade histórica e armas pesadas.
Que democracia resultará de eleições numa Líbia mergulhada no caos generalizado, sem exército unificado e um modelo de poder político importado (mal) e aplicado sem ter em conta a realidade física e histórica?
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1 comentário:
Aí está o resultado da invasão da Líbia pelos "democratas " imperialistas Europeus e norte Americanos , com a participação do seu braço armado a NATO....
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