sexta-feira, 20 de julho de 2012
Morreu o historiador José Hermano Saraiva.
Morreu o homem, ficam os livros e os vídeos dos seus programas. Ao vê-lo e ouvi-lo, lembrava-me sempre o meu pai, a mesma idade e a mesma lucidez na idade avançada.
O desaparecimento do historiador, do homem público e excelente comunicador deixa saudades.
Durante uns dias falar-se-á da História de Portugal.
Vai decerto ser homenageado também por aqueles que tiraram os feriados do 5 de Outubro e 1º de Dezembro…coisas da fraca e minúscula história.
(Para ver últimos posts clicar em – página inicial)
Etiquetas:
carlos mesquita,
História de Portugal.,
José Hermano Saraiva,
Livros
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
7 comentários:
A mim, criaturas que consideram Salazar um "santo" (coitadinho, não devia saber que no país em que "ditava" havia PIDE, tortura, assassinios oficiais, censura prévia, Tarrafal e outras bênçãos mui santas...) são sempre fascistas, vivos ou mortos.
Historiador é quem investiga, estuda, aprofunda o conhecimento do passado; não quem confunde lendas tradicionais (algumas assaz parvas) com factos históricos e como tal as divulga, aproveitando a sua veia histriónica: é ver a "consideração" que o Prof. Hermano mereceu dos historiadores sérios e a sério, nacionais e estrangeiros.
Gente culta não pode ter medo da Liberdade, da Democracia, do debate livre de censuras; não pode perseguir estudantes, enquanto "Ministro da Educação" (da quê?!)...
Não vou ter qualquer saudade do senhor, nem das suas espectaculares tolices, tomadas por "boa comunicação" pelos distraídos, que olham as coisas superficialmente e se entusiasmam com o falatório torrencial, confundindo-o com sabedoria e cultura sólidas...
"Peccato"...
Apoiado, Paulo!
Augusta Clara
O Paulo (e a Augusta) podia ter ficado por dar a sua opinião sobre o personagem e “informar” que fez parte dum governo de Salazar, coisa que não achei necessário, mas resolveram censurar quem não valoriza o mesmo que eles. José Hermano Saraiva era salazarista, foi um mês ministro com Salazar e com ele ministro ocorreu a crise académica de 69.
A sociedade portuguesa não levou aos tribunais nem a PIDE, não estou disponível para julgar o fascismo na figura de JHS, muitos políticos do regime anterior integraram-se na democracia e nos seus partidos; tivesse JHS aderido ao PS, como Veiga Simão, e os guardiões do (verdadeiro) anti-fascismo estariam mais calmos. Não precisou e não representou qualquer perigo no resto da sua vida.
Tenho lido gente que nem era nascida a defender a memória da luta estudantil contra a ditadura, em 1969, quando, por exemplo, o ex-presidente Jorge Sampaio (entre outros democratas) dirigente estudantil destacado na crise académica de 62, elogia nos nossos tempos Hermano Saraiva. Eu que fui militante anti-fascista na ditadura e sou todos os dias, vejo mérito no trabalho de JHS como divulgador da História de Portugal, ficção fazem todos, ele não escondia.
O Paulo fala na opinião de “historiadores sérios” sobre JHS, mas o que todos sabemos é que foi distinguido pela Academia Portuguesa de História. Podemos dar mais autoridade aos “sérios” que à Academia mas é um “não-assunto”.
A propósito uma estória. Para ajudar num trabalho escolar, tive de ler uns notáveis historiadores no activo cuja obra é matéria curricular; confirmei algo de que se queixava o próprio JHS, situações que eu vivi no PREC, que conheço melhor que quem escreveu sobre elas, estão descritas de forma errada e tendenciosa, puras invenções.
As deturpações dos factos de hoje são as fontes dos futuros historiadores, se é assim na sociedade de informação de agora, imagine-se o que é identificar as fontes verdadeiras ou corrompidas da Idade Média.
Não alinhava antes nem alinho agora com quem entende que os inimigos políticos devem ser proscritos. Amigos que foram alunos de JHS gostaram dele, os seus programas não tornam ninguém menos culto, nem a leitura de Adriano Moreira ou qualquer outro intelectual do regime anterior, a sabedoria não é património da esquerda e ainda não foi inventado um culturímetro para aferir se quem fala de alto está na sua posição.
Pois, foi precisamente sobre o personagem que dei o meu "Apoiado". Porque a imagem mais marcada que tenho dele - e nem me lembro de quanto tempo foi ministro, vê lá! - é a de dentes arreganhados contra os estudantes na televisão. Não sei se era bom ou mão historiador, não tenho competência para isso nem estou nessa.
Augusta Clara
O que me afasta de JHS é: 1) Não lhe reconhecer sequer a dimensão intelectual de um Adriano Moreira, que evoluiu, democratizou-se e até escreve sobre os perigos das "soluções prá crise " dos medíocres e desnorteados da UE. 2) A sua fé fascista. Porque: ou era estúpido e achava que o "santinho" desconhecia a existência da PIDE, torturas, assassínios, perseguições a quem pensava de modo diferente e se opunha ao "bem da Nação", que - por mero acaso... - coincidia com a doutrina fascista; ou era inteligente e culto, mas aceitava como bom e apoiava esse rol de iniquidades. Opiniões diferentes das minhas, incluído de pessoas que repudiaram doutrinas tão nauseabundas como a que oprimiu o País durante 50 anos nunca me merecerão hostilidade, apenas a oposição, civilizada mas firme, a acções ou opiniões que considere erradas. Mas um fascista despoja-se a si próprio de dignidade, não a reconhecendo nos outros e aceitando a opressão como "natural e inevitável" face ao "bem maior" da nação... deles. Não me comovo por fazerem algo de bom: só se deixassem de concordar com as doutrinas primitivas de Franco, Pinochet e outros sanguinários ditadores e suas repelentes actuações. O JHS condenou o assassínio de Allende, os "aviões da morte", o roubo dos filhos de democratas assassinados? Não creio... Não perdoo fascistas, vivos ou mortos, e não me desculpo por isso: não por "terem opiniões diferentes", mas por violarem os direitos humanos fundamentais, incluindo o de ter opinião e a manifestar. Aqui, não sou minimamente tolerante. Estes sujeitos desprezam a dignidade humana, apesar das falinhas mansas, e nunca esqueço Brecht: "levaram o meu vizinho judeu, mas como não sou judeu não me preocupei"... até à conclusão bem conhecida. O facto de uns srs. mui conhecidos serem mais tenrinhos de coração não me comove nem me demove dos meus princípios. JHS era orgulhosamente fascista. Como tal, nunca me mereceu a menor consideração. Como nunca ma mereceram os que fingem que deixaram de o ser ou "nunca foram... quem? eu!? "...
Nem o facto de, por interesses de políticos (e de alguns militares, inclusive do MFA) bem conhecidos, os responsáveis fascistas e os pides nunca terem sido condenados judicialmente, como mereciam, por crimes contra a humanidade, inibe ou invalida as minhas opiniões sobre essa gente - era só o que faltava! Agora, quando dizes que JHS teria (ainda) melhor "aura" se tivesse aderido ao PS (ou PSD, ou CDS), tens toda a razão! Porém - gand'azar! -, não pertenço a, nem apoio essas organizações. Também não sou "guardião do anti-fascismo", verdadeiro ou falso: sou, simples mas intransigentemente, anti-fascista. Basta leres alguns comentadores (o próprio AM) ou a crónica do Pedro Marques Lopes, gestor, no DN de hoje, p.e., para verificares que não sou só eu que penso que o "ovo da serpente" está de novo a ser chocado e por quem se diz "democrata". Mais duas notas: os "historiadores a sério" conhecem bem os cuidados a ter com a fidedignidade das "fontes", de qualquer época; "notável" não é sinónimo de "sério": por isso a História é uma das áreas do conhecimento em que a seriedade é rara, porque mantê-la dá muito trabalho.
Paulo, o que eu digo é que não vou julgar o fascismo na figura de JHS, dar mais importância ao seu papel no regime do que realmente teve é reescrever a história. Se julgarmos a repressão pela intervenção policial nas crises académicas teríamos JHS o mau da fita e Marcelo Caetano um democrata de gema. Marcelo demitiu-se de reitor da Universidade de Lisboa em 1962 por causa da repressão policial contra os estudantes.
Ora Marcelo, para além de salazarista e seu continuador (só mudou o nome à PIDE) foi um teórico do regime, criador da doutrina corporativa, redactor do Estatuto do Trabalho Nacional que acabou com os sindicatos e da Constituição Fascista de 1933 para além dos cargos conhecidos. Os seus ministros sabiam, como JHS, da existência da PIDE (DGS), alguns são actuais militantes de partidos democráticos, Veiga Simão, que foi o melhor na educação até agora, é do PS, como Silva Pinto (ex-ministro das corporações) que ainda antes de ontem deu uma extensa entrevista ao jornal i.
Se me permites apontar uma contradição na tua intransigência anti-fascista, não se percebe o teu perdão a Adriano Moreira e não a JHS. Como se pode acusar JHS de ser ministro de um governo que tinha o Tarrafal e desculpar o ministro que reabriu o Campo de Concentração do Tarrafal? Foi Adriano Moreira que reabriu o Campo do Tarrafal em 1961; tinha sido encerrado após a segunda guerra por pressão dos Aliados. Abriu primeiro para encerrar os sindicalistas do 18 de Janeiro de 1934 e da segunda vez com o nome de “Campo do Chão Bom” para encarcerar os militantes anti-coloniais.
A história é tramada, e era o interesse pela história que JHS promovia ao grande público na televisão. Adriano Moreira também terá quem vá pôr uma bandeirinha no seu passado, agora não é contestado como JHS não foi em vida.
E afinal, Rosa Casaco morreu em Cascais há meia dúzia de anos, sem ninguém o importunar, apesar de ter uma pena de oito anos para cumprir.
Numa coisa estamos de acordo, os fachos estão a voltar ao poder, penso aliás que é sobre esses que devíamos debruçar-nos. A melhor forma não é fulanizar o passado, mas antes perceber as evoluções históricas, por isso tenho chamado a atenção para a forma como os partidários de Pinochet voltaram ao poder por meios oferecidos pela democracia chilena, esse processo é mais similar ao que se passa hoje em Portugal, que um regresso ao passado com os mesmo padrões que nós vivemos antes do 25 de Abril
Carlos,
Não se trata, em relação a Adriano Moreira e outros, de "perdoar", mas antes de ter sempre presente o maior número possível de dados sobre qualquer questão. Por acaso, quando mudei de jornal diário, porque o Público "passou das marcas" (de ignorância e estupidez), num determinado dia, num daqueles impulsos praticamente irrevogáveis que me acontecem de vez em quando, passei a ler, no "DN", as crónicas do AM, com as quais muitas vezes não concordo, mas que, em geral, demonstram que ele mudou o seu modo de encarar o mundo. Portanto, sem falar de perdão ou esquecimento de coisas que não se podem perdoar nem esquecer, seria idiota negar que as análises e preocupações que expõe vêm, com frequência, ao encontro das minhas próprias, o que é significativo da sua evolução e se contrapõe à imutabilidade do JHS. E, se há diferenças (e há, até a outros níveis, mas não quero complicar...), não podemos tratar de igual modo o que diferiu.
De resto, a zanga com o Público não fez com que mudasse para um jornal melhor (o que mais me irrita, no Público, é que já foi, de facto, ao tempo da sua fundação e do Vicente Jorge Silva e sua equipa, o, aliás único, “jornal de referência” do País, tendo-se abastardado irremediavelmente com o José Manuel Fernandes): qualquer deles, globalmente, é mau - das insuficiências jornalísticas às de português -, como acontece com quase tudo, hoje em dia. O DN até dá, aos sábados, nem percebo porquê (mas suspeito de mais uma manifestação de complacente imbecilidade dos seus responsáveis), uma página inteira a um fascista, que se pensa mui democrata... mas elogia Pinochet! De resto, o que se pretende é que não pensemos... Aliás, ainda hoje, o João Lopes (das coisas boas que ganhei com o DN) frisava que, no meio do que a idade lhe levou, estava a "virtude cristã" da paciência com a estupidez, no que coincide com uma das minhas principais "perdas"... Isto a propósito de algo muito importante, que é a conotação depreciativa de que a palavra "intelectual" foi sendo impregnada (não inocentemente), como se o saber, a cultura e a capacidade de pensar fossem defeitos, em vez de virtudes a cultivar e desenvolver. Não é raro, precisamente, acusarem-me de que "intelectualizo" tudo: só que ninguém consegue demover-me de pensar, o que, modernamente, não sendo proibido por lei, se tornou, na prática, socialmente condenável... O que é mais um aconchego para o choco do "ovo da serpente"! Cuja eclosão há que impedir, a todo o custo.
Enviar um comentário